Quando ocasionalmente me acontece, a altas horas, dar de caras com a série As Irmãs McLeod – passa na Sony, por exemplo, às quatro da manhã – fico a perguntar-me o que se passa para que tamanha felicidade de gente a cavalgar sem destino, a apanhar flores no campo, a estar debaixo de uma trovoada,…
HÁ um estranho mandamento em televisão que diz mais ou menos isto: «Não programarás algo de verdadeiramente absurdo, a menos que tenhas um(a) apresentador(a) a quem o público perdoará quase tudo em troca de um sorriso». É um conceito que, por cá, se traduz habitualmente pela expressão ‘namoradinha de Portugal’.
Nunca fui a Nova Orleães. Mas não me custa imaginar as ruas a transbordar de jazz, bares a cada esquina abertos até de madrugada com músicos do outro mundo a transpirar notas que lhes estão coladas à pele, botequins com pratos de jambalaya a fumegar, as ruas tomadas pelas pessoas como raras vezes se vê…
Cheirou logo mal quando, esta terça-feira, a SIC começou a anunciar a meio da tarde «a transmissão em exclusivo da primeira entrevista» de Sónia Brazão, um dia depois de ter recebido alta hospitalar.
Ainda esta semana a SIC Notícias se gabou de ter sido o primeiro canal português a exibir Dividocracia, o documentário sobre a crise grega realizado pelos jornalistas Katerina Kitidi e Aris Hatzistefanou que está a ser um imenso sucesso na internet (o filme foi financiado pelos próprios e está disponível gratuitamente).
Sem transportes públicos atafulhados, sem filas intermináveis para a entrada, sem horas de pé, sem filas para a casa de banho, sem dificuldades em ver o palco no meio de gigantes ou estar tão longe que para os olhos tanto pode ser Britney Spears como Tina Turner, sem filas para comer, sem retiradas estratégicas antes…
Há já uns anos que nos habituámos a ver despontar nos ecrãs de televisão, em perigosas manobras de acrobacia, rodapés que desfilam autopromoções dos canais ou acrescentam camadas de informação à que domina a imagem.
Há muito que Martin Scorsese não esconde o fascínio por criminosos de toda a espécie. Dos que se movem ao nível das sarjetas aos que vivem numa torre de marfim.
Este domingo, chegava Pedro Passos Coelho de carro ao hotel onde o PSD decidiu instalar o quartel-general para a noite de eleições, e não custava perceber que fora acompanhado por uma escolta de motos com câmaras apontadas na sua direcção.
A figura da família disfuncional é um filão praticamente infindável em terras da ficção.
Uma semana depois de a SIC apostar forte no serão de domingo com Peso Pesado, a TVI respondeu com outro reality show – Perdidos na Tribo – Famosos.
A televisão anda confusa por estes dias. Sobretudo nos espaços supostamente informativos.
Antes, pouco havia. Mas desde que, em 2000, Maria de Medeiros arregaçou as mangas e realizou Capitães de Abril, a questão parecia poder ser resolvida com a mesma prontidão com que se programava Sozinho em Casa para a Consoada.
Os culturistas, programa de conversa em torno da cultura estreado há um par de semanas no Canal Q, tinha tudo para não dar que falar.
Depois de actores, guionistas e realizadores terem sido atraídos pela luz incandescente da televisão – e ao mesmo tempo que o cinema perde força –, chegou agora a vez de também o romancista indiano Salman Rushdie não resistir ao apelo a um ecrã que cada vez mais deixará de ser pequeno (em todos os sentidos).…