Champanhe amargo?

Quando na terça-feira à tarde foi anunciada a demissão de Paulo Portas, ouviu-se um bruá de contentamento em vários locais. Na rua e no trabalho foram muitos os que deram vivas.

ouvi mesmo gente a falar em abrir garrafas de champanhe – estranho apetite, atendendo a que supostamente estão felizes por correr com os malandros que roubam tudo e ficam logo com sede de bebidas tão caras…

numa época em que o tempo é determinado pelo último post colocado no facebook, seria interessante que todos colocassem o pensamento de hoje em letras impressas e as guardassem para daqui a um ano. então veremos o que aconteceu a este país. se os tais malandros que nos queriam obrigar a ser pobres e nos roubavam os subsídios de férias e de natal; que nos cobravam mais impostos; que nos obrigavam a pagar mais nos hospitais, nos transportes ou na educação; veremos se eram assim tão maus. seria pois interessante que ninguém se esquecesse do que tem sido dito. porque estou em crer que a irresponsabilidade de quem tudo fez para deitar o governo abaixo nos irá fazer sofrer muito mais no futuro próximo. quando se está doente e se toma a medicação necessária, espera-se que as caixas sejam gastas e produzam o efeito desejado. mas, como sabemos, quando se deixa de tomar um antibiótico a meio, na próxima vez que precisarmos de o tomar vamos necessitar de ingerir o dobro ou de um novo antibiótico.

seria magnífico que aqueles que tanto acusam o governo de passos coelho de atirar o país para um buraco sem fim tivessem razão e que daqui a um ano o país tivesse taxas de desemprego bem mais baixas, com salários mais elevados e com os serviços mais baratos. eu, por mim, vou recordar aos meus amigos para não deitarem fora o pensamento de hoje. veremos daqui a um ano se não estaremos numa situação muito mais aflitiva, com greves diárias, um desemprego galopante e uma crise social bem mais grave. o problema é que daqui a 12 meses ninguém se vai recordar do que disse hoje. com a previsível subida ao poder de antónio josé seguro teremos os direitos das freguesias intocáveis (com milhares de boys de todas as cores); os impostos irão baixar; o desemprego baixará para números aceitáveis; os transportes ficarão mais baratos e todos seremos felizes. vamos é ver o que pensam disso tudo os nossos credores. será que nos irão obrigar a novo resgate ou nós decidiremos de peito cheio que não pagamos a ninguém? vai ser um ano bem agitado, que seria feliz se não fosse trágico. esperemos que a razão esteja do lado dos contestatários e do seu líder espiritual mário soares…

vitor.rainho@sol.pt