Hollywood. O “descancelamento” de Kevin Spacey

Afastado da ribalta e dos grandes papéis depois de ser acusado de assédio, Kevin Spacey foi ilibado por um tribunal dos Estados Unidos. E começa a regressar

Acusado, em 2017 de abuso sexual pelo ator Anthony Rapp, quando este tinha apenas 14 anos, Kevin Spacey foi um dos primeiros homens poderosos a ser derrubado pelo movimento #MeToo. Cinco anos depois, o ator foi ilibado das queixas, depois de um júri ter rejeitado a ação civil, por falta de provas.

Rapp, que pedia uma indemnização de 40 milhões de dólares, acusava Spacey de se colocar em cima dele e de colocar a mão na sua virilha, até o jovem conseguir libertar-se.

Em tribunal, o advogado Richard Steigman pediu aos jurados que castigassem Spacey pelos avanços sexuais realizados contra o, então, ator menor de idade no apartamento do homem que ganhou dois Óscares, em Manhattan, em 1986, depois de uma festa, acusando ainda Spacey de mentir no banco das testemunhas.

Nos argumentos finais, Steigman disse aos jurados que deveriam concluir que Spacey mentiu quando insistiu que o encontro não poderia ter acontecido.

“É incoerente. Não é digno da vossa confiança”, disse sobre as falhas de memória de Spacey e mudanças no depoimento sobre o que aconteceu, citado pela Reuters, enquanto a advogada do acusado, Jennifer Keller, acusou Rapp de “criar uma história” e partilhar a sua experiência “por simpatia, atenção e para aumentar o seu perfil”, afirmando ainda que este tinha ficado “invejoso” do sucesso que Spacey atingiria.

Rapp contou que conheceu Spacey no circuito da Broadway, em 1986, numa altura em que atuava com Ed Harris no musical Precious Sons e Spacey fazia parte do elenco de Long Day’s Journey Into Night, de Jack Lemmon.

A advogada de Spacey argumentou que era possível que Rapp tivesse inventado o abuso sexual de Spacey, que na altura tinha 26 anos, com base na sua experiência neste musical, uma vez que, numa das cenas, Harris pegava no ator e deitava-se em cima dele, confundindo-o brevemente com a sua esposa antes de descobrir que se tratava do seu filho.

Depois de deliberar durante 90 minutos, o juiz Lewis Kaplan “rejeitou a alegação de agressão de Rapp antes do início do julgamento e rejeitou a sua acusação de inflição intencional de sofrimento emocional depois dos advogados de Rapp encerrarem o seu caso, deixando o júri decidir apenas a alegação de agressão”, cita a ABC, acrescentando ainda que “sob a lei de Nova York, a agressão é tocar outra pessoa, sem o seu consentimento, de uma forma que uma pessoa razoável consideraria ofensiva”. O júri considerou que a acusação

De “cancelado” a ilibado Na altura em que o caso “explodiu”, Spacey estava numa das melhores fases da sua carreira, protagonizando House of Cards, no papel do icónico Frank Underwood, uma performance que mudou a história da televisão moderna, influenciando muitos outros atores de grande perfil a levarem os seus talentos para séries televisivas, e surgindo também no elenco do filme Baby Driver, de Edgar Wright.

Depois de serem conhecidas as acusações, Spacey lançou um comunicado onde dizia que não se lembrava destes acontecimentos, mas aproveitou para pedir desculpa pelo seu “comportamento inapropriado enquanto estava bêbado” (revelando também neste texto que era homossexual).

Nos anos seguintes, o ator viveu de uma forma relativamente reclusa, salvo para umas “crípticas” mensagens que partilha anualmente no seu instagram, assumindo a personagem de Frank Underwood, e continuou a surgir em longas metragens, mesmo que fossem de menor dimensão. Tem na calha a estreia de filmes como Gore, onde interpreta o papel do escritor e político norte-americano Gore Vidal, ou L’uomo che disegnò Dio, um filme realizado por Franco Nero (ator italiano que interpretou o papel de Django no filme de 1966 com o mesmo nome) e que conta ainda com a lendária atriz Faye Dunaway.

Agora que o Tribunal Federal de Manhattan concluiu que não foi dado como provado que efetivamente ocorreu uma agressão sexual, Spacey poderá, paulatinamente, regressar a projetos de maior fôlego e visibilidade.

 

As histórias chocantes de Depp & Heard

Quem também passou por um longo e mediático processo no tribunal foi Johnny Depp. Na sequência da acusação de violência doméstica contra a sua ex-mulher, Amber Heard, o ator perdeu dois dos seus papéis mais rentáveis, Jack Sparrow, na saga Piratas das Caraíbas e Gellert Grindelwald, em Monstros Fantásticos.

Depois de várias histórias chocantes, que incluíam Heard alegadamente ter defecado na cama do casal, o júri, constituído por sete pessoas, declarou a atriz culpada no caso por difamação, dando assim razão ao ex-marido, que teve direito a uma indemnização no valor de 15 milhões de dólares.

 

De Kobe a Ronaldo

Já no domínio do desporto, um dos casos de abuso mais mediáticos envolveu o falecido Kobe Bryant. Em 2003, o basquetebolista foi acusado de violar uma funcionária de um hotel, de 19 anos, no Colorado, Estados Unidos. Chegou a ser detido pela polícia de Eagle County, acabando por ser libertado depois de pagar uma caução de 25 mil dólares.

A acusação criminal acabaria por cair por terra, em 2005, depois de a vítima se ter recusado a testemunhar, mas ambos assinaram um acordo financeiro extrajudicial, cujos detalhes nunca foram revelados.

Kobe nunca confessou ter efetivamente violado a jovem, afirmando que o caso entre os dois foi consensual, mas, em tribunal, acabou por pedir desculpa à vítima.

Outro dos casos mais famosos e controversos foi a acusação da modelo Kathryn Mayorga a Cristiano Ronaldo, acusando o futebolista de a ter violado, num hotel em Las Vegas.

Apesar do atleta ter confessado que a jovem teria dito “não, não faças isso”, enquanto tinham relações sexuais, a juíza norte-americana Jennifer Dorsey decidiu arquivar a ação judicial contra Ronaldo, afirmando que existiam irregularidades nos documentos que a equipa jurídica da modelo apresentou em tribunal.