Quem és tu Homo Europaeus?

Porventura, o Homo Europaeus nem saiba exatamente onde é a Finlândia, o que é o Conselho Europeu e, muito menos, quem é Charles Michel.

Por Jorge Botelho Moniz, Professor e Diretor de Estudos Europeus e Relações Internacionais – Universidade Lusófona

Segundo o mais recente Eurobarómetro do Parlamento Europeu (outono 2022), quase metade dos europeus (46%) afirma que, com a guerra na Ucrânia, entre outros, o seu nível de vida foi negativamente afetado. Este número não lhe chega? – Então, ofereço mais. De acordo com esta fonte, 93% dos europeus estão preocupados com o aumento do custo de vida, 82% com a pobreza e exclusão social e 81% com o contágio da guerra russo-ucraniana a outros países. 

Apesar destes indicadores pouco animadores, só 51% dos entrevistados considera que os ‘assuntos europeus’ estão a ir na direção errada. Ou seja, a grande maioria dos europeus diz-se preocupada com o seu futuro, mas apenas metade acha que as coisas vão num sentido menos agradável. Quem és tu Homo Europaeus? 

Pareces uma espécie rara. Consciente das consequências da guerra na tua vida quotidiana e convicto de que o conflito na Ucrânia vai continuar a mudar a tua vida negativamente, continuas firme no apoio ao esforço de guerra. Fique o leitor sabendo que este Homo Europaeus diz ‘aprovar’ a ajuda financeira, militar e humanitária da União Europeia (UE) à Ucrânia, bem como as sanções contra a Rússia (74%). Portugal é, aliás, o quinto país da UE com uma maior taxa de ‘aprovação’, mostrando uns extraordinários 92%, só comparáveis à Suécia ou Finlândia – países muito mais próximos do conflito. 

Por falar em sanções, nos próximos dias, deveremos começar a ler e ouvir notícias sobre um décimo pacote imposto pela UE à Rússia. Desta vez, com restrições ao setor nuclear russo, mais proibições ao comércio de diamantes e novas sanções contra a Bielorrússia. Este passo parece mais ou menos inevitável. Em especial, após as declarações do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na sua última visita à Ucrânia (19 jan.). Mas também por conta da avizinhação de dois eventos, simbólica e politicamente, relevantes para que a UE se continue a mostrar unida: a cimeira UE-Ucrânia (3 fev.), em Kiev, e o aniversário do primeiro ano da contenda russo-ucraniana (24 fev.).

A guerra tem tido os seus efeitos nos Estados-membros da UE, o Homo Europaeus sabe disso, como já vimos. Contudo, as sanções têm causado estragos na Rússia. Desde o início da guerra, os russos têm perdido em vários indicadores: PIB (-4,5), exportações (-12,3%) e importações (-20,8%), inflação (12%) e consumo privado (-8,5%), segundo dados do Banco Mundial.

Talvez por isso o Homo Europaeus se sinta apenas moderadamente pessimista. Acha que está e que deve ganhar a guerra, mesmo que à custa de algum do seu conforto. Porventura, o Homo Europaeus nem saiba exatamente onde é a Finlândia, o que é o Conselho Europeu e, muito menos, quem é Charles Michel. Talvez até desconheça todos estes números e, mesmo assim, aprova o apoio da UE à guerra. Quem és tu Homo Europaeus?