Formação: Os jovens nos ‘grandes’

Dentro de dois ou três anos a equipa principal terá um punhado de jogadores formados no Benfica”, promete Jorge Jesus. “Além de Mané, há outros na equipa B e nos juniores que vão ser lançados a breve prazo”, garante Leonardo Jardim. “O Benfica é o melhor clube de Portugal a conjugar formação com prospecção”, atira…

declarações fortes dos técnicos que comandam os ‘grandes’ de lisboa trouxeram à ordem do dia a aposta em talentos das camadas jovens e, aproveitando a boleia, o sol traça um retrato dessa realidade na última década, incluindo também o fc porto.

primeira conclusão: o sporting tem não só a fama mas também o proveito de ser o clube que lança mais jogadores da casa na equipa principal – mais do que os dois rivais juntos.

com maior peso do que o número absoluto, porém, destaca-se o facto de as 28 promessas a quem foram dadas oportunidades em alvalade beneficiarem de mais tempo para se afirmarem. rui patrício, joão moutinho, miguel veloso, daniel carriço ou yannick djaló têm cada um mais minutos de jogo do que todos os jovens lançados nestes 10 anos por benfica ou fc porto. e na actual equipa leonina, há cinco titulares formados em alcochete.

em média, o tempo de utilização dos novos valores do sporting situa-se nos 4396 minutos, o equivalente a 49 encontros completos. no benfica, a média fica abaixo dos oito jogos (698 minutos) e no fc porto, que estreou mais jovens do que o clube da luz, nem chega aos três (232 minutos).

por estratégia ou necessidade – uma vez que os ‘leões’ não têm apresentado a mesma capacidade dos rivais para investirem em contratações -, o certo é que a escola do sporting é hoje um dos maiores viveiros da europa.

um estudo independente do cies – observatório do futebol, divulgado esta semana, concluiu que o clube de alvalade, no universo das 31 principais ligas do velho continente, é o quarto a fornecer mais jogadores aos 472 clubes analisados. apenas ajax (69), partizan (66) e barcelona (61) superam os números da academia de alcochete (58).

ainda assim, segundo a mais recente investigação deste centro de estudos sediado na suíça, os clubes portugueses são dos que menos apostam na formação. com uma taxa de 12% de aproveitamento da ‘prata da casa’, não vão além do 28.º lugar neste ranking, apenas à frente dos russos, dos turcos e dos italianos.

sinais de mudança na luz

fc porto e benfica estão em linha com estes resultados, seja por maior capacidade de recrutar no estrangeiro ou pouca propensão para apostar nas camadas jovens. mas se no dragão não há sinais de uma mudança estratégica, na luz começam a surgir os primeiros frutos dessa intenção. a começar pela presença maioritária nas selecções jovens, quebrando anos de domínio leonino (ver infografia). mas não só.

ivan cavaleiro, com 12 jogos realizados esta época, já é o quinto ‘produto’ das escolas do benfica mais utilizado na equipa principal, desde 2004/05. e os três primeiros da lista, miguel vítor, roderick e nélson oliveira, também tiveram oportunidades já na actual era jesus, embora sem continuidade – e só o último mantém contrato com clube.

há ainda os casos de andré gomes e andré almeida, que não entraram directamente no plantel principal do benfica – o primeiro chegou para os juniores e o segundo para a equipa b -, mas que o critério adoptado pelo sol (com uma subjectividade assumida) não enquadra entre os jogadores formados no clube.

gomes chegou à luz com 17 anos e até tem mais épocas na formação do fc porto do que na do benfica, ao passo que almeida ingressou no clube já com 20 anos. para este artigo, foi traçada a fronteira nos 16 anos, ou seja, um mínimo de duas épocas passadas nos escalões de formação, e por isso também bruno alves ou silvestre varela, chegados com 17 anos ao fc porto e ao sporting, não foram contabilizados.

seja como for, a dupla de ‘andrés’ é uma prova da intenção de mudar o paradigma no benfica, o que parece longe de acontecer no rival da invicta. o extremo esquerdo ivanildo, lançado por josé couceiro em 2005 e agora ao serviço da académica, foi a maior aposta do fc porto ao longo da última década, mas acabou por não vingar e saiu ao fim de duas temporadas.

ao contrário, o médio castro, o segundo mais utilizado, continua vinculado aos ‘dragões’, mas tem passado mais tempo emprestado do que em ‘casa’ e já vai nos 25 anos. se o sonho de se afirmar no clube que o formou não ficou para trás, não tardará. como todos os outros que têm saído das camadas jovens portistas.

esta época, no entanto, há um novo alento no ar: josué foi dispensado com 18 anos e voltou agora, contratado ao paços de ferreira, quatro anos depois.

rui.antunes@sol.pt