Choque bancário nas eleições italianas

É difícil imaginar um escândalo político-financeiro em Itália que tenha como principal beneficiado Silvio Berlusconi. Mas, a poucas semanas de umas legislativas consideradas vitais para o futuro económico do país, é o magnata que tenta um quarto regresso ao poder quem mais ataca no caso Monte Dei Paschi (MPS) – o terceiro maior banco do…

«se a esquerda não consegue dirigir um banco imaginem o que eles farão ao país», afirmou berlusconi recentemente, referindo-se às ligações do partido democrático (pd) ao banco mais antigo do mundo – fundado em 1472, o mps tem como principal accionista uma fundação controlada pelo governo local de siena, há muito nas mãos do pd.

a fundação controlada pelo partido de pierluigi bersani é responsável pela nomeação de metade dos administradores do banco, incluindo o presidente. o próprio primeiro-ministro mario monti, que encabeça uma coligação de centro para as eleições de 24 e 25 de fevereiro, lembrou a «grande influência do pd no banco e na vida política de siena». numa das poucas referências ao caso, bersani lembrou que o actual governo de monti «esteve um ano sem dizer nada e agora só critica».

negócios ruinosos

monti decidirá agora sobre um novo resgate ao banco, que em 2009 já recebeu do governo, então liderado por berlusconi, cerca de 3,4 mil milhões de euros. (foi depois do desastroso negócio da compra do rival antonveneta por 10,3 mil milhões de euros – negócio que deu um lucro de 3,7 mil milhões ao banco santander, que dois meses e meio antes tinha pago 6,6 mil milhões pelo banco italiano).

e depois do novo líder do mps, fabrizio viola, ter revelado perdas em dois negócios ocultos – um envolvendo o deutsche bank e outro com o banco de investimento japonês nomura –, o banco pediu mais 500 milhões de euros e o escândalo rebentou, ao ponto de chegar ao banco central europeu: o antigo ministro das finanças de berlusconi, giulio tremonti, considera-se «estupefacto» com o facto de o então presidente do banco de itália (bdi), mario draghi, não ter conseguido evitar as más práticas do banco.

draghi defende-se

o agora chefe do bce deslocou-se a milão na segunda-feira para justificar junto do ministro das finanças, vittorio grilli, as suas acções como supervisor em itália. disse que o bdi soube das transacções mas não de todos os seus riscos, devido a documentação ocultada. e draghi terá lembrado que não tinha o poder de afastar administradores de bancos, tal como pedira ao governo de berlusconi, e que foi graças à sua pressão que foi nomeada uma nova administração em 2012.

monti ordenou uma investigação completa antes da finalização do resgate e o caso promete não sair da ribalta durante as decisivas semanas de campanha eleitoral, sendo de esperar um desgaste cada vez maior do pd.

numa sondagem da swg de 25 de janeiro, o pd permanece em primeiro com 33,8% dos votos, o que já representa uma queda de 1,1% em relação à semana anterior. no mesmo sentido vai a coligação de monti baixou de 13,8% para 12,8%. mesmo na semana em que voltou a ser muito criticado devido aos elogios que dedicou a benito mussolini no dia de memória do holocausto, quem sobe é silvio berlusconi, cuja coligação passou de 25,3% para 26,6%.

nuno.e.lima@sol.pt