Bola de Ouro: Ronaldo eleva estatuto da formação do Sporting

Com a conquista de mais uma Bola de Ouro por Cristiano Ronaldo, o Sporting entra numa nova dimensão do futebol mundial. O clube de Alvalade atinge um patamar acima do qual habitam apenas o Ajax e o Barcelona, agora os únicos que forjaram mais Bolas de Ouro do que os ‘leões’.

são talvez os três clubes mais famosos pelos talentos que saem dos seus escalões de formação e a segunda coroação de ronaldo como o melhor do mundo, depois de quatro anos de reinado de lionel messi, é o mais recente certificado de excelência do trabalho de base realizado no sporting.

se as seis bolas de ouro repartidas por johan cruyff e marco van basten são um marco da escola do ajax e as quatro recentes de messi ampliam o estatuto do barcelona como clube formador, esta terceira com raízes em alvalade, depois de também luís figo a ter arrecadado em 2000, eleva os ‘leões’ até ao pódio – a par dos argentinos do river plate, que deram ao mundo di stéfano e sivori, e dos modestos franceses do joeuf, de onde saiu michel platini (ver infografia).

desde 2008, quando cristiano foi distinguido com o prémio pela primeira vez, que os ‘leões’ já figuravam noutro quinteto de elite, o dos clubes que formaram dois vencedores distintos da bola de ouro. deste não fazem parte o barcelona nem o joeuf, mas antes o manchester united, com bobby charlton e best, e o dínamo kiev, com blokhin e shevchenko, além do river e do ajax. não há mais.

todos os restantes 33 jogadores de um total de 43 que já conquistaram a bola de ouro foram ‘criados’ em clubes diferentes, a maioria europeus e quatro sul-americanos, do brasil.

áfrica é o outro continente representado, através dos moçambicanos do sporting de lourenço marques, que lançaram eusébio para uma carreira fulgurante no benfica, e dos liberianos do young survivors clareton, onde george weah cresceu antes do salto para a ribalta no ac milan, via mónaco e paris saint-germain. eusébio (1965) e weah (1995) são ainda hoje os únicos africanos que receberam a distinção.

igual a cruyff e ronaldo

rio ferdinand ameaçou sair à rua todo nu se cristiano ronaldo não ganhasse a bola de ouro de 2013, mas não precisou de concretizar a ousadia.

aos 28 anos, o seu antigo companheiro no manchester united tornou-se o primeiro português a repetir o feito e o terceiro da história a fazê-lo em representação de clubes diferentes, depois de cruyff (ajax e barcelona) e do seu homónimo brasileiro (inter de milão e real madrid).

apesar de ter ficado em branco no que respeita a títulos colectivos, cristiano ronaldo convenceu os mais de 500 votantes, entre treinadores e capitães das várias selecções de todo o mundo e jornalistas de cada país. com os seus 69 golos em 59 jogos, o madeirense bateu a concorrência com um total de 1365 votos (27,99%), contra 1205 de lionel messi (24,72%) e 1127 de frank ribéry (23,36%).

chamado ao palco da gala anual da fifa, após ter sido anunciado por pelé como vencedor, cristiano não conteve as lágrimas. família, companheiros de clube e selecção, o empresário jorge mendes e o presidente do real madrid, florentino pérez, não foram esquecidos no discurso, assim como eusébio e nelson mandela, duas pessoas que considera «importantes» na sua vida e que morreram recentemente.

«só quem me conhece sabe os sacrifícios que passei para ganhar esta bola», soltou, emocionado também com a presença do filho, que ainda não era nascido quando ganhou a primeira vez.

numa noite em que pelé também chorou ao ser agraciado com a bola de ouro honorária, os outros prémios individuais foram todos parar à alemanha: jupp heynckes foi o treinador do ano, silvia neid a treinadora do ano e a guarda-redes nadine angerer a jogadora do ano. já o prémio puskas, que distingue o melhor golo através de uma votação aberta na internet, coube a ibrahimovic, graças ao pontapé de bicicleta de fora da área frente à alemanha. o golo de matic ao fc porto foi o segundo mais votado. para o ano há mais.

rui.antunes@sol.pt