Acidentes aéreos vão ficar sem investigações

O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA) vai ficar sem o seu único investigador, a partir de terça-feira, por razões de idade, disse hoje à agência Lusa o director daquele organismo público.

“o nosso único investigador cessa funções amanhã [terça-feira], pois atinge o limite de idade permitida por lei [70 anos] para desempenhar este trabalho. as investigações em curso ficam todas suspensas, assim como aquelas que, entretanto, vierem a ser abertas”, explicou fernando ferreira dos reis, que está demissionário há mais de um ano à espera de ser substituído no cargo de director do gpiaa.

o único especialista em actividade até agora, ex-piloto da aviação civil e reformado, completa 70 anos e, legalmente, está impedido de exercer funções no estado a partir dessa idade. depois da saída de três técnicos, entre 2010 e 2011, antónio alves era, desde janeiro de 2012, o único investigador do organismo tutelado pelo ministério da economia.

numa resposta escrita enviada à lusa, a tutela informa que “foram já levantados alguns constrangimentos à contratação de investigadores, pelo que doravante será mais fácil recrutar investigadores especializados”.

em relação à substituição do actual director demissionário, o ministério da economia “espera ter brevemente fechado o segundo concurso, que foi lançado para director do gpiaa”.

em abril último, questionados pela lusa sobre este cenário, os pilotos de linha aérea e de aviação ultraleve consideraram “alarmante” e com consequências “incalculáveis” que o gpiaa ficasse sem investigadores, temendo que o organismo “caísse num vazio” operacional.

a saída de 75% dos investigadores, entre 2010 e 2011, levou à acumulação de processos e ao atraso nas investigações.

segundo um relatório do gpiaa e uma nota interna do organismo, a que a agência lusa teve acesso em abril, transitaram para este ano 35 processos de investigação (18 de acidente e 17 de incidente) relativos aos últimos três anos.

em relação à actividade operacional do gpiaa, há a realçar o facto de estarem por fechar nove dos 39 processos de investigação (cinco de acidente e quatro de incidente) abertos em 2010.

em 2011, o organismo abriu 21 investigações (seis por acidente e 15 por incidente), havendo apenas o registo de quatro feridos.

no ano seguinte houve menos processos de investigação, mas o trabalho do gpiaa e do único investigador ficou mais complicado, uma vez que nesse ano se registaram seis acidentes que provocaram dez mortos.

perante a falta de recursos humanos, o organismo público deixou de fazer a prevenção de acidentes e ficou “diminuído” na sua capacidade de intervenção em vários domínios, frisa o documento.

lusa/sol