A compensação do director demitido da PSP

Levantou-se por aí um sururu, por causa de o Governo ter criado um cargo com um salário milionário em Paris para o director da PSP que se demitiu após a manifestação de Policias que subiu as proibidas escadas da Assembleia da República, Paulo Valente Gomes.

a verdade é que ver a policia deixar alguém subir o que estava definido para todas as manifestações como perímetro de segurança proibido, ainda por cima a colegas seus, não deixou o governo bem visto. em qualquer país europeu, aquilo implicaria, no mínimo, a demissão do ministro da administração interna.

mas os últimos governos têm mostrado não apreciar estas éticas politicas do mundo civilizado. e, tendo o psd já escola no assunto (uma vez que um mne se meteu por caminhos ínvios, como era amigo do primeiro-ministro de então, tentou-se saldar o assunto com a demissão de outro ministro, o da educação – acabando por ter de cair o dito mne pela reacção negativa da opinião pública), desta vez o próprio ministro, com o maior dos descaramentos, exigiu outras demissões ao director da psp. este, o referido paulo azevedo gomes, com maior sentido da ética, resolveu demitir-se ele, e não pôr em causa mais ninguém na hierarquia abaixo de si. foi uma atitude bonita, e uma bofetada de luva branca no ministro da administração interna – que lá se salvou, por a opinião pública andar agora mais preocupada com a sua sobrevivência económica do que com uns policias também famintos que sobem as escadas do parlamento.

mas o resultado teria de ser este: o ministro, envergonhado, a vergar-se perante o oficial que lhe deu uma lição de ética, e a tentar compensá-lo com o que outros podem considerar uma forma de corrupção (imagino que para um oficial se trata apenas de aceitar um cargo que lhe dão; o erro, a haver, é de quem lho oferece).