Caracóis, aborto e os meninos da Católica

Pegaram na campanha que defendia os caracóis contra o facto de serem petisco e fizeram uma versão própria. “Gostava de ser esquartejado vivo? Ele também não.” – diz o grupo de alunos da Católica enquanto segura a foto de um feto humano. Boa escolha de palavras. Forte, violento, chocante. Agora, acho que este grupo de…

E os casos onde a mãe tem uma gravidez de alto risco, incluindo haver o perigo de morte de ambos? Paciência. Se assim aconteceu, foi vontade do Senhor e há que aceitar. E tudo piora quando a gravidez é apenas resultante de uma líbido descontrolada. Deu aquela tesãozita e não se aguentaram? O preservativo furou? A pílula não funcionou? Já deviam estar incrivelmente gratos só pelo facto de a Igreja já aprovar métodos contraceptivos (alguns, vá!). Se mesmo assim tiveram um “acidente”, lidem com isso. Claro que também há aqueles casos em que a mulher opta pela Interrupção Voluntária da Gravidez por ter a certeza de não ter condições financeiras para proporcionar uma vida minimamente digna à criança. Claro que os meninos da Católica também condenam estes casos, e com razão, mesmo que recebam uma mesada dos pais que lhes dava para sustentar uma equipa de futebol, incluindo suplentes, a comida gourmet e berços de luxo. Mas isso é porque o Senhor os abençoou e ninguém tem nada a ver com isso.

Passando pelos comentários no post de Facebook desta campanha, vi mais dois argumentos muito acertados. O primeiro era vindo de uma mulher: "Homens a favor do aborto só estão interessados na vida desafogada deles próprios. Toda a mulher grávida o que mais deseja é ter o filho". Não podia estar mais de acordo. Todos os homens do mundo são uma merda e só pensam neles próprios. É sabido. O outro argumento, em resposta ao facto de um feto com menos de 10 semanas não ter sistema nervoso, nem cérebro, e portanto não sentir dor, foi: “Então se te matar quando estiveres a dormir, qual é a relevância do teu cérebro?”. E nem pensem em dizer que quem fez este comentário é que não cérebro. Não sejam injustos.

O que as pessoas precisam de perceber é que a liberalização da IVG não é respeitar a mulher, o seu corpo e as decisões sobre si mesma. Não é diminuir drasticamente os abortos ilegais com todos os riscos que acarretam, não é providenciar assistência médica e psicológica em condições, não é um progresso sanitário para a sociedade. É sim, ir contra a vontade do Senhor e comprar um bilhete directo para o Inferno. E os meninos da Católica não podem permitir tal coisa, não é verdade?

A verdade é que se a previsão de vir a ter um filho extremamente egoísta para com os outros fosse razão para abortar, estes meninos teriam sido excelentes candidatos. Ainda bem que não somos extremistas.