Estudantes de Coimbra trabalham em cantinas e vigiam bibliotecas para pagar estudos

Fábio Carreira, de 21 anos, faz trabalho de vigilância duas ou três noites por semana, numa biblioteca da Universidade de Coimbra, de modo a conseguir contornar as dificuldades económicas e assim manter-se como estudante do ensino superior.

o programa dos serviços de acção social da universidade de coimbra (sasuc) permite que os estudantes trabalhem nas estruturas da instituição para pagarem alimentação, alojamento ou propinas, de forma a evitar o abandono do ensino superior.

o programa de apoio social a estudantes através de actividades de tempo parcial (pasep), criado pelos sasuc em dezembro de 2013, dirige-se a todos os estudantes da universidade, permitindo-lhes receber um apoio, que é convertido num desconto no pagamento de residência, de propinas ou em senhas de alimentação.

as famílias portuguesas “têm cada vez mais dificuldade em manter os seus filhos no ensino superior, dado o contexto de crise económica”, explicou regina bento, administradora dos sasuc, sublinhando que o principal critério de selecção é “a insuficiência económica” do aluno.

foi pelas dificuldades económicas que fábio carreira decidiu candidatar-se ao pasep, fazendo agora trabalho de vigilância na biblioteca das ciências da saúde, onde o silêncio reina.

a mãe de fábio tem que tomar conta do irmão, que tem autismo, e o trabalho do pai, desde maio de 2013, “ora vai ora vem”, para além de que fábio perdeu a bolsa por apenas ter realizado 56% das unidades curriculares, sendo obrigatório 60% de aproveitamento escolar.

“é propinas, é alojamento, é alimentação e depois os transportes”, sendo que, mesmo poupando, “o dinheiro nem sempre chega para tudo”, desabafou, considerando “fundamental” a sua participação no pasep para se manter a estudar na uc.

quecuta injai, estudante de mestrado na faculdade de letras, está a trabalhar nas cantinas amarelas da uc, das 21:00 às 24:00, dia sim, dia não, a servir baguetes aos clientes que passam.

para o estudante guineense, de 48 anos, o trabalho é feito “com muito gosto”, tendo já trabalhado nas cantinas, fora do pasep, frisando que o programa vai ajudar a garantir a permanência de muitos estudantes em coimbra.

juliana silva, estudante de psicologia, de coimbra, perdeu a bolsa, por falta de aproveitamento escolar, tendo procurado emprego em lojas.

contudo, as respostas foram poucas e o pasep surgiu como “uma luz ao fundo do túnel”.

“de outra forma, seria quase impossível pagar as propinas e teria que abandonar o ensino superior”, contou juliana, que trabalha na biblioteca geral até fevereiro.

a estudante de 21 anos decidiu descontar o apoio no valor da propina, “que é a fatia mais pesada”, esperando ser aceite noutro concurso que está a decorrer, dentro do pasep, para o horário das 18:00 às 22:00, na mesma biblioteca, entre fevereiro e maio, que lhe pode garantir o pagamento, quase total, das propinas.

“espero ter sorte e continuar cá”, frisou.

neste momento, há 56 estudantes que trabalham em vigilância nas bibliotecas, na área alimentar das cantinas, em apoio administrativo, ou a ajudar em trabalhos de pintura e de limpeza nas residências da uc.

o programa prevê um limite de “quatro horas por dias e 12 horas por semana”, de forma “a não comprometer o sucesso académico dos alunos”, sublinhou regina bento.

há cerca de 500 estudantes inscritos no portal do pasep, sendo as actividades pagas entre 4,8 euros e os 12 euros à hora, dependendo da complexidade do trabalho.

lusa/sol