Agora encontramo-los mercenários por convicção. Senhores de uma honra postiça. Inebriados pelas hormonas das contrapartidas que farejam. Até a espinha que lhes segura a pele negociaram por um lugar à mesa dos interesses. É a esquerda dos três “i´s”, ajustada ao tempo novo: inveterada, instalada, irreconhecível.
PCP e BE são um embuste que dói aos olhos da seriedade. Fizeram da dissimulação arte contemporânea. Transformaram-se em auxiliares obedientes do Governo, para o bem e para o mal, custe o que custar, doa quem doer. Nem da coluna se queixam, porque a removeram a troco da validação de uma agendazinha moderna e um punhado de reversões. Encontraram no PS o seu “bezerro de ouro”. E não há imposturice que não ousem para lhe encobrir o couro. Ainda que isso obrigue a explodir a sua credibilidade e a contradizer o discurso moralizador de uma vida.
Este é o fim de um mito prolongado na história da democracia, onde o último acto termina com a revelação da fraude: o baú dos valores esteve sempre vazio! O “bluff” cai nesta legislatura, com a fiança paga a Mário Centeno e a autorização do “apagão” da correspondência essencial ao apuramento das vergonhas do dossier da CGD. Quando se discute a hipótese de um Ministro ter garantido a dispensa da obrigação legal de apresentação da declaração de rendimentos a um gestor público, PCP e BE assobiam animadamente para o lado. Num processo que nasceu torto, sob promessa – e posterior fabrico – de uma lei a pedido, elaborada por um escritório de advogados à medida do cliente e beneficiário do diploma.
Quem pela espada matou, pela mesma espada morrerá. E ao funeral irá a opacidade política. Chaga social que corrói a confiança no sistema e afasta as pessoas da militância partidária activa. Estimulada por uma espessa camada de interesses pessoais e corporativos, divorciados do bem comum, sustida num chorrilho de incoerências e princípios circunstanciais. Uma densa nebulosa de trevas, que impede o vislumbre de boa alma, a que as piruetas de posições, aceleradas pela mentira sofisticada (ou verdade criativa) dão forma.
Este episódio é um tratado sobre a bancarrota da decência nos partidos e suas turbas fiéis a directórios absolutistas. Cujo primeiro mandamento obriga ao descarte da moral; e o segundo, e último, a ultrajar o cidadão que lhes paga o ordenado. Parece pedir de mais que se salve a dignidade da República – ou o que resta dela – e se aceda a um pedido de transparência, que poderia bem ter sido formulado pelo PCP ou BE (caso não devessem favores ao Governo): deixar o País ler os sms's e e-mails trocados entre o Ministro das Finanças e o ex-Administrador da CGD. A política não é dos políticos. É do povo. Que tem o direito a conhecer o pântano em que os seus representantes o mergulharam. Pelo menos, a ínfima parte dos que ainda acreditam que o voto serve para alguma coisa útil.
Francisco Rodrigues dos Santos
Advogado e Presidente da Juventude Popular