A herança de Carlos III

Após a morte da sua mãe, a Rainha Isabel II, Carlos herdou o trono mas também a sua fortuna privada, um património colossal que receberá sem ter de pagar o imposto sucessório, um privilégio reservado aos herdeiros reais. Mas, afinal, de quanto estamos a falar?

É possível que, uma das primeiras coisas que nos interrogamos quando morre um monarca, seja: Qual será a sua fortuna? Ou: Quantos zeros aparecerão no extrato da conta bancária? Ou ainda: Quanto valem todos os bens que adquiriu? 

A Rainha Isabel II morreu no princípio do mês, aos 96 anos e, segundo o jornal britânico The Sunday Times, era dona de uma fortuna pessoal avaliada este ano em 370 milhões de libras, cerca de 427 milhões de euros, «mais cinco milhões do que em 2021». Por isso, o Rei Carlos III (seu sucessor), herdou da mãe não só o trono do Reino Unido, como uma fortuna pessoal, «que receberá sem pagar imposto sucessório, num privilégio reservado às transmissões reais». A maior parte desta riqueza passará para Carlos sem que o governo britânico receba uma única libra.
De soberano para soberano

De acordo com a CNN, no Reino Unido, a herança de bens com valor a partir de 325 mil libras, ou seja, 373 mil euros, está sujeita a um imposto sucessório de 40%. Contudo, Carlos III não terá de entregar esse valor às finanças do reino, graças às regras aprovadas em 1993 – que dão tratamento de exceção ao herdeiro da coroa no momento em que recebe o património pessoal do anterior monarca. Segundo essas regras, os bens passados de um soberano, ou do consorte de um soberano, para o próximo monarca «estão isentos de imposto sucessório». Além disso, as regras estabelecidas num memorando de entendimento do governo de 2013 asseguram também «que o monarca tenha o seu próprio dinheiro privado e, portanto, a sua independência financeira em relação ao Estado».

Da fortuna de Carlos faz parte património como o castelo de Balmoral, na Escócia, (onde Isabel II morreu e que é o destino de verão da família real britânica); a residência de Sandringham, na Inglaterra, passa a propriedade privada do monarca britânico, sendo conhecida como o local onde a família geralmente celebra a passagem do ano. Além disso, Isabel ll possuía uma grande carteira de ações e ainda uma coleção de selos reais estimada em 100 milhões de libras, cerca de 115 milhões de euros, segundo noticiou o The Times, no ano passado. As célebres joias da coroa britânica que estão avaliadas em cerca de três mil milhões de libras, cerca de 3,5 milhões de euros, passaram também de forma automática para o seu sucessor.

Carlos III herda também o Ducado de Lancaster – propriedade real desde a Idade Média –, que gerou 24 milhões de libras, cerca de 27 milhões de euros, em receitas privadas para o monarca britânico no último ano fiscal. O Ducado de Lancaster reuniu a herança privada dos reis britânicos durante seis séculos. De acordo com o El País, o seu principal objetivo é proporcionar aos monarcas uma fonte de rendimento independente do subsídio soberano, a rubrica orçamental disponibilizada pelo Estado para as suas funções oficiais. Apesar disso, com a subida ao trono, Carlos perde o Ducado de Cornualha, que pertence ao filho mais velho do monarca britânico e que gera cerca de 21 milhões de libras, cerca de 24 milhões de euros, por ano.

A tudo isto, será acrescentada a fortuna privada de Carlos, avaliada em cerca de 100 milhões de dólares.
Segundo a CNN, Carlos vai receber também uma «subvenção soberana» anual do Tesouro britânico, fixada em 15 por cento do rendimento do património da Coroa e que para 2021-2022 alcançou cerca de 100 milhões de euros, contando com uma fatia extra de mais de 34 milhões de libras, cerca de 40 milhões de euros, para renovação do Palácio de Buckingham, em Londres. Essa subvenção soberana é utilizada «para financiar despesas relacionadas com a representação oficial do chefe de Estado ou membros da sua família», incluindo salários do pessoal, manutenção e limpeza dos palácios, viagens oficiais e receções.

Além disso, ficará também com a carteira da Crown Estate – um maiores impérios imobiliários da Europa – que inclui propriedades comerciais, incluindo imóveis em localizações privilegiadas no centro de Londres, terrenos rurais e costeiros em todo o país e ainda as águas em redor de Inglaterra e do País de Gales.