Uma economia de guerras permanentes

A China nunca invadirá Taiwan. A não ser que o ‘lado negro da América’ a obrigue.

1. Os EUA têm 900 bases militares espalhadas pelo mundo. Taiwan é uma delas e perfeita.

Começaram desde 1948 a instalar bases no estrangeiro. Primeiro no hemisfério Norte (antes na América Latina, aliás, que consideraram feudo seu), e que, num ano, Th. Roosevelt dominou. E no Sul, onde foram podendo entrar, com qualquer pretexto e por qualquer meio. Foi o início do grande negócio. Têm hoje 900 bases semeadas pelo Planeta. Para difundir e defender os ideais de liberdade e de democracia… acham?

É o espírito evangelizador protestante levado pelos fundadores anglo-saxónicos do Mayflower, caçadores de índios e de mexicanos, ávido de levar todos os povos do mundo para o lugar certo da História, mesmo os que não queiram ir.

O mesmo evangelismo que inventou e nos envia agora o identitarismo, o sexismo, o racismo estrutural e outros delírios em que se está a dissolver a civilização ocidental. 

Taiwan é uma dessas bases, perfeita por lhes justificar a presença e a intervenção, onde nada justifica que estejam e intervenham. Pronta para cumprir no Extremo Oriente o papel que hoje os ucranianos foram levados a cumprir na Europa: permitir à potência hegemónica a guerra indireta (sem vítimas próprias) ao que lhes contraria os desígnios.

Taiwan, que as circunstâncias históricas e o espírito chinês lhes ofereceram. 

De facto, a China poderia ter evitado a situação de hoje em 1949, quando Lin Piao expulsou do Sul da China as tropas do fascista Chiang Kai- shek, libertando o país da presença e da interferência estrangeira. Militarmente não seria possível oposição – e a Declaração de 1952, quando ficou resolvida a questão da ocupação japonesa da Manchúria, da… Formosa e de outros pequenos territórios, legitimaria a ação. 

Mas lembremos a História, isto é, mostremos o incumprimento ocidental dos compromissos e, pelo contrário, o respeito milenar da China por eles – que é civilizacional, com raiz no pensamento fundador (na filosofia, dizemos nós, pois eles não têm o termo, que é grego e indo-europeu).

Durante a II Guerra Mundial e face às ocupações japonesas, Chiang Kai-shek, na altura representante da China, Churchill e Roosevelt reuniram-se no Cairo, em fins de 1943, e foram inequívocos: os territórios ocupados pelo Japão, como a Manchúria, Taiwan e outros deviam voltar ao controlo da China, no final da guerra. Declaração do Cairo, de 1 de dezembro de 1943.

Acontece, porém, que nessa altura o governo da China não era do Partido Comunista Chinês, mas de um general que o poder americano controlava.

Depois da formação da República Popular da China, em 1949, Chiang Kai-shek foge para Taiwan e declara a independência da ilha, sob o nome de República da China. E os Estados Unidos, claro, negando o compromisso do Cairo, reconhecem a pequena ilha de Taiwan como único representante da grande China. 

E começaram a fazer de Taiwan um arsenal e a incitar nos refugiados vencidos um discurso agressivo. Kissinger, a propósito desta afirmação, refere: «Para Washington, a China com a capital em Pequim era uma não-entidade»; e sabe-se como com Nixon preparou, com Chou-En-Lai e a aprovação de Mao, a resolução da questão (ver o meu artigo anterior). Mas Nixon, que abrira a China e a separara da URSS, teve de abdicar. Não há coincidências. A estupidez da senhora Pelosi, a fazer o contrário, também não é um acaso.

2. Foi um bálsamo ouvir e ver a entrevista de Fareed Zakaria ao Senhor Mark Liu, presidente da TSMC, a fabricante de semicondutores de Taiwan (GPS, CNN, 7/8), e constatar a sua serenidade e tranquilidade reconfortantes. Por favor, deixem os chineses resolver a sua vida, em paz. O senhor Xi Jinping, se durar, são mais cinco anos. A China tem 5 000.

A China nunca invadirá Taiwan. A não ser que o ‘lado negro da América’ a obrigue. (Por isso o brincalhão do Senhor Biden disse ontem, galhofeiro, achar que a Direção chinesa não irá mais longe na reação (!!!).