‘Pedro Sánchez fará tudo o que puder para se manter no poder’

Não está preocupado com sondagens, mas com o futuro de Espanha. Admite acordos pós-eleições com o PP e sabe que a única solução para apear o PSOE do poder é um Governo onde também esteja o VOX.

‘Pedro Sánchez fará tudo o que puder para se manter no poder’

Como define ideologicamente o VOX? Sabemos que no Parlamento Europeu estão na família dos Conservadores e Reformistas, mas foram conotados como extrema-direita.

O VOX é um movimento patriótico que surgiu para dar resposta a uma série de questões que os partidos tradicionais, os média e as elites financeiras baniram do debate público. Enquanto no Parlamento, nos programas de televisão e nos grandes escritórios alguns debatem sobre transições energéticas, ideologia de género, ou consumo de insetos, os espanhóis andam preocupados com a perda de poder de compra, com o aumento dos custos da habitação, com a insegurança, com os cortes nos direitos e liberdades ou com a instabilidade profissional. Sentimo-nos muito confortáveis no seio do Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus, no Parlamento Europeu, porque acreditamos que reúne uma série de partidos que partilham diagnósticos e soluções sobre os problemas que as elites de Bruxelas criaram para o presente e futuro dos cidadãos europeus. 

E onde se situa o VOX no espectro político da extrema-direita à extrema-esquerda?

Consigo pensar em muitas questões para as quais nem a esquerda nem a direita ofereceram soluções nos últimos anos. Despovoamento, desindustrialização, imigração ilegal, a violação de dados pessoais por parte de grandes corporações ou a concorrência desleal podem unir hoje espanhóis que, segundo os critérios de jornalistas ou politólogos, teoricamente estão muito distantes entre si. Onde se situa o VOX então? Na defesa daquilo que é nosso. Da nossa identidade frente ao globalismo. Na segurança das nossas ruas diante daqueles que as transformaram em focos de insegurança e criminalidade. Na defesa dos nossos produtos e dos nossos produtores frente à avalanche de produtos de baixa qualidade a baixos preços provenientes do estrangeiro. Dos nossos serviços públicos frente ao desperdício político e ideológico. Da nossa economia frente à deslocalização de empresas.

Nas últimas eleições gerais de 2019, o VOX obteve 15,1% dos votos. Já as sondagens publicadas este mês dão sinais de abrandamento, e um crescimento das intenções de voto no PP. Estão confiantes de que vão ter um resultado mais satisfatório nas eleições deste ano?

As sondagens há muito que deixaram de tirar uma fotografia de uma sociedade num dado momento. O seu papel não é perceber as preferências políticas dos cidadãos, mas sim tentar orientar o voto dos cidadãos. Já vimos isso com o Brexit, com Trump ou com o resultado de VOX nas eleições gerais de novembro de 2019 ou as autonómicas catalãs de fevereiro de 2021. Nós distinguimos entre a opinião publicada, que é aquela que aparece em emissoras de rádio, jornais e televisões e que só responde aos interesses do proprietário de um determinado meio ou dos políticos que o financiam, e a opinião pública, que é aquela que os cidadãos expressam livremente na refeição familiar dos domingos, no descanso do café, na fila do mercado ou na praça do parque. Não temos dúvidas de que, embora a opinião publicada seja hostil, a opinião pública olha com simpatia e alívio as nossas propostas. Verificámos isso em todos os cantos de Espanha em que o VOX organiza um evento, um comício ou uma tenda informativa na rua.

Se o PP ganhar, o VOX é indispensável na construção de uma maioria parlamentar de direita. Há espaço para chegar a um entendimento e constituir uma alternativa, como a que se encontrou na Junta de Castela e Leão?

O Partido Popular e o VOX são dois partidos distintos, com ideias diferenciadas, por vezes contraditórias, em matérias tão relevantes como a economia nuclear, a federalização da União Europeia, a independência do poder judicial ou o modelo territorial autónomo. São muitas as coisas que nos separam. E é bom que assim seja. O desacordo é uma das bases da democracia. O VOX apresentar-se-á às eleições com o seu programa e o Partido Popular fará o mesmo com o seu. As urnas dirão em que lugar os eleitores nos colocam. Mas de nada servirá que entre ambos os partidos se alcance a soma suficiente para tirar o Partido Socialista e os seus sócios comunistas, separatistas e golpistas do poder se isso não se traduzir também na expulsão das suas políticas. O cansaço com o Governo de Sánchez é imenso. O povo espanhol não quer substituições, nem operações cosméticas. Quer uma alternativa séria. Espero que, depois do ato eleitoral, saibamos entender-nos para a podermos colocar em marcha.

Como se explica a forma como o líder do PP tem dito repetidamente que não quer o VOX num futuro governo do PP, preferindo apenas o seu apoio parlamentar? É para que os eleitores de VOX decidam votar antes no PP?

Nos últimos meses, diversos porta-vozes do Partido Popular manifestaram a sua intenção de chegar a acordo com o Partido Socialista. Alguns riam quando no VOX falávamos da grande coligação. Os factos, uma vez mais, vêm dar razão ao VOX. O PP e o PSOE votam em conjunto uma série de iniciativas políticas. Defendem posições semelhantes sobre os grandes temas. Gozam de um tratamento de favor nos meios de comunicação. São amigos dos sindicatos que abandonaram os trabalhadores. Não admira, portanto, que quisessem elevar a sua boa sintonia a um pacto de governo. Nós entendemos que isso seria letal para Espanha e para os espanhóis. O voto no VOX é a única garantia de que nem Pedro Sánchez nem as suas políticas permanecem no poder.

Em Espanha, atualmente com uma coligação governamental entre o PSOE e a extrema-esquerda do Podemos, como se pode aceitar que um partido democrata-cristão prefira não formar governo a fazer uma coligação com o VOX, um partido do Grupo ECR no Parlamento Europeu?

Compreenderá que esta é uma questão que eu não posso nem devo responder. Cada partido segue a política de alianças e pactos que considera mais conveniente para os seus interesses. O Partido Popular deve resolver as suas dúvidas. Da nossa parte não há nenhuma: tudo faremos para afastar Pedro Sánchez, o seu partido, a sua funesta coligação de governo e as suas ideias do poder.

Como tem sido a colaboração com o PP nos Governos Autónomos de Espanha nos quais estão em coligação?
Castela e Leão é a melhor vitrine que temos das nossas políticas. Os espanhóis que pensam em votar podem olhar para Castela e Leão para ter uma ideia daquilo que o VOX ambiciona levar às instituições. Depois de um ano de governo compartilhado, o balanço é eminentemente positivo. Demonstramos que é possível reduzir drasticamente a despesa pública, reforçando simultaneamente o investimento em serviços públicos. Iniciámos uma luta sem tréguas contra o despovoamento, levando à população as infraestruturas  que estavam em falta e criando as condições para a instalação de empresas ou para o regresso das que tinham desaparecido. Colocámos a família no centro das políticas, desenvolvemos programas de promoção da natalidade e da conciliação entre a vida familiar e laboral. Defendemos o meio rural desde o Conselho de Agricultura e Pecuária e posso dizer com orgulho que Castela e Leão apresenta hoje dados económicos muito positivos graças ao trabalho de Mariano Veganzones, nosso conselheiro de Indústria e Emprego. Castela e Leão é a terceira região de Espanha com menos desemprego e a segunda onde foram criadas mais empresas. Com este histórico, compreende-se perfeitamente que o governo regional PP-VOX, que tão bem está a funcionar, tenha tantos inimigos que querem dinamitá-lo.
Em Castela e Leão, anunciaram que queriam obrigar as mulheres antes de fazerem um aborto a ouvir o coração do feto. Juan García-Gallardo foi depois desmentido pelo PP. A quatro meses das eleições regionais, que impacto tem esta situação na relação entre os dois partidos a nível regional mas também nacional?

Desde o primeiro momento, o governo de Castela e Leão tem tido numerosos inimigos, tanto no plano político, como mediático ou social. Muitos tentaram fazer com que esta primeira experiência de coligação não funcionasse, mas a realidade é que, apesar das pedras de alguns, está a funcionar. Em Castela e Leão, chegámos a um acordo para fornecer informação, assistência psicossocial e económica e alternativas a todas as mulheres que o desejassem. Qual é o problema disso? Por que alguns têm medo de dar mais informações às mulheres? Não permitiremos que ninguém determine quais os debates que estão abertos e quais os que estão encerrados. Dito isto, devo dizer-lhe que a relação entre o PP e o VOX em Castela e Leão é sólida. Ambos estamos a remar na mesma direção. Os bons indicadores socioeconómicos demonstram isso mesmo. Por isso, estamos conscientes de que receberemos muitos ataques. 
O VOX está pronto para ser um partido do governo?

O VOX é um partido jovem, mas na sua breve trajetória já demonstrou ter muita maturidade. A nossa ação tem sido eficaz em todas as frentes. Nas ruas, conseguindo convocar milhares de espanhóis cansados de um governo que age sempre nas suas costas. Nos tribunais, conduzindo a ação contra os golpistas separatistas que tentaram roubar-nos o país e levando ao Tribunal Constitucional todos os atropelos do Governo. E no Congresso e no Senado, onde temos sido a oposição mais firme e tenaz contra as leis liberticidas que socialistas, comunistas e separatistas tentaram implementar durante esta legislatura. Se o VOX não tivesse existido, tampouco o teriam feito as grandes mobilizações contra o Governo, ninguém teria defendido os direitos e liberdades violados durante a pandemia e ninguém teria representado nas instituições a voz do senso comum para se opor sem matizes a projetos como a Lei Climática, a Lei Trans ou a Lei de Memória Democrática.

 

O PSOE está no poder desde 2018. Que análise faz destes anos de governo socialista?

Foram nefastos para a Espanha. E foram-no em todas as frentes. A Espanha não dispõe atualmente de nenhum dos pilares de que um país necessita para poder subsistir e olhar com esperança para o futuro. Não há bem-estar, porque o trabalho é escasso, o custo de vida é muito alto, é impossível poupar e a pressão fiscal asfixia famílias e empresas. Não há segurança, pois as nossas fronteiras são violadas todos os dias e muitos bairros, sempre os mais humildes, sofrem hoje os benefícios do multiculturalismo, das quadrilhas e da imigração ilegal. As mulheres vivem, graças à recente Lei do Sim é Sim que libertou centenas de agressores sexuais, num estado de insegurança permanente. Não há unidade, pois o pacto do Governo com separatistas e terroristas implicou a rendição do Estado aos seus inimigos, a retirada da Guarda Civil de Navarra, a amnistia encoberta dos golpistas, a aproximação de presos da ETA ou a perseguição da língua espanhola nas salas de aula. Também no domínio dos direitos civis não há motivos para celebrar. A pandemia deu asas a este Governo para espezinhar a democracia e impor um estado de alarme e controlo ilegal, que era na verdade um estado de exceção. De forma cada vez menos velada persegue-se aquele que discorda, seja o cidadão que manifesta opiniões contrárias ao Governo em redes sociais, seja o historiador que não compra a banha da cobra da Lei da Memória Democrática. E os pais aterrorizados com as consequências da Lei Trans. Não há instituições independentes, pois o Governo iniciou há anos um processo de assalto e colonização de todos os contrapoderes do Estado. Finalmente, não há soberania, pois o futuro de Espanha e dos espanhóis está hoje à mercê de decisões tomadas muito longe do país. Algumas em Bruxelas, outras em gabinetes internacionais obscuros e outras, quem sabe, em Marrocos.

Sem uma maioria absoluta de apoio no Parlamento, Pedro Sánchez contou e negociou com os independentistas catalães e também com os bascos. Como explica que o PSOE encontre sempre uma tábua de salvação para se manter no poder?

Pedro Sánchez fará tudo o que puder para se manter no poder. Não tem escrúpulos, demonstrou-o na campanha eleitoral quando prometeu não pactuar com Paulo Iglesias e um dia depois estava abraçado a ele, e demonstrou-o depois alcançando acordos com o Bildu, partido político herdeiro da ETA, ou com os partidos responsáveis pelo golpe de Estado de 1 de Outubro de 2017. Hoje todos os inimigos da nação têm peso neste governo. Nestes anos, Sánchez construiu uma tábua de salvação à custa da liberdade, da prosperidade e da igualdade, passando por cima de todos os cidadãos e dinamitando a separação de poderes. Acreditamos que o seu tempo está a chegar ao fim, que não se deve dar balões de oxigênio a Sánchez, que o PSOE não vai mudar e que o seu propósito é o mesmo que o do Bildu ou da Esquerda Republicana da Catalunha. Por isso, é necessário construir uma alternativa que sirva para desalojar Sánchez do Palácio da Moncloa, mas também as suas políticas que tanto dano nos têm feito.

Esta última tentativa de alteração da legislação que regula a eleição dos juízes do Tribunal Constitucional, ou mesmo as alterações ao Código Penal, que inverteram a condenação dos responsáveis pela tentativa de autodeterminação da Catalunha em 2017, põem em perigo o funcionamento das instituições ou a independência da justiça espanhola?

Absolutamente. O PSOE começou a sua guerra contra a separação de poderes já nos anos 80. O que está a acontecer agora, porém, é muito mais grave. Caminhamos para o mesmo lugar para onde os partidos socialistas e comunistas da ‘Iberosfera’ levaram as suas democracias, para um poder omnímodo do partido governante, para o fim dos mecanismos de controlo, para a designação a dedo de juízes e magistrados, para um processo destituinte.

As eleições em Itália foram um momento decisivo para o futuro do centro-direita e da direita na Europa. Espera que a direita espanhola beneficie de uma dinâmica positiva depois disto?

A Itália é o último elo de uma longa cadeia: Polónia, Hungria, República Checa, Suécia… Inclusive França e Portugal. Há muito que os europeus são castigados. Foram castigados primeiro em 2008, quando as elites responsabilizaram o cidadão comum pela crise financeira. Foram castigados de novo em 2015, com a crise migratória e a onda de atentados islâmicos, onde, mais uma vez, aqueles no poder apontaram o dedo aos cidadãos, que foram rotulados de xenófobos e racistas. Nas oligarquias a culpa é sempre dos de baixo. O resultado do profundo fosso que se foi criando entre as elites e as pessoas comuns foi esta reação soberana, contrária ao politicamente correto, à tecnocracia de Bruxelas e às agendas globalistas. Este ano é a vez da Espanha.

Em Portugal, embora o PS esteja protegido por uma maioria absoluta, assistimos recentemente a várias polémicas que envolvem membros do Governo. Qual é a percepção da situação em Espanha?

A partir de Espanha, olhamos com simpatia para o crescimento exponencial dos nossos aliados do Chega. Toda a Europa precisa deste olhar simultaneamente patriótico e popular que ponha no centro os interesses dos cidadãos e das nações. Mas é mais urgente nos países do sul da Europa do que em qualquer outro lugar. Aqueles que foram duplamente espezinhados, pelas suas próprias elites locais e pelas que governam os destinos do continente a partir de Bruxelas. Portugal precisa, como Espanha também precisa, e como Itália precisava, de um movimento que recupere a soberania e a democracia para os seus cidadãos, que promova o desenvolvimento económico da nação e que responda com firmeza às ideias progressistas. Portugal é uma das grandes nações da história da Europa e do mundo.

O PSOE propôs a redução das penas para crimes de corrupção e desvio de fundos. Considera que faz sentido num momento em que estes casos também se sucedem em Espanha?

É o culminar do processo de mentira deste governo. Isto foi feito para tentar manter-se no poder pactuando com corruptos e com golpistas, e foi feito também espezinhando pela enésima vez a Constituição, porque esta reforma implica um indulto encoberto e um indulto geral, ambos expressamente proibidos na Constituição. Recorremos tanto da revogação do crime de sedição como da redução das penas por desvio de fundos, porque o seu objetivo é beneficiar um determinado círculo de espanhóis já condenados por sentença transitada em julgado por crimes de sedição e desvio de fundos ou por eles perseguidos. Consideramos que descriminalizar estas condutas põe em risco a paz social, a unidade da Espanha e a ordem democrática.