Azulejos: arte secular adaptada aos dias de hoje e espalhada pelas ruas

Um ilustrador, um estudante e uma investigadora portugueses partilham o interesse pelo azulejo e adaptaram essa “arte secular tão portuguesa” ao universo contemporâneo nas ruas de várias cidades.

diogo machado reinterpreta os azulejos tradicionais, tiago tejo cria-os em papel recorrendo a píxeis, maria d’almada preenche com spray painéis onde há falhas provocadas pela passagem do tempo ou por furtos.

o ilustrador ‘freelancer’ diogo machado, de 32 anos, começou a reinterpretar azulejos tradicionais quando, em 2008, foi convidado a participar numa exposição em cascais, que consistia em revestir edifícios com telas com ilustrações, lembrou em declarações à agência lusa.

na ocasião pensou no azulejo como algo que o representasse a ele, “como pessoa e artista”, e à terra onde nasceu, cascais.

“fui desenvolvendo esta ideia: pegar numa coisa que é tão portuguesa, tão pouco trabalhada e reinterpretada, e inclui-la num universo contemporâneo, meio pop art, que é o meu universo ilustrativo. fiz um mix dos dois e é o resultado que se pode ver, que é esta azulejaria/ilustração, artística contemporânea”, afirmou.

porque o “suporte não é barato de trabalhar”, diogo machado ainda não espalhou pelas ruas tantos azulejos como gostaria.

em lisboa calcula que tenha colocado em paredes entre 20 a 30 peças, mas costuma também intervir noutras cidades que visita, “tentando espalhar ao máximo o trabalho”.

em ponta delgada, na ilha de são miguel, nos açores, conseguiu fazer um mural grande, com cerâmica, a convite do festival walk & talk.

“é um mural composto por seis azulejos diferentes, mas em que todos se interligavam. vias ao longe parecia azulejo tradicional português e parecia retalhado, mas vendo ao perto apercebias-te das formas novas e que todos os módulos se uniam entre eles”, contou.

o mural em stencil que o ilustrador pintou recentemente na lx factory, “para fazê-lo em cerâmica teria que ter tido um patrocínio”, é prova disso mesmo.

ao longe parece um tradicional mural de azulejos, em tons de azul e com motivos usados em séculos passados, ou não tivesse a criação das formas “tido muita inspiração nas formas tradicionais”. ao perto distinguem-se desenhos de ossos e caveiras.

“gosto de brincar com o olhar e o passar despercebido e depois teres que ver ao perto e ao longe, acho isso interessante”, referiu.

o trabalho do estudante de um mestrado em história de arte, tiago tejo, de 26 anos, também “cruza dois mundos que têm a mesma génese – um elemento sozinho não faz nada e todos em conjunto fazem algo”.

foi em 2009 que tiago tejo experimentou “cruzar mundos” pela primeira vez. “cruzei vários, até que cruzei o pixel e o azulejo, e deu alguma reacção de que gostei”, contou à lusa.

este estudante pega “em algo que já existe e redesenha-o [em papel] em pixel, com pequeníssimas correcções. “à parte disso, há uns quantos que fui criando com elementos que encontrava aqui e acolá, de videojogos, por exemplo, elementos que tem o mesmo princípio, carácter abstracto e adaptam-se perfeitamente a isto”, disse.

o projecto pixelejo “começou com uma vertente de rua, um pouco por toda a lisboa, sobretudo em sítios onde achei que era uma mais-valia isto existir, caso concreto das caixas de electricidade”, referiu.

o projecto de maria d’almada, docente e investigadora de 32 anos, é um pouco diferente.

com o recuperarte, maria d’almada começou em 2008 a acrescentar, com recurso ao ‘stencil’ [pintura em spray com moldes], azulejos em painéis onde havia falhas.

“andava nas ruas e comecei a reparar na diversidade. o azulejo representativo é brilhante, mas não foi o que me chamou a atenção, foi a quadrícula, que é uma arte por si.

“e comecei a reparar que faltavam”, lembrou em declarações à lusa.

o recuperarte tem estado “em stand-by”, porque a sua autora tem estado fora de lisboa, “a cidade perfeita para aquele trabalho em particular”.

em lisboa é possível ver uma dezena de intervenções de maria d’almada, em zonas como alfama e a bica. a investigadora revela que há uma em coimbra e garante que o projecto “não terminou”.

lusa/sol