Campismo: “A Ericeira, para mim, morreu!”

Tal como muitos outros perto da costa, o Parque de Campismo da Ericeira vai encerrar para obras. Objetivo? Construir um Parque Verde. Centenas de utentes contestam a decisão. Não têm outro lugar onde viver.

Apesar das temperaturas estarem baixíssimas, por momentos o sol de inverno faz-nos ter um vislumbre daquilo que provavelmente nos espera daqui a uns meses. Estamos na Ericeira, concelho de Mafra, e, apesar de ser lugar comum dizer que Portugal é um país à beira-mar plantado, o passar dos anos tem vindo a provar que o país é cada vez mais um ponto obrigatório nos mapas daqueles que procuram um local para respirar o mar.

Por norma, quando pensamos em vilas pequenas como esta, a sensação que impera é a de paz, já que, além do som do cenário azul, quase só se ouvem as gaivotas. Contudo, o ano de 2023 veio alterar esse quadro de tranquilidade depois do Parque de Campismo da Ericeira ter anunciado «tardiamente» que irá encerrar para obras até ao verão e, por isso, que os utentes têm até ao final de abril para retirar os seus equipamentos. Situação que, há uns anos, tem-se alastrado por diversos outros pontos da costa, depois de grandes empresas estrangeiras terem comprado parques de campismo.

No dia 6 de janeiro, segundo os campistas, «poucos dias depois de ter terminado o contrato», a Câmara de Mafra, no distrito de Lisboa, informou que os utilizadores, com tendas, caravanas, ‘mobilehomes’ (casas-móveis) ou outros, teriam de retirar os seus bens até ao final de fevereiro, para o parque encerrar em março para obras. Mas só uma semana depois os utentes foram notificados por carta registada. Felizmente para essa meia centena de utentes, numa reunião realizada na quinta-feira entre a autarquia e o advogado que os representa, o prazo para a retirada dos equipamentos foi alargado até ao final de abril.

 

Sem perspetivas

Joaquim Canavelha é utente deste espaço há nove anos. Tem 81 e nunca na sua vida imaginou nesta idade «passar por uma situação triste assim». «Tenho uma caravana, uma cozinha e um salãozinho onde a gente normalmente come. Recebi a carta no dia 16 deste mês. É uma tristeza muito grande. Não sabia de nada. Aliás, para desgraça minha, tive uma pessoa em agosto que me quis comprar os equipamentos. Mas como uma das minhas filhas gosta de cá vir passar uns dias e queria usufruir das coisas nesse mesmo mês, disse ao senhor que só em outubro poderia voltar a falar em vendas.  Até porque tinha de pagar o contrato até ao final do ano. Devia tê-lo feito. Evitava esta tristeza toda», lamentou ao Nascer do SOL. Desde que tomaram conhecimento do encerramento do parque que os campistas têm vendido os seus equipamentos ao «desbarato». Com a ajuda das filhas e de um amigo que tem uma carrinha, já começou a retirar os seus equipamentos. «A ver se levamos o mais possível de coisas que significam muito para mim. O resto vai tudo para o lixo», revela Joaquim Canavelha.

A caravana é mesmo o pior, «porque agora com tanta gente que as quer vender, não dão nada por aquilo». «Agora vêm para aqui estas pessoas e dizem que querem construir um Parque Verde… Ninguém sabe o que é isso. Diz que haverá um espaço para as crianças, que vão colocar aqui umas casotas… Um pandemónio. A brincar a brincar já cá cantam 81 anos. Como é que se faz isto a pessoas desta idade?», interroga, afirmando já ter arranjado alguém que lhe empreste um terreno para colocar as coisas. «Estou tão baralhado a fazer coisas que normalmente não fazia. Não tenho cabeça para isto», frisa.

E está a olho nu. No estacionamento lateral à entrada, onde se encontrava o senhor Joaquim, do outro lado da rede que separa o campismo da via pública, já se vêem algumas das casas em cima de camiões que as retiram do espaço.

Encostado à sua carrinha, mesmo em frente ao mini-mercado do parque, Rui Ramos não parece nada satisfeito. «Tenho uma ‘mobilehome’ aqui há oito anos. Sabe como soube de tudo isto? Através de vizinhos. Não é uma vergonha? Não percebo por que não colocaram um papel na entrada para avisar as pessoas que não renovavam mais os contactos. Não sei como é que isto é legal. É verdade que se alargou o prazo para retirarmos as coisas. Mas, da mesma maneira, não afixaram aviso nenhum», exalta. No seu caso, «ainda não pensou numa solução». «Os transportes são caros, rondam os 2500 euros. E sítio para meter a casa? Tanto falo por mim como pelos outros. Não quero vender. As pessoas estão a vender a 10, 12, 13 mil euros coisas que custaram 50 mil. Eu vou ver… É até à última», admite, revelando não ter sítio para onde ir. A casa que comprou, em segunda mão, custou-lhe 25 mil euros… Com as obras que fez, segundo o mesmo, está avaliada em 40 mil. «Se não tirarmos as coisas até à data estipulada, eles ficam-nos com o material. Está escrito na carta. Não tem um terreno para nos salvaguardar, mas têm terreno para guardar os nossos materiais todos?», interroga o utente, revelando ainda que, antes de os avisar que tinham de sair «deixaram pessoas comprar casas».

Um senhor apressa-se para chegar ao carro. Com um sorriso na cara e uma folha de papel na mão, conta que acabou de comprar uma caravana a «um excelente preço». Comprou-a a um casal que está no parque há sensivelmente dois anos. «Mas há aqui pessoas que compraram ‘mobilehouses’ há alguns meses. Agora estão desesperadas a tentar vender tudo ao desbarato. A caravana que comprei foi a um preço mínimo. Outras pessoas estão mesmo a optar por doar as coisas para acelerar todo este processo, que segundo elas, está a ser bastante doloroso», acrescenta.

Também a chegar numa carrinha, outro utente, que pediu para manter o anonimato, alegadamente «pelas intimidações que tem visto por parte  da Câmara Municipal de Mafra», mostra a sua tristeza. É utente do campismo da Ericeira há três anos, vindo do Algarve. «Tenho aqui o meu material todo. Uma roulotte, o avançado, etc. A Ericeira, para mim, acabou na noite em que recebi a notícia. Morreu! Isto  já está programado há muito tempo, a prova é que retiraram o Sumol Summer Fest daqui», afirma, acreditando que  os responsáveis podiam «ter sido mais honestos». Felizmente, já arranjou sítio para onde ir. «Tive sorte. No sábado à noite tive informação de que isto estava a acontecer. Na segunda já estava a trabalhar para me desenrascar. O que está a acontecer aqui já está a acontecer em diversos parques pela costa. Estou aqui há 3 anos e por paixão. O campismo é uma forma de estar na vida. Estão a querer tirar-nos isso», garantiu. «Um parque verde? Verde já ele está…  Este bocado aqui parecia mal. Já viu a vista? Querem construir coisas de elite. Há muita gente que cá mora que bate palmas a isto tudo, mas esquecem-se que nós enquanto aqui estivemos, fomos uma fonte de rendimento para o município. Nós pagávamos 150 euros para aqui estar. Depois mais as despesas, mais a comida que compramos, os lugares que frequentamos… Realmente há pessoas que aqui moram, sei que isso não é uma coisa permitida por lei. Mas então porque é que o permitem? Só pensaram nisso agora?», acrescentou.

 

Câmara defende-se

Apesar de todas estas queixas, ao Nascer do SOL, a Câmara Municipal de Mafra garante que à data da deliberação municipal «nenhum dos utentes tinha contrato com o Parque de Campismo». Os contratos cessaram por caducidade em 31/12/2022, uma vez que «a duração dos mesmos é sempre limitada até 31 de dezembro do próprio ano da celebração», explicou, lembrando que o prazo de retirada de equipamentos foi alargada, tal como afirmavam os utentes. «Considera-se que, com este alargamento de prazo, estão criadas as condições para garantir a remoção em tempo útil. Ainda assim, caso se verifiquem situações devidamente fundamentadas (nomeadamente quanto às ‘mobilehomes’, seja por dificuldade de transporte, seja por inexistência de local de destino), poderá ser equacionada uma eventual prorrogação deste prazo, mediante análise caso a caso», sublinhou. Além disso, a autarquia explica que conforme consta dos contratos assinados, os espaços do Parque de Campismo «podem ser utilizados em períodos de férias e de lazer, mas não como residência permanente». Não obstante, caso os utentes careçam de apoio social, os mesmos deverão «sinalizar tal situação junto da direção do Parque, que articulará diretamente com os serviços de ação social do Município de Mafra».

Segundo a Câmara, a decisão tomada enquadra-se no exercício das competências municipais, fundamentando-se na «melhor prossecução do interesse público», com o objetivo de conjugar, no mesmo espaço e face à sua dimensão, duas valências distintas: por um lado, a criação de um Parque Verde Urbano, até agora inexistente na Ericeira, «congregando também variados equipamentos desportivos e de recreio, de modo a dar melhor qualidade de vida dos residentes»; por outro, a requalificação do Parque de Campismo, «reorganizando os espaços e renovando as infraestruturas, de forma a que a que o mesmo possa ser explorado com os padrões de qualidade». Tendo em conta tudo isto, garante a autarquia, «o encerramento temporário do Parque de Campismo é condição necessária para viabilizar os trabalhos de beneficiação e requalificação, pelo que, decorrendo tais trabalhos em época baixa e causando assim o menor impacto possível, se estima que seja possível reabrir o Parque de Campismo já no próximo mês de junho deste ano».

E se uns moradores contestam, como é o caso de Maria Amélia, que vive no centro da cidade há 40 anos e que «não percebe como se metem pessoas assim na rua», outros defendem que já estava na altura de se pensar um espaço verde para a cidade.

Nos cafés, ouve-se inglês e francês. Nas ruas, sem ser no centro, deambulam surfistas. Descendo a rampa que dá para as docas, encontra-se António a tratar do material de pesca. Soube de tudo isto através do Facebook e, apesar de acreditar que «não andamos neste mundo para nos prejudicarmos uns aos outros», para si,  a verdade é que os residentes da Ericeira «precisam de um espaço verde». «Não temos nada. Estamos aqui e se quisermos ir ao campo não temos nada aberto ao público», afirma, acreditando que a Câmara irá ajudar as pessoas em maior dificuldade. «Podem haver pessoas que estão à rasca, mas aquilo é efetivamente um parque de campismo e existem contratos que acabam. Nas casas é igual. Se o senhorio disser ao fim de 5 anos que precisa da casa, não há hipótese. Também tens de sair», comparou.

 

O fim do campismo da Galé

Descendo até à Galé, praia conhecida pelas suas rochas sedimentares que ilustram uma paisagem digna de um filme, chegamos a outro parque de campismo – um dos mais adorados dos portugueses, tanto pela sua dimensão como dinâmica, localizado no concelho de Grândola. Também este foi encerrado em finais de Setembro de 2021 pelos atuais proprietários, o grupo norte-americano Costa Terra, que anunciou «há meses a realização de obras de manutenção para uma reabertura sem data prevista». A diferença é que os utentes do parque nesta situação ainda não tiveram uma resposta de quanto terão de abandonar o terreno. «Neste momento o parque está fechado, as pessoas que têm aqui os equipamentos permanentes continuam a usufruir do parque, a única questão é que está fechado para campistas e caravanistas, que já não regressarão», afirma ao Nascer do SOL uma fonte próxima da administração. Segundo a mesma fonte, essas pessoas pagam uma mensalidade e isso continua exatamente igual como há 40 anos. «Por enquanto estão aqui, não há alteração nos próximos anos. A Costa Terra, mais do que tudo, está a desenvolver a outra parte. Parte dos jogos, quinta orgânica. Um projeto de 10 anos. Não sei quanto tempo demorará, na verdade. Os campistas e caravanistas foi uma decisão tendo em conta as coisas que tinham de se fazer no parque. É um parque com 40 anos, que nos últimos 18 nunca viu investimentos», explicou. Porém, há quem não acredite.

«O que está a acontecer na Ericeira, faz-me ter a sensação que não faltará muito para estarmos na mesma situação. É uma tristeza», diz ao telefone, com a voz trémula, Lucrécia Neves, de 77 anos, utente do parque. «Fui para lá no dia 18 de Novembro de 1986. É uma data que não se esquece», começa por contar. Na Galé tem aquilo a que chama de «sua casinha»: «É um conforto, um abrigo. É mais do que um remédio para mim. Na altura, éramos um grupo de seis pessoas, fomos em roulottes, casinhas, porque o parque de campismo de Troia já não nos queria lá. Foi comprado por uns ricos americanos. Resolvemos escolher a Galé», continuou. O campismo da Galé tinha acabado de ser construído e, segundo Lucrécia, ainda não lá estava ninguém. «Era bonito. Ali podíamos descansar, conviver, viver», afirma a senhora, que lembra que foi esse mesmo grupo que «dinamizou o parque em termos culturais».

Lamentavelmente, soube do seu desmantelamento «pelos jornais». «Inesperadamente tudo mudou. Temos investidas ali todas as nossas poupanças… A minha casinha não pode sair de lá, porque está de tal maneira arranjadinha», garantiu. Depois de terem chamado a comunicação social, para reportar o anúncio, na altura, os utentes conversaram com a administração e com a Câmara de Grândola, que «os acalmou».  «Até agora, nada de novidades. Neste momento estamos lá, é verdade, mas eu sinto que somos apenas um meio de ganhar dinheiro. Acabou tudo, fechou tudo, os eventos culturais que criámos já não existem, o restaurante está aberto apenas para os funcionários», revela a utente, acreditando que os responsáveis estão a fazer de tudo para os pressionarem a sair. «Está tudo a ser transformado em luxo. É despejar dinheiro!», lamenta. «Há um ano disseram-nos que teríamos de sair,  agora no princípio do ano mandaram-nos um email com um pequeno aumento sem nos avisarem. Estamos nesta expectativa. Sem perceber… O que nos vai acontecer?», interroga.

Segundo Maria Prata, uma das representantes e voz ativa da defesa dos interesses dos utentes do parque de campismo, foi realizado um protesto simbólico em julho de 2022. Para Maria, vários residentes sentem-se «intimidados» e não querem participar ativamente «com receio de represálias por parte dos novos proprietários do Parque». «O resort que é o atual proprietário do parque continua em expansão, sendo que há várias denúncias de atentados ambientais. As Associações Proteger Grândola e Dunas Livres continuam a denunciar e a pressionar formal e institucionalmente vários órgãos, para que a proteção social e ambiental se faça», denuncia, revelando que  «há denúncias de limitação de acesso a praias como na Aberta a Nova ou no Pinheirinho». «Há denúncias por toda a Costa de construções que não respeitam o ambiente e a biodiversidade. Relativamente ainda ao Parque de Campismo da Galé, aguarda-se que a Petição assinada por mais de 7.500 pessoas e entregue em outubro de 2021 seja discutida na Assembleia da República. Foram ouvidos cinco peticionários em outubro de 2022, mas não houve nova sessão em todo o hemiciclo. Apenas estavam presentes deputados do PS, PSD e PAN», contou. «Todo este processo de gentrificação, especulação imobiliária e afastamento da população está a alastrar a todo o país, e está diretamente implicado nas medidas Governamentais que privilegiam a vinda de capital estrangeiro, isentando os cidadãos estrangeiros de pagamento de vários tipos de taxas e impostos», remata.

Chegando ao centro de Melides, impera o silêncio. São poucas as pessoas que se vêm na rua a não ser idosos de boina que conversam em bancos. No café central, Augusto Mendes, toma um café. «Fui eletricista no campismo durante muito tempo. Tratava do material elétrico, canalização, dava assistência aos campistas quando tinham algum problema. Venderam aquilo e agora está parado. Não tem ninguém para além dos trabalhadores da obra e dos utentes que lá têm equipamento», afirma ao Nascer do SOL, lamentando que «quem comprou aquilo, faz aquilo que quer». Apesar de, na sua opinião, o campismo já não ter condições de funcionamento há muito tempo e este investimento ser favorável ao «grande capital», mais uma vez, os mais desfavorecidos ficam de lado. «Eu deixei de colaborar com eles porque aquilo está parado. Já não há campistas, quem compra nas lojas? Quem come nos restaurantes? Já não há pessoas para comprar no comércio local», afirma Augusto Mendes. Apesar dessa «tristeza», segundo que lhe contaram, os novos donos responsabilizaram-se por todos os trabalhadores do espaço e até «houve aumentos».

Do outro lado da estrada, num outro café, dois senhores bebem uma cerveja enquanto conversam. São moradores de Grândola e um deles diz-se bastante preocupado com as questões ambientais: «O que eles querem é tornar a costa toda numa espécie de Comporta. Pensam que o dinheiro compra tudo, mas não. Se formos falar da captação de água, vamos chocar muita gente. Estão a fazer grandes campos de golf e estão a destruir tudo aquilo que são as linhas de água. Na zona da comporta está mesmo uma loucura», explica, confidenciando que  «têm lá bombas de água a trabalhar 24 horas por dia». «Como é que ninguém fala disso? Não dá para provar… Há empresas que vendem a relva para os campos, já me disseram que oficialmente têm 30 foros, mas a verdade é que lá têm 200. Sei de fonte segura. Isso é fugir para ilegalidades», garante.

 

O deserto ZMar

A viagem continua. As estradas são rodeadas por uma paisagem verde e barro. Vêm-se animais, grandes fardos de palha e o mar ao fundo. Ao chegar à Herdade A-De-Mateus, onde em 2019 nasceu o Zmar Eco Experience – um Resort com 81 hectares ocupados por 280 casas em madeira e parque aquático com três piscinas, para além das inúmeras atividades ligadas à natureza –, o cenário é desértico. Uma carroça desgastada pelo tempo no portão entreaberto. Ao longe, as casinhas de madeira. Na entrada, um funcionário que não tem permissão para falar. O campismo declarou insolvência em 2021.

Seguindo para a Zambujeira, a paisagem é de vazio e silêncio. As pessoas que se veem na rua são, a maior parte delas, imigrantes que conversam nas ruas. O único ruído que se mistura com o som do mar, são os senhores que depois de um dia de trabalho se sentem no café para passar o tempo. Interrogado sobre a sua opinião sobre o fecho do Eco Resort, um deles diz não ter uma opinião propriamente formada, apesar de lá ter trabalhado também ele como eletricista. «Sei que aquilo começou a ficar muito mal. Que se atrasavam muito no pagamento dos ordenados e que as condições se começaram a deteriorar. Mas acho que acabaram por conseguir pagar às pessoas», revelou.

Este é um cenário que se estende a vários complexos de camping por todo o país. O Parque de Campismo Inatel Caparica, em Almada, por exemplo, fechou portas para obras de requalificação no dia 30 de novembro de 2020 e nunca mais voltou a abri-las. Tal como na Ericeira, aqui as pessoas tinham um prazo para retirar os seus equipamentos do parque, mas conseguiram alargá-lo: inicialmente a data era a de 30 de novembro, tendo passado para 13 de janeiro.

No final de setembro, cerca de 100 utentes não tinham condições financeiras para retirar os equipamentos do parque de campismo, como exigido, havendo 18 famílias que temiam ficar desalojadas. Na altura, confrontada com a hipótese de algumas pessoas estarem em risco de ficarem desalojadas, a Fundação Inatel disse estar em articulação com a Segurança Social, «de forma a encontrar as soluções, com as entidades que têm essas responsabilidades, mas somente em casos absoluta e imperativamente justificados de indigência».

Contudo, cessando a data limite da retirada dos equipamentos, Francisco Madelino, presidente da Fundação INATEL, garantiu à TSF que quando terminasse o estado de emergência iria avançar com processos contra quem não saísse do parque. «Nestes 47 casos [de famílias] que deveriam sair no final de novembro e não saíram, há uma responsabilidade pessoal por todo o atraso na tramitação das obras», afirmou, acrescentando que a INATEL iria  desencadear os mecanismos jurídicos sobre essa responsabilização individual.

Da mesma forma, no ano passado fechou o Campismos de Orbitur, situado na Madalena, em Gaia, dando lugar a um centro tecnológico. Segundo o Terras de Gaia, o Orbitur viu-lhe recusada a renovação da concessão e os utentes foram notificados para retirar os equipamentos de campismo e caravanismo. Os terrenos estão nas mãos de um fundo de investimento imobiliário fechado comparticipado pela empresa Fundimo, da Caixa Geral de Depósitos, e pela Câmara de Vila Nova de Gaia.

A viagem continua. As estradas são rodeadas por uma paisagem verde e barro. Vêm-se animais, grandes fardos de palha e o mar ao fundo. Ao chegar à Herdade A-De-Mateus, onde em 2019 nasceu o Zmar Eco Experience – um Resort com 81 hectares ocupados por 280 casas em madeira e parque aquático com três piscinas, para além das inúmeras atividades ligadas à natureza –, o cenário é desértico. Uma carroça desgastada pelo tempo no portão entreaberto. Ao longe, as casinhas de madeira. Na entrada, um funcionário que não tem permissão para falar. O campismo declarou insolvência em 2021.

Seguindo para a Zambujeira, a paisagem é de vazio e silêncio. As pessoas que se veem na rua são, a maior parte delas, imigrantes que conversam nas ruas. O único ruído que se mistura com o som do mar, são os senhores que depois de um dia de trabalho se sentem no café para passar o tempo. Interrogado sobre a sua opinião sobre o fecho do Eco Resort, um deles diz não ter uma opinião propriamente formada, apesar de lá ter trabalhado também ele como eletricista. «Sei que aquilo começou a ficar muito mal. Que se atrasavam muito no pagamento dos ordenados e que as condições se começaram a deteriorar. Mas acho que acabaram por conseguir pagar às pessoas», revelou.

Este é um cenário que se estende a vários complexos de camping por todo o país. O Parque de Campismo Inatel Caparica, em Almada, por exemplo, fechou portas para obras de requalificação no dia 30 de novembro de 2020 e nunca mais voltou a abri-las. Tal como na Ericeira, aqui as pessoas tinham um prazo para retirar os seus equipamentos do parque, mas conseguiram alargá-lo: inicialmente a data era a de 30 de novembro, tendo passado para 13 de janeiro.

No final de setembro, cerca de 100 utentes não tinham condições financeiras para retirar os equipamentos do parque de campismo, como exigido, havendo 18 famílias que temiam ficar desalojadas. Na altura, confrontada com a hipótese de algumas pessoas estarem em risco de ficarem desalojadas, a Fundação Inatel disse estar em articulação com a Segurança Social, «de forma a encontrar as soluções, com as entidades que têm essas responsabilidades, mas somente em casos absoluta e imperativamente justificados de indigência».

Contudo, cessando a data limite da retirada dos equipamentos, Francisco Madelino, presidente da Fundação INATEL, garantiu à TSF que quando terminasse o estado de emergência iria avançar com processos contra quem não saísse do parque. «Nestes 47 casos [de famílias] que deveriam sair no final de novembro e não saíram, há uma responsabilidade pessoal por todo o atraso na tramitação das obras», afirmou, acrescentando que a INATEL iria  desencadear os mecanismos jurídicos sobre essa responsabilização individual.

Da mesma forma, no ano passado fechou o Campismos de Orbitur, situado na Madalena, em Gaia, dando lugar a um centro tecnológico. Segundo o Terras de Gaia, o Orbitur viu-lhe recusada a renovação da concessão e os utentes foram notificados para retirar os equipamentos de campismo e caravanismo. Os terrenos estão nas mãos de um fundo de investimento imobiliário fechado comparticipado pela empresa Fundimo, da Caixa Geral de Depósitos, e pela Câmara de Vila Nova de Gaia.