Construção agoniza mas resiste

Crise causou encerramento de 13 mil empresas no ano passado. A internacionalização tem sido um dos caminhos para sobreviver num sector que perdeu 394 mil empregos numa década.

a crise tem levado as grandes construtoras a intensificarem a sua aposta no estrangeiro. mas quem não tem músculo financeiro para investir fora do país tem de encontrar formas de sobrevivência, num sector que, segundo os principais actores do mercado, está «à beira do colapso». só no ano passado desapareceram 13 mil empresas.

para reis campos, presidente da associação dos industriais da construção civil e obras públicas (aiccopn), está a verificar-se «um processo de destruição do tecido empresarial». segundo o responsável, desde 2001 já foram eliminados 394 mil postos de trabalho.

embora considere que «há espaço para todas as empresas», entende que é essencial «a criação de uma nova dinâmica na economia capaz de evitar a actual destruição da capacidade produtiva».

já ricardo pedrosa gomes, presidente da associação de empresas de construção e obras públicas (aecops), defende que a crise «provoca uma selecção dos agentes no mercado de uma forma perversa e não natural». e lembra que a situação actual está a destruir empresas «economicamente viáveis e sustentadas».

daí que os grandes nomes do mercado tenham vindo a renovar a aposta no estrangeiro. reis campos lembra que, desde 2000, a taxa de crescimento média anual do volume de negócios internacional atinge os 29,8%. o volume anual de facturação externa da construção e imobiliário supera os 8,7 mil milhões de euros. para esta fonte, a presença fora do país tem permitido colmatar dificuldades, mas é importante não descurar a base interna e a estabilização do mercado nacional.

reis campos realça que existem inúmeros casos de empresas que operam só em portugal, «em domínios tão diversos como a reabilitação urbana ou a eficiência energética».

especialização é necessária

as empresas que cá ficam não precisam de ter uma visão fatalista do futuro, até porque há outras soluções além do estrangeiro. «a necessidade aguça o engenho e no contexto actual só se consegue subsistir no mercado com muita originalidade», aconselha ricardo pedrosa gomes. o presidente da aecops lembra por isso casos de empresas que criaram valor, com ideias como o aumento da eficiência dos processos produtivos ou uma melhor organização de estaleiros e obras.

mas os conselhos não se ficam por aqui: «terão de se especializar, procurar nichos de mercado. as oportunidades encontram-se na reabilitação, na eficiência energética, na mitigação de riscos ambientais», diz.

reis campos, que acumula o cargo na aiccopn com a presidência da confederação portuguesa da construção e imobiliário (cpci), lembra o ‘compromisso para a competitividade sustentável do sector da construção e imobiliário’, um documento com 52 medidas assinado entre a cpci e o governo, em março passado.

e recorda que há empresas a desenvolverem uma aposta firme na especialização e inovação. «há outras situações em que os empresários souberam posicionar-se, em nichos de mercado ou no exterior».

áfrica lidera apostas

citando dados do ine, o responsável indica que a facturação total do sector em portugal chegou aos 29,3 mil milhões de euros em 2011, referentes a um total de 99 mil empresas. há 5.081 empresas com actividade internacional registada.

da facturação externa, 76% é registada em áfrica, com destaque para os países de língua portuguesa. mas não só: neste grupo incluem-se economias como o malawi, marrocos e argélia. já a europa é responsável por 16% da facturação, enquanto que a américa (com especial destaque para o sul) representa 8%.

mas, para pedrosa gomes, o futuro não pode passar apenas pela internacionalização: «a longo prazo, o sucesso da internacionalização pressupõe uma base nacional sólida e um mercado interno dinâmico».

joana.barros@sol.pt