Ciúmes estão a fazer disparar o número de homicídios neste país

Os crimes passionais voltaram a disparar na província de Manica, centro de Moçambique, tendo 26 pessoas, na maioria homens, morrido desde o início do ano por desconfianças de traição, disse hoje à Lusa fonte policial.

As estatísticas da Polícia de Manica indicam que 26 pessoas morreram de janeiro até 22 julho nos distritos de Manica, Gondola, Chimoio e Sussundenga, Machaze e Mossurize, após se envolverem em lutas motivadas por acusações de traição ou feitiçaria para destruir relações conjugais.

"Os homicídios, sobretudo por questões passionais são uma preocupação da polícia e temos estado a posicionar as nossas forças em regiões onde por tradição a traição é imperdoável", disse à Lusa Belmiro Mutadiua, porta-voz do comando da Polícia de Manica.

O caso mais recente deu-se na quarta-feira, quando uma jovem foi encontrada sem vida no bairro 16 de Junho, cidade de Chimoio, após ter sido violada e estrangulada por desconhecidos, quando regressava da escola, num caso supostamente provocado pelo fim de uma relação amorosa.

No domingo um homem matou à paulada a sua filha de 14 anos no bairro Mudzingaze, também no Chimoio, alegando que esta estava envolvida em prostituição e por ter desrespeitado vários apelos da família para mudar de vida.

Em maio, um homem espancou a mulher e retirou, com recurso a uma navalha, os seus órgãos genitais no distrito de Machaze, por ela se ter demorado do rio onde havia ido tomar banho e buscar água para consumo.

Já em Mossurize, uma mulher "arrancou" os genitais do seu marido, por suspeita de traição com duas vizinhas.

 "Esta situação põe em causa a nossa atividade operativa, de garantir a ordem, tranquilidade e segurança públicas, razão pela qual iremos a todo o custo posicionar-nos no terreno justamente para identificar as pessoas que cometem esse tipo de crimes e também para reverter este cenário", declarou Belmiro Mutadiua. 

Em 2012, foram registados 50 homicídios na província de Manica, quase 90% relacionados com casos passionais.

O número caiu mais de metade em 2013, mas no ano seguinte voltou a subir.

De janeiro a junho de 2014 foram registados 21 casos, ou seja, mais cinco em relação ao mesmo período deste ano.

"A maioria dos casos de mortes por ciúmes é complicada, as pessoas não conseguem controlar o seu ego e agem várias vezes sob o efeito de álcool, mas já com os crimes premeditados", explicou o porta-voz da polícia, assinalando que a Polícia está a trabalhar com as comunidades "para que não se resolva desta maneira os seus problemas".

Ainda segundo a polícia, os agressores, não raras vezes, agem sem fundamento, baseando-se em desconfianças ou informações de terceiros para cometer os crimes.

Lusa/SOL