Críticos americanos estavam ‘errados’ sobre colapso do euro

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, afirmou esta noite, nos Estados Unidos, que os críticos norte-americanos subestimaram o compromisso dos europeus com a moeda única e estavam “errados” quando pensaram que esta ia entrar em colapso.

“nos dias negros da crise, muitos comentadores deste lado do atlântico olharam para a zona euro e estavam convencidos de que iria fracassar. eles estavam errados na sua visão macro a médio prazo”, disse draghi, no discurso que proferiu na universidade de harvard, nos estados unidos.

a zona euro, sublinhou, criou “mais 600 mil postos de trabalho do que os estados unidos desde 1999” e, apesar da taxa de desemprego “ter crescido mais na zona euro do que nos estados unidos durante a crise”, a taxa de emprego nos estados unidos “caiu ainda mais do que na zona euro”, o que torna difícil uma comparação entre os dados.

para o presidente do bce, os críticos estavam errados de uma forma ainda mais fundamental por terem “subestimado a profundidade do compromisso dos europeus para com o euro”, o qual “confundiram com um regime de câmbio fixo, quando, na verdade, é uma moeda única irreversível” porque “nasceu do compromisso das nações europeias no sentido de uma maior integração”.

“compromisso que, como reconheceu o comité do prémio nobel no ano passado, tem raízes no nosso desejo de paz, segurança e de transcender as diferenças nacionais”, sublinhou mario draghi.

em termos globais, “as mudanças que estão a ter lugar na zona euro estão a tornar a nossa união monetária mais robusta”, avaliou.

“a nível nacional, a consolidação [orçamental] e as reformas estruturais estão a ajudar a maioria dos países a alcançar um posicionamento externo sustentável”, enquanto, no plano europeu, “estamos a aproximar-nos de um equilíbrio de competências, as quais, se combinadas, devem proporcionar uma estabilização mais eficaz”, realçou draghi.

“se olharmos para os estados unidos vemos que reforçou a sua união em diferentes estágios, com cada uma deles a gerar, eventualmente, o seguinte. a criação de um sistema de reserva federal, em 1913, por exemplo, foi seguida, 20 anos depois, pelo estabelecimento do fdic [federal deposit insurance corp, regulador do sector bancário], um pilar chave da união bancária da américa”, exemplificou draghi.

hoje em dia, na europa, apontou, “encontramo-nos, de certa forma, a atravessar um processo análogo”, não no sentido de que o destino é o mesmo, porque isso “nós não sabemos”, mas do seu “princípio orientador”.

no seu discurso, draghi apontou ainda que as implicações da decisão de estabelecer um mercado único genuíno não se limitam à criação de uma moeda única, a qual tem, por si só, consequências, com a união bancária a vingar como a mais premente.

acordada pelos chefes de estado e de governo da europa, a criação de uma união bancária está a actualmente a processar-se de forma faseada, a começar com um mecanismo único de supervisão, tarefa ‘confiada’ ao bce e recentemente aprovada pelo parlamento europeu, apontou draghi, mostrando confiança de que um mecanismo único de resolução entrará em vigor no início de 2015.

“uma união bancária é crucial também para a economia real da zona euro”, concluiu.

lusa/sol