Autor confesso de duplo homicídio nega intenção de matar

O autor confesso do homicídio de duas pessoas em Loures e Oeiras, em 2008, negou hoje em tribunal a intenção de cometer os crimes, acrescentando que quando saiu de casa com a arma o seu objectivo era suicidar-se.

A primeira sessão do julgamento de Paulo Jorge Almeida, que se entregou voluntariamente às autoridades em 2013 para assumir a autoria dos disparos mortais, ficou marcada pelas contradições apresentadas pelo arguido, quando confrontado com as declarações proferidas em primeiro interrogatório judicial, hoje reproduzidas a pedido do Ministério Público.

Perante o colectivo de juízes do Tribunal de Comarca Lisboa Norte, em Loures, o arguido disse que abordou Alexandra Neno apenas para "conversar", no momento em que a vítima estava ao telemóvel à entrada da garagem da urbanização Real Forte, em Sacavém, enquanto ao Juiz de Instrução Criminal (JIC) assumiu que apontou a arma e pediu-lhe o telemóvel.

Em julgamento, o arguido disse que a ofendida começou a gritar e a buzinar e que, quando esta tentou desviar o seu braço que empunhava a arma, "deu-se um disparo", tendo ficado "em pânico", razão pela qual se colocou em fuga do local. Ao JIC, o homem refere a palavra "silenciar" para descrever o que se passou.

No episódio que levou à morte de Diogo Ferreira, no parque de estacionamento do centro comercial Oeiras Parque, no dia seguinte, 1 de Março, o homem explicou ao tribunal que, ao ser avistado pela vítima e por um amigo deste, quando tentava "danificar" exteriormente a viatura do seu chefe "por vingança", efectuou um disparo para o ar.

Versão diferente apresentou em primeiro interrogatório judicial, referindo que "disparou na direcção" dos dois ofendidos, depois destes continuarem na sua direcção, mesmo depois de o arguido os ter avisado para não se aproximarem.

Ao JIC, o homem referiu que quando saiu de casa, na zona da Bobadela, Loures, na posse de uma pistola de 6.35 milímetros, tinha duas intenções: o suicídio, alegando sentir-se isolado, estar de baixa médica, sob o efeito de medicação e de ter acompanhamento psiquiátrico, ou então cometer um furto, para "sentir a adrenalina" do uso da arma.

Ainda na madrugada de 01 de Março, e quando circulava na zona das Amoreiras, em Lisboa, Paulo Jorge Almeida efectuou um disparo na direcção de um condutor que realizou uma manobra de trânsito que "chateou" o arguido, mas sem o atingir.

A sua intenção era a de atingir um pneu, mas a bala furou o depósito de gasolina.

Ao longo da sessão desta manhã, o arguido, hoje com 36 anos e detido preventivamente desde Novembro de 2013, mês em que se entregou às autoridades, referiu por diversas vezes "não saber explicar" o que se passou com ele, dizendo que já tinha pedido ajuda para ser internado.

Paulo Jorge Almeida lamentou ainda as mortes das vítimas e explicou porque se entregou cinco anos após os factos.

"Fiz o correcto, independentemente dos anos. Não consigo combater isto que tenho dentro de mim. Fiz o mal e estou aqui para pagar pelo que fiz. Não há palavras para descrever o que fiz, pois só quem perde alguém é que pode dar essa descrição", respondeu o arguido, assumindo que a única pessoa que não devia estar hoje em tribunal era ele, se tivesse tido a "coragem" para se suicidar.

À saída do tribunal, o advogado do arguido referiu que o seu constituinte tem "inimputabilidade reduzida". Tomás Batarda acrescentou que os relatórios psiquiátricos vão ser importantes no julgamento.

O julgamento continua da parte da tarde com a intervenção dos advogados de acusação.

Lusa/SOL