O grande vencedor dos Óscares

Os responsáveis e fãs de ‘Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo’ tiveram uma noite memorável depois deste filme ter arrecadado sete vitórias nos Óscares, incluindo o de Melhor Filme do Ano. Brendan Fraser e Michelle Yeoh venceram os Óscares de melhores atores.

O grande vencedor dos Óscares

A certa altura no filme ‘Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo’, Waymond Wang (interpretado por Ke Huy Quan) alerta Evelyn Wang (Michelle Yeoh) que o «universo é tão maior do que aquilo que conseguimos compreender».

A premissa deste (louco) filme é que indivíduos talentosos conseguem conectar com os seus alter-egos dos diferentes multiversos (uma teoria sobre o conjunto de universos alternativos onde a mesma pessoa vive diferentes realidades) de forma a usar os seus talentos.

Quem prestou atenção à cerimónia dos Óscares, que aconteceu na madrugada de domingo, ou às notícias que saíram após o evento, deve ter sentido que estava numa diferente realidade do multiverso, dada a surpresa desta joia indie, realizada pela dupla Daniels (Daniel Scheinert e Daniel Kwan), ter arrecadado a maior parte das estatuetas douradas, vencendo 7 categorias diferentes.

Apesar de ter sido lançado numa época que não é comum para os filmes mais aclamados (em Portugal foi no início de abril) e de ser visto como uma divertida e excêntrica longa-metragem, nos últimos meses ‘Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo’ foi adquirindo tração para ser um dos favoritos dos Óscares. E, no passado domingo, confirmou este estatuto vencendo algumas das principais categorias, nomeadamente, Melhor Filme do Ano, Melhor Atriz (principal e secundária, Michelle Yeoh e Jamie Lee Curtis, respetivamente), Melhor Ator Secundário (Ke Huy Quan), Melhor Argumento Original, Melhor Realizador e Melhor Edição. 

Estas vitórias foram históricas para o certame, com Yeoh (’007 – O Amanhã Nunca Morre’, ‘O Tigre e o Dragão’, ‘Asiáticos Doidos e Ricos’) a tornar-se a primeira vencedora de Melhor Atriz natural da Malásia, e a atriz e Quan (’Indiana Jones e o Templo Perdido’, ‘Os Goonies’) são ainda os primeiros atores asiáticos a vencer no mesmo ano. 

Um facto curioso das vitórias deste filme foi a elevada idade dos seus protagonistas galardoados, com Curtis (’Halloween, Um Peixe Chamado Vanda’), aos 64 anos, a tornar-se a oitava mulher mais velha a vencer o Óscar de Melhor Atriz Secundária. 

Yeoh, aos 60 anos, tem a mesma idade que Katharine Hepburn e Frances McDormand, a nona e décima mulher mais velha a vencer o Óscar de Melhor Atriz Principal, respetivamente, quando estas venceram o prémio.

A redenção de Fraser e o sucesso de ‘A Oeste Nada de Novo’

Uma das mais interessantes narrativas desta época de prémios cinematográficos foi o percurso de Brendan Fraser (’A Múmia’, ‘George – O Rei da Selva’, ‘Patrulha do Destino’), outrora um dos mais promissores «leading man» de Hollywood, que acabou por ser afastado da indústria após uma agressão sexual por parte do Presidente da Hollywood Foreign Press Association.

Este crime, assim como diversas cirurgias que foi obrigado a fazer devido aos esforços que aplicou nos seus filmes, conduziu o ator a uma depressão, problemas físicos e pessoais, como o seu divórcio, segundo o próprio relatou em diversas entrevistas.

 Lentamente, o ator tem regressado ao ativo, na televisão e com pequenos papeis em filmes, e, com ‘A Baleia’, realizado por Darren Aronofsky (’Requiem for a Dream’, ‘Cisne Negro’, ‘O Wrestler’), Fraser teve a oportunidade da sua vida e de ser novamente iluminado pelas luzes da ribalta.

 ‘A Baleia’ conta a história de um professor de inglês, Charlie, recluso e com obesidade mórbida, que tenta (re)conectar-se com sua filha adolescente. Numa autêntica viagem autodestrutiva, auxiliada por um fato que acrescentava cerca de 136 quilos ao ator, Fraser entregou uma das performances mais emotivas do ano, o que lhe valeu a vitória sobre Austin Butler (’Elvis’), Bill Nighy (’Viver’), Colin Farrell (’Os Espíritos de Inisherin’) e Paul Mescal (’Aftersun’).

Para além de ‘Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo’ e ‘A Baleia’, que venceram sete e dois Óscares, respetivamente, o outro filme a vencer diversas categorias foi a produção alemã da Netflix, ‘A Oeste Nada de Novo’. Considerado o Melhor Filme Internacional, ‘limpou’ categoria técnicas como Melhor Banda Sonora Original, Cinematografia e Design de Produção. 

Este filme acompanha as traumatizantes experiências e angústias de um jovem soldado alemão na frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, uma adaptação do filme com o mesmo título de 1930, tornando-se o primeiro filme alemão a ser nomeado para melhor filme do ano.

A Netflix conquistou seis prémios, incluindo o filme do Pinóquio, na categoria de melhor filme de animação, e melhor música original, Naatu Naatu, que surge no filme indiano ‘RRR’, sendo a segunda distribuidora mais bem sucedida, superada apenas pela A24, responsável por filmes como ‘Tudo Em Todo o Lado Ao Mesmo Tempo’ e ‘A Baleia’.

Mas a noite não foi apenas de glórias, com diversos filmes, elogiados pela crítica e amados pelos fãs, a regressarem a casa sem prémios, como ‘Tár’, onde Cate Blanchett era considerada a favorita para vencer o Óscar de Melhor Atriz, pelo seu papel como Lydia Tár, ‘Os Fabelmans’ de Steven Spielberg, ‘Triângulo da Tristeza’ de Ruben Östlund, ‘Babylon’ de Damien Chazelle ou ‘Os Espíritos de Inisherin’ de Martin McDonagh.

Este último protagonizou uma das situações mais caricatas da noite, com a burra Jenny (uma personagem central do filme) a aparecer em palco. No entanto, segundo meios de comunicação norte-americanos, este não era o mesmo animal utilizado no filme, era apenas um espécime semelhante. 

Quem também regressou a casa sem Óscar foi a dupla portuguesa, João Gonzalez e Bruno Caetano, cuja curta-metragem animada, ‘Ice Merchants’, se tornou o primeiro filme português nomeado para Óscar.