Uma história real sobre o tráfico humano de mão-de-obra no Reino Unido

O filme, com Beatriz abetarda como protagonista, foi realizado por Marco Martins e aborda o tema do  tráfico humano de mão-de-obra no estrangeiro, onde as pessoas vivem num “submundo”.

Depois da estreia mundial no Festival de San Sebastián, o mais recente filme do realizador português Marco Martins, ’Great Yarmouth – Provisional Figures’, chega às salas de cinema de todo o país no dia 16 de março. Um filme duro, sujo e que nos faz, ao longo de 1 hora e 53 minutos, mergulhar na escuridão de uma cidade costeira inglesa. 

O trabalho de pesquisa começou há cinco anos. Marco Martins viajou até junto da comunidade portuguesa de Great Yarmouth (iniciado com a peça de teatro ‘Provisional Figures’, que estreou no Festival de Norwich em 2018), com o objetivo de encontrar a história perfeita. E conseguiu-o, fazendo nascer uma narrativa sobre a decadência dessa cidade, invadida por cores escuras, frias, onde mesmo não acontecendo, parece que está sempre de noite. 

A ação do filme desenrola-se em 2019 (três meses antes do Brexit) e tem como protagonista Tânia, personagem a quem Beatriz Batarda dá vida). Tânia e o marido inglês, Richard, interpretado por Kris Hitchen, protagonista de ‘Sorry We Missed You’, de Ken Loach, recrutam trabalhadores portugueses para trabalharem nas fábricas locais e instalam-nos em decadentes hotéis da Golden Mile, a marginal de Great Yarmouth – uma localidade que foi, em tempos,  um importante centro turístico, mas que acabou por se transformar num local de destino de trabalhadores-imigrantes ilegais (à espera da legalização) oriundos de Portugal.

A personagem principal, é apelidado por todos como ‘Mãe’ e, juntamente com o seu amigo mais próximo e braço-direito, interpretado pelo ator Romeu Runa – um tratador de galgos de corrida – servem “intermediários”, que têm como função fornecer mão-de-obra barata a um matadouro de aves, nas redondezas. 

Mas Tânia tem um sonho: com as poupanças que vai conseguindo à custa da escravatura dos outros e roubando do seu próprio marido, deseja transformar o degradado hotel com péssimas condições, paredes sujas, cheiro nauseabundo, sem claridade, onde abriga esses imigrantes num alojamento turístico para idosos reformados.

A sua vida dá uma volta quando conhece um homem, imigrante interpretado pelo ator Nuno Lopes, e a sua cunhada, a quem dá vida Rita Cabaço, que viajam até Great Yarmouth, para trabalhar e procurar o irmão e marido, já que deixaram de ter notícias dele. 

A escrita do guião, partilhada com Ricardo Adolfo (“São Jorge”), foi inspirada nos acontecimentos, testemunhos e relatos recolhidos pelo realizador junto dos trabalhadores portugueses da Bernard Matthews (a maior fábrica de abate e transformação de perus da região) e de cidadãos ingleses, nos anos que precederam o Brexit.

O filme conta ainda com muitos atores não profissionais (imigrantes portugueses e habitantes de Great Yarmouth).

Orgulhoso do trabalho da atriz no filme, Bruno Nogueira elogiou a mulher, Beatriz Batarda, na segunda-feira, no seu Instagram. "Estreia esta semana o trabalho mais arrasador que a vi fazer. Parabéns a todos os envolvidos neste filme em forma de Beatriz", escreveu o artista.