por João Sena
Os últimos dias ficaram marcados por vários ataques com mísseis e drones contra a cidade e o porto de Odessa, que danificaram várias instalações portuárias e áreas residenciais, causando seis feridos. Os ataques não fazem parte de uma ofensiva russa nessa região, são antes uma resposta à ação levada a cabo pelos ucranianos, mas sem grande efeito prático, na ponte de Kerch, que liga a Rússia à Crimeia ocupada. A reação de Moscovo, além de punir, pretende asfixiar economicamente a Ucrânia, ao atacar de forma perversa silos de cereais no porto de Odessa, onde estavam toneladas de cereais destinados à exportação.
Duas noites de intensos bombardeamentos danificaram vários armazéns no porto de Odessa e terão destruído um milhão de toneladas de alimentos armazenados para serem entregues em África e na Ásia e 60 mil toneladas de cereais destinados a outros países. As consequências são inevitáveis: vai sentir-se uma escassez de cereais, e o preço vai aumentar. Quem fica a ganhar com esta situação é a Federação Russa, que é quem neste momento consegue exportar cereais. A Europa vai ser, novamente, atingida, já que metade das exportações destina-se a países europeus. O alto representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, acusou a Rússia de estar a provocar uma crise alimentar global. Do lado russo, um porta-voz do Kremlin não falou nos cereais e justificou os ataques como uma medida que visava atingir infraestruturas militares e combustíveis, naquilo que é mais uma farsa de Moscovo.
O ataque ao porto de Odessa e o fim do Acordo dos Cereais, decidido unilateralmente pela Rússia, faz com que os agricultores ucranianos enfrentem novamente o risco de falência. A Ucrânia é um dos maiores produtores mundiais de cereais e a exportação é feita, por via marítima ,através do Mar Negro. A quebra desse acordo impede a saída desses bens e vai provocar a asfixia económica da Ucrânia que, em 2021, exportou 5,1 mil milhões de euros.
A União Europeia já reagiu e está a trabalhar numa alternativa para escoar os cereais através da Polónia, Bulgária e Roménia por via ferroviária, só que as viagens são longas e demoradas.
O fim do acordo levanta também o problema da segurança nessa zona. A Rússia já fez o aviso à navegação de que qualquer navio que transporte cereais no Mar Negro pode transportar material militar e que, por isso, pode ser atacado. Acontece que se atingir barcos de países que fazem parte da NATO isso pode ser encarado como um ataque à própria organização.
Ofensiva lenta
Na linha da frente há dificuldades para as tropas ucranianas por não disporem de todas as condições para lutar contra os invasores russos. Mijailo Podoliak, assessor do Presidente Volodymyr Zelensky, disse que a Ucrânia precisa de mais 300 veículos blindados e carros de combate, mais 80 caças F-16 e mais dez sistemas de defesa antiaérea Patriot. Nesse sentido, os Estados Unidos anunciaram um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia com novos sistemas de defesa antiaérea, mais munições e equipamento de desminagem. Os americanos decidiram também ajudar a economia com um apoio de 205 milhões de euros às empresas ucranianas. Nas regiões ocupadas de Luhansk, Donetsk e Zaporíjia, registaram-se violentos combates nos últimos dias. Na região a sul de Bakhmut as tropas ucranianas avançaram no terreno, mas a um ritmo lento.
No plano diplomático, ficou a saber-se que Putin não vai estar presente na cimeira do BRICS, que junta China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul, que se realiza na África do Sul em agosto, mas vai participar por videoconferência. O Presidente russo poderia ser detido ao abrigo do mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra. A Rússia e Vladimir Putin estão cada vez mais isolados.