Há falta de ovos no mundo e os preços disparam

Em países como a Nova Zelândia já não há ovos suficientes para a população toda, enquanto noutros, como em Portugal, os preços disparam. Será a criação de galinhas a solução para este problema?

Os ovos escasseiam em alguns pontos do globo – devido a regulamentações agrícolas, aos preços, à época festiva e outros motivos – e criar galinhas parece ser uma solução viável para muitos. Por exemplo, na Nova Zelândia, país com um consumo de ovos per capita acima da média, os cidadãos começaram a comprar galinhas online para garantir que têm este alimento na despensa. 

Em Portugal, a realidade ainda parece ser diferente. No entanto, o paradigma poderá mudar, pois o Natal e o Ano Novo reduziram a quantidade de ovos disponíveis no mercado, o que assustou os consumidores. Tanto que, ao Dinheiro Vivo, a Companhia Avícola do Centro (CAC), que detém a marca Matinados, remeteu «a falta de ovos na altura das festas – época em que o consumo desta proteína aumenta cerca de 30% – para a dificuldades de reposição de stocks nas prateleiras», sendo que «já a escassez que se possa ter verificado ao longo de janeiro, o presidente da empresa, Manuel Sobreiro, aponta a procura superior à oferta, uma vez que o primeiro mês do ano ‘é um dos momentos de substituição dos bandos de galinhas, para um novo ciclo de postura’».

Quem não tem medo desta realidade é o casal Antunes, de Tomar, que, já na casa dos 70 anos, está habituado a ter ovos frescos e nunca os comprou. «Estamos perto de uma cidade, mas aqui vivemos como numa aldeia. Temos os nossos animais, a nossa horta… Digo sempre à minha mulher que mesmo que a crise aperte, fome não passamos!». Aliás, foi isso que José e Maria do Patrocínio verificaram já em vários anos, como em 2010, quando muitas famílias portuguesas se viram aflitas para fazer face às despesas relacionadas com a alimentação e eles, «felizmente», como frisam, encararam tudo com mais tranquilidade por produzirem aquilo que comem. «É muito bom termos tudo aqui à mão. E damos sempre coisas à nossa família e aos nossos vizinhos», sublinha a mulher.

Mas, de acordo com o Centers for Disease and Control Prevention, existem cuidados que devemos ter: lavar as mãos antes e depois de manusear aves ou os seus suprimentos; não beijar ou aconchegar as aves; não deixar que as aves domésticas entrem em casa; supervisionar as crianças perto das aves e não deixar as menores de cinco anos manusear ou tocar nas aves; usar um par de sapatos dedicado ao cuidado de aves e mantê-lo do lado de fora de casa e limpar os equipamentos e suprimentos das aves também no exterior.

«Criar aves de quintal (galinhas, patos, gansos, pintadas e perus) está a tornar-se mais popular. As pessoas gostam de criar pintainhos, patinhos, gansinhos e peruzinhos. Muitas pessoas criam galinhas para ter ovos frescos. Embora criar aves de quintal possa ser divertido e educativo, os proprietários devem estar cientes de que as aves às vezes podem carregar germes nocivos que deixam as pessoas doentes», lê-se no site oficial do CDC, que adianta ainda que «esses germes podem causar uma variedade de doenças nas pessoas, variando de pequenas infeções de pele a doenças graves que podem causar a morte». 

O principal perigo é a gripe das aves, uma doença respiratória contagiosa causada pelo vírus influenza. Alguns vírus da gripe aviária que circulam principalmente em animais infetaram pessoas em raras ocasiões. «Os vírus da gripe são altamente contagiosos. As pessoas podem infetar-se através do contacto com saliva, secreções nasais e excrementos de animais infetados. As pessoas também podem ser infetadas pelo contacto com superfícies contaminadas por vírus, galinheiros, currais e suprimentos. Com menos frequência, as pessoas podem ser infetadas ao tocar num animal infetado e depois tocar nos seus próprios olhos, nariz ou boca», refere o CDC. Qualquer pessoa pode contrair esta doença, mas as crianças com idade inferior a cinco anos, as grávidas, os idosos e as pessoas com o sistema imunitário enfraquecido «correm alto risco de complicações graves».

«Pela primeira ideia, as pessoas terem os seus próprios animais, por serem úteis, parece-me bastante boa. Obviamente, não podem comercializar estes ovos ou se o fizerem há regras específicas. É claro que estas pessoas devem estar cientes de que estes animais podem ter doenças que contaminam outros animais e também as pessoas», diz ao Nascer do SOL Laurentina Pedroso, Provedora do Animal e diretora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona.

«Muitas das vezes, falamos de doenças que são comuns aos animais e às pessoas. Têm de ter cuidados como lavar as mãos e cozinhar bem os ovos (devemos fazê-lo mesmo que sejam de produções industrializadas) para eliminar microorganismos», acrescenta a antiga bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários. «Há regras muito apertadas quando falamos de produção em grande escala. Pensando que é para a própria pessoa, a higiene é o mais essencial. Temos de ter cuidado com estas situações que causam globalização dos vírus», alerta. 

Os maiores consumidores
Falámos, em primeiro lugar, no caso da Nova Zelândia, onde a escassez deste alimento se fez sentir, mas os países que lideram o consumo médio de ovos por pessoa são Japão, Paraguai, China, México, Ucrânia, Malásia, Brunei, Eslováquia, Bielorrússia e Rússia, de acordo com o WorldAtlas.

O Japão consome mais ovos do que qualquer outro país. Em média, um japonês come 320 ovos anualmente, sendo que estes contribuem para aumentar a massa muscular, auxiliam a memória e a concentração, auxiliam na perda de peso, melhoram o sistema imunitário, ajudam a reduzir o colesterol mau e a aumentar o colesterol bom, combatem a anemia, previnem o envelhecimento precoce e mantêm a saúde dos ossos e dos dentes.

A indústria japonesa de ovos é vibrante e inclui criadores de aves em grande escala, processadores e comerciantes. A procura por ovos no Japão é tão alta que a população de aves é quase igual à população humana de 120 milhões de habitantes. O Japão também é um dos maiores importadores mundiais de ovos e derivados. Os criadores de aves adotaram técnicas avançadas na produção e manuseio de ovos. Em alguns casos, os ovos são enriquecidos com minerais e vitaminas e vendidos a preços premium. Os ovos são comidos principalmente crus. No entanto, também são consumidos em pastéis, em pratos salgados e com arroz.

Já o cidadão paraguaio médio come em média aproximadamente 309 ovos anualmente. Naquele país consomem-se mais ovos do que nas nações vizinhas da América do Sul. Os ovos costumam ser consumidos como lanche ou usados para fazer sobremesas, ensopados e saladas. A procura por ovos no Paraguai foi afetada por problemas de saúde relacionados com altos níveis de colesterol. Além disso, o alto custo de produção de ovos resultou em preços mais altos, o que afetou negativamente o consumo deste alimento.

Os ovos são também uma fonte essencial de proteína nos lares chineses, onde cada pessoa média come uma média de 300 ovos por ano. Os ovos são uma fonte de alimento conveniente, barata e nutritiva na China. Uma grande percentagem dos ovos consumidos no país mais populoso do mundo é produzida em fazendas de pequena escala na China rural. Os chineses consomem os seus ovos cozidos ou crus. Os ovos também são usados como ingredientes para fazer sobremesas como mousse. As autoridades chinesas monitorizam de perto a criação e a produção de ovos para garantir que os mais altos padrões são cumpridos. O país tem restrições naquilo que diz respeito ao uso de antibióticos e pesticidas em quintas avícolas.

O México é o quarto país com maior consumo de ovos por pessoa. Nos últimos cinco anos, o consumo de ovos no México caiu drasticamente. O declínio foi atribuído a um surto de gripe aviária que levou ao aumento dos preços dos ovos. No entanto, o governo interveio e, atualmente, os mexicanos comem os seus ovos fritos, escalfados ou mexidos. E comem até ovos com casca.