Medicamentos. Infarmed promete “mitigação” de problemas de abastecimento

O Ozempic e o Inderal têm dado que falar por estarem esgotados. Infarmed garante continuar a tentar que medicamentos estejam disponíveis.

A falta de alguns medicamentos nas farmácias portuguesas tem deixado os portugueses preocupados, mas o Infarmed garante que tudo faz e tudo continuará a fazer para que esta situação seja solucionada. “O Infarmed recebe da empresas da indústria farmacêutica, entidades responsáveis pela colocação dos medicamentos no mercado, informação sobre os medicamentos que irão entrar em rutura de abastecimento, conforme estabelecido legalmente. Estas situações acontecem por motivos multifatoriais, sendo o número total bastante volátil”, explica, adiantando que o valor de aproximadamente 1000 a que o i teve acesso “será o total de apresentações de medicamentos em rutura”.

Ou seja, se tomarmos como exemplo o paracetamol XYZ (nome fictício), se notificarmos a rutura de: Paracetamol XYZ, Comprimidos, 1000mg, embalagem de 30 comprimidos; Paracetamol XYZ, Comprimidos, 1000mg, embalagem de 60 comprimidos; Paracetamol XYZ, Comprimidos, 500mg, embalagem de 30 comprimidos; Paracetamol XYZ, Comprimidos, 500mg, embalagem de 60 comprimidos e Paracetamol XYZ, Xarope, 40mg/ml, embalagem de 150ml estamos a falar de um só medicamento, mas de cinco apresentações.

Marta Lino, de 37 anos, que sofre de síndrome de Cushing e necessita do Ozempic (Semaglutido), mas, por este estar esgotado a nível nacional, viu ser-lhe prescrito o Trulicity (Dulaglutido). A ser seguida em Endocrinologia no Hospital de S. João, no Porto, por aquela que designa como “a melhor equipa”, Marta foi submetida a uma cirurgia à hipófise e foi-lhe removido um tumor de 4mm. Após essa cirurgia, foi-lhe prescrito o Ozempic, em fevereiro de 2022, mas, em junho, o fármaco já não estava disponível. Por isso, foi-lhe receitada uma alternativa. Em setembro, parou de fazer esta medicação porque foi novamente operada, mas voltou a tomá-la em janeiro. Contudo, não esconde que prefere o Ozempic, porque o Trulicity é “muito violento” naquilo que concerne a administração.

“O manuseamento é muito mais difícil. Enquanto a ‘caneta’ do Ozempic é mais pequena e discreta, tenho de rodar esta e, quando a coloco na barriga, tenho de fazer mais força e ouve-se um barulho. No meu caso, incomoda-me um bocado”, explica. “Em termos de resultados, se calhar não sou um bom exemplo, por assim dizer, porque devido à síndrome de Cushing não há muito que se possa fazer. O impacto do medicamento é mais de manutenção do peso e não de perda”, sublinha, adiantando que aquilo que a incomoda é saber que existem pessoas diabéticas que estão sem acesso ao Ozempic.

“O medicamento Ozempic, nas suas três dosagens, já se encontra comercializado, apesar de ainda apresentar constrangimentos no abastecimento, situação que também se manifesta a nível Europeu”, diz agora o Infarmed. “Relativamente ao Inderal, encontra-se comercializada a dosagem de 10 mg”. Recorde-se que este é outro medicamento que não se encontra com facilidade nas farmácias nacionais. “Não o tomei durante um tempo. Aproveitei que tinha uma viagem a Espanha para comprá-lo, sem receita, porque o tomo para prevenir as enxaquecas. Nesse período acabei por estar um pouco mais suscetível”, conta Sofia Fernandes, de 26 anos. “O meu médico não sugeriu nenhuma alternativa. Mesmo agora, tomo 1 Inderal por dia à noite, a dose mínima. É suposto tomar 2 de manhã e 1 à noite”, constata. “Quando estes acabarem, não terei mais. É melhor tomar um do que não tomar de todo porque me ajuda, ainda que o Inderal não consiga prevenir todas as crises”, diz. “Para ser franca, sinto-me um pouco revoltada. Ainda por cima, só agora estamos a desmistificar e normalizar as enxaquecas. Então, as pessoas não entendem o impacto de uma crise e o impacto que uma coisa tão pequena como o Inderal pode ter. Não estou a dizer que cura todas as crises, mas se prevenir duas de cinco… Já melhora a minha vida”, afirma. “É triste verificar que não há uma resposta clara”, adianta a jovem que sofre desta doença desde 2014.

“As questões relacionadas com a disponibilidade de medicamentos são transversais a nível europeu e mesmo mundial. O Infarmed continuará a monitorizar o mercado nacional e, em conjunto com as autoridades congéneres europeias e também com os Gabinetes criados com o apoio da Agência Europeia de Medicamentos e da Comissão Europeia para o efeito, desenvolver todas as formas possíveis de mitigação de situações de problemas de abastecimento de medicamentos”, avança ao i a autoridade do medicamento.