Jimmy Hoffa. Um dos mais poderosos rostos do sindicalismo

“Ele via o mundo em termos de relações de poder”, conta Chris Wright, professor de História da City University of New York.

Quando a Intersindical estava a nascer, o norte-americano James Riddle “Jimmy” Hoffa terminava o mandato enquanto líder do International Brotherhood of Teamsters (IBT), o maior sindicato dos EUA à época, sendo que ocupou o cargo entre   1957 e 1971. Desapareceu em 1975 e, até hoje, não se sabe do seu corpo: desconfia-se que terá sido morto pela máfia. Mas a sua marca no sindicalismo ficou e é indiscutível.

Quem tem vindo a estudar o percurso de Jimmy Hoffa é Chris Wright, professor de História no Hunter College da City University of New York, com especialização em História do Trabalho dos EUA. “Jimmy Hoffa era um homem contraditório, mas pelo menos tinha uma qualidade que era fundamental para a sua personagem: o realismo brutal. Ele via o mundo em termos de relações de poder; ele rejeitou todas as ideias ideológicas, ilusões e mistificações (como ele as via), do comunismo ao liberalismo e até o cristianismo da sua mulher”, começa por explicar em The Life and Times of Jimmy Hoffa (2019) e frisa em declarações ao i.

“Foi assim que ele apoiou políticos republicanos apesar de frequentemente soar como marxista. Foi tudo em nome do realismo, do que fosse necessário para avançar e ajudar outros a progredir. A sua atitude em relação ao sistema jurídico era característica. Como um casal de observadores académicos que o conhecia bem escreveu: ‘Para Hoffa, a lei não é algo a ser respeitado, mas sim um conjunto de princípios projetado para perpetuar aqueles que já estão no poder e algo para os outros ‘contornarem’. Assim, Hoffa sente-se tranquilo sobre a sua experiência em criar brechas legais e praticar a arrogância”, sublinha o autor de Popular Radicalism and the Unemployed in Chicago during the Great Depression (2022).

“Com efeito, ele pensava que o Estado era capitalista; portanto, ele tinha pouco respeito pelo corporativismo liberal idealista de um Reuther ou dos irmãos Kennedy”. Neste campo, importa referir que, em 1961, o procurador-geral dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy, um dos irmãos mais novos do Presidente Kennedy, fez do combate ao crime organizado uma das suas prioridades. Deste modo, três anos depois, Hoffa foi condenado por fraude e tentativa de suborno de um jurado, tendo sido preso em 1967.

“Enquanto ele reconheceu o valor e a necessidade de ter um estado de bem-estar social, no fundo ele achava que a classe trabalhadora deveria cuidar de si mesma, fazer o que fosse necessário para sobreviver e lutar constantemente contra um inimigo hostil”, redigiu e realça agora acerca do homem que  nasceu em fevereiro de 1913, no oeste do estado de Indiana, numa família de origem alemã e irlandesa, e desde cedo usou a sua influência para beneficiar a máfia, aproveitando os contactos que tinha no crime organizado para expandir igualmente o seu próprio poder.

“Jimmy Hoffa costumava dizer que seria esquecido dez anos após a sua morte. Este foi um julgamento estranhamente pouco inteligente. 44 anos após o seu assassinato, em 30 de julho de 1975, Hoffa ainda é famoso o suficiente para que um dos filmes mais celebrados de 2019 seja sobre o homem que provavelmente o matou, Frank Sheeran”, diz sobre O Irlandês, dirigido por Martin Scorsese, com Robert De Niro como Sheeran, Al Pacino como Hoffa e Joe Pesci como Russell Bufalino, o chefe que aprovou o assassinato. “Para um líder trabalhista, tal nível de fama não é apenas extraordinário; é único”, salienta Wright.