‘Não é por serem preguiçosos que a produtividade é baixa’

É como aquela ideia de que somos pobres porque queremos. Já viu alguém ser pobre porque quer? Uma empresa é pequena porque opta por isso? Claro que não. 

Quanto mais pequenas são as empresas, menores são os ordenados. Acaba por ser um ciclo vicioso… 

Naturalmente, até seria estranho o contrário. Quanto maior for o valor acrescentado melhor serão os salários. As empresas que apresentam pouco valor acrescentado geralmente de pequena dimensão e estão assentes num negócio pouco sofisticado. E quando digo pouco sofisticado falo basicamente do valor acrescentado. Isto é, o que acrescentam à produção é baixíssimo e com isso também têm uma produtividade baixa. A produtividade não está relacionada com o esforço das pessoas, na maioria das vezes, está relacionado com o próprio negócio. Em contrapartida, outro tipo de investimentos, com algum valor acrescentado, com muita tecnologia pelo meio, a produtividade é grande. Porquê?

Porque a produtividade é a produção a dividir pelo número de trabalhadores que emprega. Muitas vezes, confunde-se a produtividade com o facto de as pessoas trabalharem pouco.

É um mito…

É um erro. Imagine um caso típico de uma indústria que vende minutos de produção, ou seja, recebe uma encomenda para fazer o fabrico de um determinado produto, pode ser metalomecânica, têxtil, calçado, qualquer coisa. Recebe essa encomenda e o cliente diz-lhe que paga não em resultado dessa produção, mas em relação ao tempo que demorou. Por exemplo, quer comprar a produção de um mês, então a empresa vai ver quanto é que isso custa e apresenta um custo de 50 mil euros, no entanto, também tem de ter lucro e aí pede 55 mil euros. O que quero dizer com isto? Que está a vender pouco. Agora imagine que a empresa tem essa mesma capacidade produtiva, mas tem o seu próprio produto então já vai conseguir vender a um preço muito superior, mesmo tendo o mesmo número de trabalhadores. Isto é, os trabalhadores podem estar a produzir o mesmo, só que num caso têm uma produtividade enorme e no outro não, quando o esforço dos trabalhadores é o mesmo. 

A dimensão tem responsabilidade máxima… 

Exatamente. Se as empresas forem de baixa dimensão e se não tiverem a capacidade de furar barreiras – quando digo furar barreiras  digo vender diretamente no mercado, ter acesso ao mercado da exportação – não conseguem. É como vender numa feira da cidade X ou vender em Milão, em que pode produzir exatamente a mesma coisa, as pessoas trabalham exatamente as mesmas horas, em que não andam a tomar mais cafés do que os outros ou a ler o jornal mais do que os outros, mas isso não se traduz em produtividade. Se a empresa tem 30 trabalhadores a produtividade será sempre a dividir por 30. Agora é diferente de vender cem ou vender um milhão.

A pequena dimensão das empresas é o nosso calcanhar de Aquiles…

É verdade. Como é que uma empresa que tem dez, 15 trabalhadores tem capacidade de ter alguém para visitar feiras, ir aos mercados, contratar designers, estar atento às novas tendências? A empresa de pequena dimensão naturalmente não é suscetível a estes desafios. Esse é o nosso calcanhar de Aquiles.  

As empresas são pequenas mas não é por o quererem…

É como aquela ideia de que somos pobres porque queremos. Já viu alguém ser pobre porque quer? Uma empresa é pequena porque opta por isso? Claro que não. É pequena porque não tem capacidade financeira para investir ou porque não tem acesso a mercados e, muitas vezes, tem de ter alguém de mala às costas para ir por esse mundo fora à procura de clientes. Isso custa dinheiro, custa hotéis, custa viagens de avião, custa participações em feiras, custa salários. Muitas vezes, a única forma de sobrevivência dessas empresas é estar dependente de quem faz encomendas. E aí o poder negocial está do lado de quem encomenda e não de quem oferece. É preciso eliminar esta ideia de que as empresas são pequenas porque querem e que as produtividades são baixas porque os trabalhadores são preguiçosos.

O que poderia ser feito para ganharem dimensão?

Bastava ver sinais de apoio ao investimento. Se vir o Orçamento do Estado não vê um sinal de apoio ao investimento. O que vê? Vê cada vez mais impostos em cima das empresas e das pessoas, vê cada vez mais impostos galopantes, vê o Estado a receber cada vez mais impostos. Era necessário dizer: ‘É hora de investir, é a hora das empresas’. Não vê isso, na lógica do Estado. As empresas servem para pagar impostos. E enquanto assim for, enquanto houver esta lógica de que as empresas servem apenas para pagar impostos não vamos ter um tecido produtivo que seja estratégico para o país. 

Isso vê-se nas reuniões de concertação social…

Servem para discutir qual é a obrigação que vamos pôr nas empresas. A competitividade das empresas joga-se todos os dias e se não se cria um estímulo ao investimento vamos ter cada vez mais um tecido produtivo para pagar impostos e há de chegar um momento em que já nem isso se consegue fazer.