“É cada vez mais difícil fazer televisão”

Até há poucos anos tinha pudor em dizer que era atriz. Hoje, não tem dúvidas que é isto que quer fazer para o resto da vida. O cor-de-rosa do seu conjunto contrasta com o azul marinho que lhe desenha os olhos. Aos 34 anos é uma das caras mais conhecidas da televisão portuguesa. No Hotel…

É uma das caras mais adoradas da televisão portuguesa, mas diz muitas vezes que tem mau feitio…

Eu tenho muito mau feitio e acho que está relacionado com o facto de ser muito exigente (se bem que cada vez sou menos, porque acho que temos de começar a escolher as nossas guerras). Simpática, tem dias… Não sou aquela pessoa que chega a um sítio e, de repente, é uma alegria. Tenho muitos dias. Mas, se calhar, as personagens que eu faço acabam por ser um bocadinho mais próximas do público. É engraçado porque, apesar disso, muitas vezes passo por antipática. As pessoas estão à espera disso da minha parte, criam muitas expectativas… 

E como se gerem essas expectativas?

É mesmo uma questão de feitio e, às vezes, as pessoas chegam e, como lhes entramos em casa todos os dias, querem que lhes façamos uma festa, como se fossem da família. Como se fossem uma prima que já não vemos há muito tempo… A verdade é que eu não tenho isso. É a mesma coisa que acharem que eu sou super social e popular. Eu sou zero. Portanto, essa coisa da simpatia, às vezes, desvanece-se um bocadinho. 

E o sol do Ramalhal brilha sempre de uma forma especial? Como é que foi a sua infância?

Sim! É espetacular! Parecido com este, tem assim uma boa energia e um bom ambiente. A minha infância foi passada debaixo desse sol. Fiz a escola lá e comecei a trabalhar aos 14 anos. Portanto, a minha infância foi Ramalhal, escola e, depois, Morangos [com Açúcar]. Ou seja, lembro-me muito mais de mim na televisão do que no Ramalhal [risos]. Comecei a trabalhar muito miúda. Mas claro que é um sítio muito especial para mim. Adorava viver lá… Não estou a conseguir convencer o Diogo [Valsassina, namorado]. Mas é normal, na fase de vida em que estamos: com o teatro, as novelas e os horários que temos é muito complicado.  

Mas é um sítio onde vai recarregar baterias…

É um sítio onde eu vou todas as semanas porque tenho lá familiares e onde eu não quero deixar de ir. Mas já não passo lá férias, nem vou meses para lá. É tão casa que não o vejo como: ‘Vou ali passar uma temporada!’. Faz parte das minhas semanas e dos meus meses.

Crescer numa terra mais pequena moldou a sua personalidade?

Eu acho que hoje em dia e cada vez mais isso se vai notar menos, porque acho que as cidades e os meios rurais estão cada vez mais fundidos, até porque as pessoas da cidade procuram cada vez mais esse estilo de vida e as pessoas dessas aldeias também já não estão tão isoladas como estavam há 20 anos. O que é que eu sinto de diferente de mim para o Diogo, por exemplo, que cresceu na capital? Eu tinha muito mais espaço exterior e a minha vida é muito mais no exterior do que no interior. Se calhar tenho menos hobbies sozinha do que as pessoas que vivem mais na cidade. Eu sou mais de rua, de comunidade, de andar com os meus avós para aqui, com o meu pai para ali. Toda a gente da minha idade tem memórias dos computadores. Eu não tenho memórias nenhumas tecnológicas, nem de estar ali agarrada à playstation ou de estar sozinha no quarto a ouvir música. As minhas memórias são todas muito mais exteriores. Se calhar se me perguntares em que altura se semeiam as batatas, eu já sei melhor [risos].

Sempre foi muito próxima dos seus avós. De que forma a inspiram?

É engraçado perguntares isso, porque ainda ontem estive a ver uma entrevista com uma peixeira da Figueira da Foz, que estava a falar da avó. E é mesmo engraçado… Ela conseguiu definir o que eu sinto pela minha. A avó deu-lhe uma profissão… Deu-lhe uma doutrina, tanto de valores como profissional. Identifico-me um bocadinho com isso. Existem os meus pais e os avós. No meu caso, primeiro vieram os meus avós, porque eu passava muito tempo com eles. Entrei para a escola muito tarde… Tudo o que são valores, a empatia, o respeito pela natureza, pelos animais, vem tudo mais dos meus avós. Acho que isso é mesmo verdade. A senhora deve ter 80 anos e eu identifiquei-me com aquilo. 

A sua primeira participação em televisão foi aos 12 anos, numa série da RTP, com um argumento bastante pesado. A sua personagem era vítima de abuso sexual. Como é que essa menina via a representação na altura?

Eu sempre quis fazer coisinhas… Em miúda era muito mais comunicativa e muito mais simpática do que aquilo que eu sou hoje [risos]. Eu nunca tive o sonho de ser atriz, mas queria começar a fazer algumas coisas para ganhar o meu dinheiro. Chateei muito a minha mãe e ela lá me inscreveu em castings. Acabei por fazer essa série difícil, mas sem noção nenhuma do peso do argumento. Não sofri nada, não fiquei com traumas, não me preparei nada… Tudo normal. Até porque eu nem tive acesso à história completa. Lembro-me que as cenas mais violentas foram feitas com pessoas da equipa. Isso ajudou muito. Eu não tive noção nenhuma. Entretanto, surgiram os Morangos com Açúcar…Foi tudo muito natural.

Uma coisa que de uma série de verão, passou a ser grande parte da sua vida a determinada altura… O que é que mais recorda desses tempos?

Era muito diferente, porque não havia aquela coisa de ‘Eu quero ser atriz!’. Aquilo para mim era uma experiência única e cada dia era único. Se calhar, hoje em dia, estás a trabalhar sempre ansiosa para chegar às cinco da tarde e ires embora. Naquela altura não havia isso. Era uma família, era uma escola. Foi onde eu cresci. Acho que é assim que recordo [os Morangos com Açúcar], com muito carinho. 

E sente que ainda existe algum tipo de preconceito relativamente aos ‘Moranguitos’?

Não… Não sinto isso. Aliás, eles estão a fazer a série outra vez. É porque se calhar precisam de uma nova fornada, sendo que há muita gente que está a trabalhar lá e que trabalhou naquela altura. Não sinto nada esse estigma. Eu acho que as pessoas, quando têm alguma coisa que acrescenta ao mercado, seja talento, seja físico, o que for, acho que não vão sentir isso, porque depois o mercado obviamente que faz a sua triagem normal – e ainda bem que o faz. Se não, toda a gente podia ser tudo ou ter jeito para tudo e não é assim. Há bons e maus profissionais, obviamente, mas acho que o tempo se encarrega de fazer uma triagem. 

Nunca sentiu preconceito?

Eu nunca senti preconceito, antes pelo contrário. Acho que se os Morangos não tivessem sido a minha montra, eu talvez não tivesse chegado aqui. O que eu penso muitas vezes é que se eu tivesse feito o casting este ano, acho que a beleza e a imagem, que é o primeiro impacto, e que acredito que seja muito importante na escolha, se tem sofisticado. Não sei se seria escolhida. Agora se há preconceito? Nunca senti. Como não sinto nenhum preconceito no teatro em relação a novela, como não sinto nenhum preconceito em cinema. Cinema tenho feito pouco, mas também porque estou sempre a trabalhar muito seguido em televisão. Não é que não tenham surgido convites, por acaso, no último ano e meio surgiram alguns. 

E quando é que se deu o ‘clique’?

Foi passado muito tempo. Talvez no projeto ‘Conta-me como Foi’. Eu fazia sempre os projetos a achar que eram os últimos. Sinto que essa série me abriu portas para outras coisas. Era uma personagem de época e tive que estudar e ler algumas coisas sobre aquilo, porque era uma miúda e não eram os Morangos. Eu estava a embarcar numa coisa um bocadinho maior. Depois porque comecei a ver outro tipo de texto e de produção. E não é que a novela esteja errada, mas de repente foi outra coisa. Pensei: ‘Ok, se calhar posso fazer isto e ir a vários universos, porque isto também me expande enquanto pessoa, obriga-me a trabalhar de outro maneira, é mais estimulante’. 

E com o regresso dos Morangos, sente alguma coisa? Nostalgia?

Eu não sinto grandes saudades. Gosto de viver o agora e o que passou foi bom. Mas senti uma nostalgia boa no concerto dos D’ZRT. Senti uma coisa mesmo muito gira ao assistir ao espetáculo. E é engraçado porque o Diogo, que vive comigo há anos, me disse: ‘Guiomar, ainda no outro dia disse à Diana – a minha agente – que não te conhecia. Parecia que tinha voltado no tempo’. Falava com todas as pessoas como se fossem minhas amigas e assisti ao concerto como se fosse apenas uma espectadora que fez parte daquilo. Foi muito estranho.

Mas agora seria estranho voltar a ser a irmã do seu atual marido na novela ‘Festa é Festa’, o Pedro Teixeira…

Isso é verdade. Por acaso seria uma experiência interessante… Mas se faria sentido eu regressar? Não sei… Acho que fazia sentido se eu tivesse uma história que me desafiasse, uma coisa que eu nunca tenha feito. Ou seja, para voltar tem de ser para dar um passo em frente. Cheguei até aqui, mas deem-me qualquer coisa para me sentir realizada. Estar a ir lá só por ir, acho que não faz muito sentido. Agora, se fosse uma coisa que me desafiasse mesmo, mesmo que fosse uma cena, duas cenas, mas fosse completamente disruptivo daquilo que foi…

E sente que chegámos a uma altura em que este tipo de projetos fazem falta? Precisamos de ligar mais os jovens à televisão?

Acho que no formato em que está a ser feito, faz muita falta, porque está a ser feito com muito mais cuidado. Eu já vi a imagem, a luz é incrível, há todo o tipo de corpos, todo o tipo de maquilhagens, há todo o tipo de roupa e eu acho que a nossa sociedade, principalmente os mais jovens, estão a precisar disso. Estamos a falar de enquadramento, de identificação, de não ser sempre a mesma coisa, o mesmo género. Embora eu sinta que a novela ‘Festa é Festa’, já nos trouxe um bocadinho isso, acho que faz todo o sentido. Tudo o que faça as pessoas consumir aquilo que é nosso, para mim é espetacular. 

Mas até há pouco tempo não dizia que era atriz. Tinha pudor. Porquê? 

Se calhar porque não foi logo no primeiro projeto que eu decidi que era isso que queria ser… Foi uma coisa que eu fui construindo e, na verdade, quando comecei a refletir mais sobre isso, perguntei-me: ‘Se não fosses atriz serias o quê?’. Nem sei muito bem… Nunca me testei noutra coisa. Agora sei que é isto que eu quero fazer para o resto da vida. Não quero abrir empresas, não quero nada. Quero mesmo fazer isto. Claro que se tiver estabilidade financeira posso aceitar outro tipo de projetos, posso permitir-me descansar também, mas eu quero fazer isto para o resto da vida. 

Em teatro faz muito menos comédia do que em televisão. Mas as pessoas têm um bocado tendência para a rotular como atriz de comédia. Como lida com isso?

Eu acho que a comédia chega mais facilmente às pessoas, não é? Porque nós quando vamos procurar um espetáculo, nem sempre vamos procurar um espetáculo pesado. Eu até como espectadora, penso algumas vezes assim. Ou seja, eu acho que a comédia chega mais rapidamente às pessoas e, se calhar, temos mais público num género mais leve. Mas é engraçado porque em televisão, sinto que a Aidinha [personagem que interpreta na novela ‘Festa é Festa’] é assim o primeiro papel mesmo cómico que eu faço. Os outros não eram nem carne nem peixe. Mas como também nunca fiz uma vilã para contrastar, não há grande memória de personagens mais densos. 

E a representação é empatia? Como é que se dá o processo de criação das suas personagens?

Nós em televisão não temos muitos ensaios e eu gostava muito que houvessem mais. Aliás, sinto que estamos a ter alguns projetos em que se prova que isso é realmente notório, porque o tempo depois se perde em platô à procura de algumas coisas é muito maior. Mas isto é uma coisa um bocadinho portuguesa… Nós fazemos tudo em cima do joelho. No processo eu tento apoiar-me nos meus colegas, porque nós, apesar do personagem ser nosso, não estamos a trabalhar sozinhos… Às vezes eu posso ter uma ideia espetacular, mas não funcionar para aquele projeto. Acho que temos que nos apoiar muito nos colegas, eu gosto sempre de ter alguém em mente, referências que existam, mas que não seja por um trejeito, por uma forma de falar, por um ritmo. Mas isso é uma coisa que comecei a descobrir recentemente, há dois, três anos. Não é uma coisa que eu tenho feito sempre. Acho que também vou evoluindo e vou arranjando outras formas. Ou então, se calhar com experiências que tens no teatro, alguma encenadora que te desafiou a fazer a coisa de outra maneira e tu guardas aquilo e, depois, quando estás sozinha, experimentas. Os workshops também te ajudam a descobrir outros limites. Mas apoio-me muito nos meus colegas e no texto, que normalmente diz tudo. 

Mas em teatro e em televisão deve ser muito diferente…

É muito diferente, temos principalmente mais tempo. Os textos são muito diferentes, há outro ritmo até na própria equipa. É cada vez mais difícil fazer televisão. Às vezes estamos a falar sobre projetos, tipo o ‘Festa é Festa’, que são longos, vencedores. Toda a gente vai de encontro àquilo que o projeto pede. Estamos todos muito sintonizados e funcionamos todos muito bem uns com os outros. Agora, depois disto, não sei o que é que vou fazer em televisão. Eu tenho medo de defraudar as pessoas, de ser péssima, de não saber fazer mais nada. Esse medo existe sempre e cada vez mais.

Agora existem muitas polémicas em torno dos castings, do dar muita importância à beleza e números de seguidores…

Isto da formação é muito relativo. Cada vez mais há mais espaço para todos. Eu olho para a série ‘Rabo de Peixe’ e há espaço para todos. Olho para os Morangos, para o ‘Festa é Festa’, temos tantas pessoas diferentes, que vieram de vários lugares. Mesmo quando se diz que não se dá trabalho aos atores mais velhos, o elenco da novela tem imensos.  

E demora a despedir-se de cada personagem?

Não sei bem responder a essa pergunta. Agora, com a Aidinha, vou ter de demorar. Não quer dizer que não faça teatro. Há outros projetos mais pequenos, mas eu acho que uma novela de oito, nove meses… preciso de pelo menos cinco, seis meses para recuperar. Até porque ela tem muitos trejeitos, ela tem muitas coisas e eu, naturalmente e sem querer, às vezes vou lá, claro.

Qual foi o projeto que lhe encheu as medidas?

Depende. Se for de texto, diria que foi o ‘Conta-me Como Foi’. Foi um projeto muito forte. Mas lá está, porque também tem um lado pessoal onde aprendi muito. Se não tivesse feito aquilo, não tinha lido tanto sobre a história. Isso estimulou-me. Todas as peças que eu fiz no teatro, a mesma coisa, obrigaram-me a ler livros, a ver exposições… Acrescentaram-me. Eu gostei muito de fazer a novela ‘Perfeito Coração’. Sinto que foi o meu ponto de viragem para este trabalho mais rápido, mais corridinho. O ‘Festa é Festa’ vai ser sem dúvida um projeto como os Morangos. Se tivesse de fazer a linha da vida seria: Morangos, 20 anos tenho um projeto  com a mesma durabilidade, com o mesmo impacto, com algumas das mesmas pessoas. E acho que vai ser único e vamos todos chorar e fazer terapia quando isto acabar.

O ‘Festa é Festa’ está a ser um grande sucesso, mas algumas pessoas não acreditaram nele no princípio. Qual é o segredo? Porque é que este projeto é tão especial?

Olha, não faço ideia. Eu tive muitas dúvidas também. Já tinha a sinopse, os textos,  já tinha tudo e, só na primeira reunião, quando nós estávamos todos sentados é que tive noção do que é que poderia vir a ser. Estava tudo com uma energia de medo, de expectativa, de ansiedade. Acho que o segredo foi esse: nós termo-nos entregue desta forma. Agora já estamos um bocadinho mais cansados. Acho que não perdemos muita qualidade, mas naturalmente as coisas são feitas com outra rapidez. Vamos ter agora dois meses de paragem que eu considero que são muito importantes para nós. Eu acho que quanto mais televisão faço, menos percebo dela e das audiências e do público, porque nós, na realidade, nunca sabemos o que é que o público vai gostar, o que é que se vai identificar ou o que é que resulta. Eu acho que foi um acontecimento feliz. Eu acho que nós temos bons meios técnicos, os autores têm ideias incríveis, são super criativos. Nós estamos sempre muito estimulados. É uma novela um bocadinho diferente, porque em vez de ter a história do casal, da rica, do pobre, da filha, de repente somos seis amigos numa aldeia. 

Porque as pessoas precisam de se rir…

As pessoas precisam muito de se rir! 

E é um insulto ou um elogio fazer de mãe de uma rapariga apenas 11 anos mais nova na vida real [A atriz Ana Marta Contente, que interpreta Betinha, tem 23 anos]?

Na novela, eu tenho 38 ou 39 anos. A minha filha tem 20. Pode ser. No início custou-me muito porque não tenho filhos. Então para mim era: ‘O que é que eu vou fazer?’. Agora já estou habituada. No início talvez me tenha custado mais porque nós tínhamos muitas cenas mais sensíveis, coisas de mãe e filha. Eu queria conhecer esse lugar.

A Ana e o Diogo estão juntos há muitos anos. O amor é mais fácil quando crescemos com o nosso melhor amigo?

O Diogo não é nada o meu melhor amigo! [risos] Melhor amigo talvez não seja a palavra certa, mas claro que sim! Como crescemos juntos e já é tanto tempo, as coisas são mais fáceis. Mas os objetivos individuais e profissionais não são os mesmos, a maneira de trabalhar é muito diferente, sempre que trabalhámos um com o outro foi muito irritante, tanto que o Diogo até tem uma brincadeira em que diz: ‘Eu não quero trabalhar contigo enquanto puder não trabalhar contigo’. Agora, acho que como crescemos juntos, claro que vamos adquirindo algumas coisas, valores, ideais. Acho que se agora me separasse seria muito complicado meter alguém lá em casa. Essa pessoa já vem com vícios. Acho que a aceitação deve ser mais difícil. Tens que te anular um bocadinho mais, tens que ceder um bocadinho mais. E nesta fase, já não.

Como é que é partilhar esta profissão tendo em conta o mediatismo?

Nós em casa falamos dos projetos um do outro q.b. Damos uma opinião sobre as coisas um do outro, mas não perdemos muito tempo a contar as tricas. Nós temos uma abordagem ao trabalho e ambições muito diferentes. Apoiamo-nos muito um ao outro.  

Nesta altura em que temos sido cada vez mais reconhecidos lá fora por conta de séries e filmes, tens planos internacionais?

Acho que toda a gente gostava de fazer qualquer coisa lá fora. Agora se me perguntares se eu gostava de me mudar para Los Angeles, não! Tudo o que seja para nos acrescentar, é bem vindo, não é? Mas não é o meu foco. Uma experiência de dois ou três meses, tudo bem. Mudar-me de armas e bagagens, não! Nem pensar. Até porque eu acho que é uma grande mais valia para esta geração e é espetacular, de repente a internacionalização, ser também uma etapa. Quando eu fiz os Morangos não era…  

E tem algum projeto de sonho? Tanto na representação, como na apresentação, ou na culinária, já que também é uma grande paixão…

Sei que daqui a uns tempos gostava de acabar o ‘Festa é Festa’ e descansar algum tempo. Depois disso, quero fazer uma coisa completamente diferente. É o que vai mesmo ter de acontecer. Não quero estar cinco ou seis anos no mesmo registo. Quero que acreditem em mim enquanto atriz. Agora projetos de sonho, uma peça de sonho, não!  
Até porque esta área continua a ser muito incerta?  Não posso dizer isso porque seria só um bocado ridículo dizer que sim. Para mim, na minha experiência, estou muito mais segura porque tenho um contrato com a TVI. Agora, para algumas pessoas, eu acho que sim. Mas eu acho que também cada vez se produz mais. Se formos ver, se calhar, no teatro, os subsídios que algumas pessoas conseguem para fazer os seus próprios projetos são mais pequeninos e têm mais dificuldades. É uma área intermitente e emergente, mas eu acho que, hoje em dia, todas as áreas o são. Eu tenho dois irmãos mais novos e sinto que estão sempre com as mesmas ansiedades que os meus colegas. Acho que está tudo assim, que estamos todos um bocadinho no mesmo barco. Acho que mais do que isso, a mim o que me preocupa são pessoas com 30, 40 e 50 anos que não conseguem comprar casa. Agora, os atores tiveram sempre este problema. Além disso, acho que estamos numa fase em que se produz muito e, de repente, tens a RTP a fazer telefilmes, o que é ótimo; temos tido muitas séries, como a ‘Rabo de Peixe’ que nos dão uma internacionalização incrível; quatro ou cinco novelas a ser produzidas nos canais privados; os próprios concursos de entretenimento, têm cada vez mais figuras públicas, que são ali um balão de oxigénio… Claro que nem toda a gente faz televisão e eu só posso falar do meio em que estou.

E o que sente sobre esta nova geração de argumentistas, atores e realizadores…

A RTP tem efetivamente apostado em séries que lhes dão voz. Não faltam argumentistas, faltam pessoas que arrisquem e peguem neles… Se formos fazer uma retrospetiva da televisão nos últimos anos, melhorou-se muito em qualidade, mas não em diversidade de argumento. Os próprios programas dos domingos… Há anos que tu vês quase sempre a mesma coisa. E os programas diferentes, as pessoas veem? Não! Por isso, acredito que para quem manda e para quem aposta é altamente assustador…

Mas tivemos até há pouco tempo, na RTP, a série ‘Emília’, extremamente bem feita.

A Beatriz Maia é uma atriz incrível, a Filipa Amaro escreve muito bem! E eu acho que essa geração tem mesmo de ser apoiada. Mais do que ser apoiada, eu acho que deve ser misturada. Acho que seria altamente interessante uma pessoa que mande num canal ter uma pessoa de 20 e tal anos ao lado. Partilharem ideias… Acho que esse intercâmbio seria não só prazeroso como construtivo. Esta nova geração está cheia de ideias a borbulhar. Falta essa mistura.

Além disso…

Falta-nos um bocadinho outra coisa em Portugal… Como nós não temos a lei do mecenato muito presente, de repente, para um investidor que tenha uma empresa, 20 ou 30 mil euros não vão fazer muita diferença, podia-se investir numa peça de teatro. Gostava que houvesse aqui mais um bocado de intercâmbio, mas acho que isso também tem a ver com a falta de aposta na cultura a longo prazo e que não te leva a este tipo de educação. Era tão fixe que isso acontecesse. Se calhar algumas empresas grandes que investem em publicidade, podiam usar esta lei e apoiar pequenos artistas emergentes. Era muito interessante.