O secretário-geral na NATO, Jens Stoltenberg, considerou que a cimeira que se realizou em Vilnius, na Lituânia, foi um encontro «histórico». Pode ter sido… para a Suécia, para a Turquia e, de certa forma, para os Estados Unidos; já para Volodymyr Zelenski, as conclusões finais foram «boas, mas se tivesse havido convite seria ideal».
O Presidente ucraniano partiu para Vilnius com três prioridades: conseguir um novo pacote de apoio militar, obter garantias de segurança para a Ucrânia e garantir a entrada na NATO. Se as duas primeiras foram conseguidas, a última – quiçá a mais importante do ponto de vista estratégico e de motivação para as tropas ucranianas – ficou por cumprir. Sem unanimidade, ficou decidido que enquanto durar a guerra não há condições para a Ucrânia integrar a organização, e há dois países a impor essa condição: Estados Unidos e Alemanha. Logo estes dois. Tanto um como outro têm uma visão da guerra diferente da da Ucrânia e querem limitar o conflito e evitar uma escalada militar que leve a NATO a entrar numa guerra com consequências imprevisíveis.
O caminho da adesão
No último dia da cimeira, Jens Stoltenberg reiterou que a Ucrânia está «no caminho para a adesão», mas todos perceberam que a Aliança Atlântica está efetivamente dividida e que o caminho anunciado vai ser longo: «Iremos lançar o convite para a Ucrânia se juntar à NATO quando houver unanimidade entre os membros e existirem condições», explicou o secretário-geral. Nesta declaração foi mostrado o caminho para a adesão, mas não foi estipulada qualquer data.
No plano formal, esta decisão não foi muito além do que já tinha acontecido em 2008, quando a Ucrânia recebeu idêntico convite, dessa vez com forte apoio dos Estados Unidos, coisa que não aconteceu agora. Os americanos continuam a ser os maiores fornecedores de material militar aos ucranianos – incluindo as bombas de fragmentação, que têm gerado grande discórdia internacional – mas também têm linhas vermelhas que não querem ultrapassar para não entrar em conflito direto com a Rússia, e por isso preferiram deixar a Ucrânia no limbo. Este jogo de palavras desagradou a Volodymyr Zelensky, que esperava uma mensagem mais forte do Ocidente. No final do primeiro dia da cimeira, fez declarações duras e emocionais. «É inédito e um absurdo não haver nem um prazo, nem o convite para adesão da Ucrânia», disse o Presidente ucraniano, insistindo: «A incerteza e a fraqueza demonstram fragilidade».
A diplomacia ao mais alto nível funcionou e, no dia seguinte, o Presidente ucraniano mudou a agulha e admitiu que os ucranianos perceberam que não podem entrar para a NATO enquanto estiverem em guerra: «Entendo as decisões tomadas, ninguém quer uma guerra mundial».
Esse é o principal argumento e preocupação de alguns Estados-membros. A entrada da Ucrânia na Aliança Atlântica poderia levar à aplicação do Artigo 5.º, que estipula que um ataque armado contra um ou vários países da NATO será considerado um ataque a todos, e que devem prestar assistência ao país atacado de modo a garantir a segurança no Atlântico Norte.
A cimeira ficou aquém das elevadas expectativas de Kiev, mas fortaleceu as manifestações de apoio à Ucrânia, que conseguiu agilizar o road map de adesão, ao contrário da Geórgia e Bósnia que têm de cumprir um plano mais completo. Quando a guerra terminar a Ucrânia tem quase entrada direta na NATO.
G7 protegem Ucrânia
Consciente de que ficou algo por dizer ou fazer em Vilnius, o grupo dos sete países mais industrializados do mundo (Alemanha, França, Estados Unidos, Itália, Reino Unido, Canadá e Japão) reuniu à margem da cimeira e prometeu ajuda militar a longo prazo à Ucrânia através do envio de aviões, mísseis, veículos blindados e artilharia.
Joe Biden considerou este compromisso «uma declaração poderosa» que vai reforçar as capacidades de defesa em todos os domínios.
Zelensky mostrou-se agradado com a decisão e adiantou: «Iremos construir uma nova arquitetura juridicamente vinculativa de tratados de segurança bilaterais com os países mais poderosos». O chefe de Estado não perdeu a oportunidade para dizer que «as garantias de segurança são importantes para o povo ucraniano, mas não devem substituir a adesão à NATO».
A intenção de garantir a segurança da Ucrânia foi seguida por mais oito países, que se propõem assegurar o fornecimento de material de guerra e o fluxo constante de munições.
Portugal foi um dos países que subscreveu as garantias dadas à Ucrânia.
O apoio manifestado pelo G7 motivou uma reação histérica de Moscovo, com o enigmático porta-voz do presidente russo, Dmitri Peskov, a dizer que «esta decisão é um erro grave e potencialmente muito perigosa. Ao darem garantias de segurança à Ucrânia, esses países estão a invadir a segurança da federação russa», e terminou com mais uma intimidação «é uma situação perigosa a curto, médio e longo prazo».
Luz verde à Suécia
A reunião que juntou os representantes dos países que fazem parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte teve momentos caricatos e um volte-face inesperado no caso sueco.
Poucas horas antes do início dos trabalhos pairou no ar a ideia de que a cimeira poderia fracassar quando o Presidente turco Tayyip Erdogan ameaçou vetar a entrada da Suécia na NATO dando a seguinte justificação: «Primeiro, abram o caminho para a adesão da Turquia à União Europeia e, depois, abriremos o caminho para a Suécia».
Um dos principais temas da reunião de Vilnius estava em risco de sair da agenda.
Mas se a posição de força de Erdogan criou alguma confusão, o pessimismo duraria muito poucas horas. No final do dia, o Presidente turco surpreendeu ao anunciar que vai enviar o quanto antes o protocolo de adesão da Suécia à NATO para que seja ratificado pelo Parlamento turco.
Levantados os obstáculos da Turquia, a Suécia viu assim aceite a sua candidatura a ser o 32.º membro da Aliança Atlântica.
Ancara não deu qualquer explicação para a mudança de posição relativamente à Suécia, mas o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, ajudou a explicar o caso ao afirmar que a Casa Branca tinha pedido autorização ao Pentágono para vender 40 caças F-16 à Turquia para renovação da sua força aérea. Ficava, pois, explicada a boa vontade de Erdogan.