Circo

Já há algum tempo que se tinha percebido que a tarefa do grupo de trabalho nomeado pelo Governo para definir o conceito público da comunicação social estava inquinada.

após três demissões num grupo de dez que trabalhou durante 60 dias, era evidente que o resultado final deveria estar longe do pacífico. até porque felisbela lopes, professora na universidade do minho, tinha já dado um preocupante sinal ao anunciar o seu abandono devido à intenção de que o documento recomendasse a redução substancial do peso da informação no canal público sobrevivente. algo potencialmente trágico quando pensamos em benefício do quê: mais espaço e dinheiro para concursos, comédia obsoleta ou talk shows sem ponta de interesse?

a verdade é que a informação da rtp, conseguindo escapar à ‘espectacularização’ dos privados e a uma preocupante tendência de confundir informação, entretenimento e autopromoção – a última moda consiste em lançar reportagens sobre temas abordados em telenovelas e quejandos –, é um bálsamo de sobriedade que deve, sempre, dar o exemplo. e não mirrar até à irrelevância.

claro que as recentes declarações de joão duque, com uma espaventosa sugestão de que a informação na rtp internacional deveria ser editada pelo ministério dos negócios estrangeiros, concluída com um tétrico «a bem da nação», apenas nos dizem que as 30 páginas do documento entregue ao ministro relvas estão, desde logo, minadas e feridas na sua justeza. e no meio disto tudo, a única preocupação do grupo de trabalho parece ter sido a de eliminar canais (rtp madeira e rtp açores, mais rtp informação), sem que se tenha discutido suficientemente que linhas de programação devem nortear o serviço público quando reduzido a um canal. já agora, que a proposta de propaganda mal disfarçada de informação não seja acompanhada apenas do circo para distrair o povo da crua realidade.