Pasmado!

Ouvi, também, as declarações de D. Manuel Clemente. São verdadeiras! Tudo o que disse é de uma exatidão inquestionável.

Eu, ao longo da última semana, acompanhei as notícias e os comentários à reação do Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e dos bispos à lista da Comissão Independente dos padres abusadores que estão no ativo. A Conferência de Imprensa foi uma desgraça, mas tudo o que D. José Ornelas disse é verdade: se as listas só têm nomes e se não há contextualização e acusação, não há ponta por onde se lhe pegue. Aliás, a Inquisição veio ao menos dar um direito aos cidadãos que não existia até então: o direito de serem inquiridas. Se não há matéria e só há nomes, então não é possível fazer nada, a não ser investigar ou esperar que a Comissão Independente comece a dar mais do que nomes (o que se viu obrigada a fazer).

Ouvi, também, as declarações de D. Manuel Clemente. São verdadeiras! Tudo o que disse é de uma exatidão inquestionável. A suspensão de um padre pode acontecer, apenas, depois de decorrido um processo na diocese, com apresentação de factos, com direito ao contraditório, e só a Santa Sé tem o poder de suspender o ministério desse padre. Quanto a este tema, é translucido como a água… só a Santa Sé pode suspender.

Se quisermos falar num afastamento temporário para se investigar, como aliás o Senhor Patriarca fez no último ano em dois casos tornados públicos, então é outra coisa. Suspender é um termo técnico que implica um processo e que não basta um nome. Afastar é uma forma de dizer que tal padre deve estar por um tempo sem exercer o seu ministério de forma pública, mas isso não é suspensão, mesmo que o (Padre) Manuel Vilas Boas o queira.

O Professor Daniel Sampaio ficou muito indignado e disse que não era verdade que as dioceses não tivessem informação sobre as pessoas que vinham na lista. Dois dias depois diz que lamenta que só duas dioceses tenham pedido esclarecimentos e que os dados estavam na sua posse e poderia fornecer mais dados às dioceses se quisessem (aliás eu gostaria muito de saber qual irá ser o destino de todo o material que foi compilado ao longo destes dois anos). Afinal, parece que os bispos estavam a dizer a verdade ao afirmarem que não tinham conhecimento.

Então, o que sabemos, mesmo até ao momento em que estou a escrever esta minha crónica: tudo e quase nada! Sabemos que uma parte significativa dos padres que vinham descritos na lista dos abusadores no ativo, afinal não estavam no ativo, mas enterrados. Outros já tinham sido expulsos. E uma muitíssimo pequena percentagem tinha sido investigada no passado quer pela Igreja quer pelo Ministério Público e não se tinha encontrado matéria.

Para aqueles que não encontraram matéria no passado, pode ser que se encontre matéria agora e se encontrar matéria os processos, outrora arquivados, serão reabertos e reavaliados.

Mas vou tentar, em poucas linhas fazer o resumo do que já sabemos: Évora recebeu um envelope com dois nomes: um já faleceu e o outro foi afastado cautelarmente; o bispo de Angra recebeu um envelope com oito nomes, dois foram afastados temporariamente para investigação, três eram padres que já tinham morrido e um era um leigo que também já morreu, depois, dois casos foram considerados pela própria Comissão Independente como irrelevante – depois de ter saído o relatório, parece que apareceu uma denúncia sobre outro padre que já morreu há muito; Algarve, dois nomes: um já tinha sido investigado pela Igreja e pelo Ministério Público e tinha sido arquivado; o outro ninguém sabe quem é e não se encontra o seu nome sequer como padre da Diocese do Algarve; O bispo de Portalegre-Castelo Branco recebeu um envelope com dois nomes: ambos morreram já há mais de quarenta anos.

Bom… Não tenho mais espaço para escrever a crónica… para descrever o resumo da lista de padres que está a ser tornada pública pelos próprios bispos… mas seguramente que vamos saber tudo até ao próximo domingo…