Dissolução sem data marcada…

Os ‘casos e casinhos’ têm-se multiplicado neste governo, desde a Defesa à Agricultura, à Educação ou à Saúde, com farta dissipação de dinheiros públicos, embora o dossiê TAP se tenha sobreposto a outros, não menos gravosos, com tudo aquilo que tem vindo a ser revelado em sede de comissão parlamentar de inquérito.

Para desgosto e ansiedade de boys, girls e comentadores avençados, o Governo é um barco à deriva, com o porão a meter água e cujo ‘timoneiro’, apesar de ser experimentado, já não sabe como tapar os rombos e controlar os danos, e muito menos como dar um rumo à embarcação.

Mal largou o ‘porto de conforto’, há pouco mais de um ano, cedo se percebeu que o ‘barco’ exibia defeitos originais e que a ‘guarnição’ contratada, embora tivesse gente com algum lastro, revelava pouca destreza nos instrumentos de bordo – ao ponto de usá-los com desastrada imperícia -, contaminando os mais novos, alguns deles ‘grumetes’ sem a menor aptidão, embarcados por serem próximos ou pertencerem à mesma confraria.

O primeiro sintoma sério de que as coisas não iam bem – e de que o ‘timoneiro’ não conseguia pôr ordem no convés -, foi dado por um dos ‘tripulantes’, com reconhecidas ambições de tomar conta do         ‘navio’. De supetão, resolveu aproveitar uma ausência do “timoneiro” para anunciar nas suas costas a localização do futuro aeroporto da capital.

A história é conhecida e não vale a pena continuar a pintá-la como se fosse ficção.

Infelizmente, aconteceu, quando António Costa perdeu o ensejo de afirmar a sua autoridade, e não demitiu «na hora» o então ministro Pedro Nuno Santos, que dera inteira cobertura ao inconcebível despacho do seu ‘ajudante’ Hugo Santos, sobre a localização da nova estrutura aeroportuária. 

E foi necessária outra história grotesca com a administração da TAP, prosseguindo a saga amadora e trapalhona do Governo, para ministro e ‘ajudante’ se demitirem, não sem causarem mais estragos à companhia, designadamente, reputacionais. 

Os ‘casos e casinhos’ têm-se multiplicado neste governo, desde a Defesa à Agricultura, à Educação ou à Saúde, com farta dissipação de dinheiros públicos, embora o dossiê TAP se tenha sobreposto a outros, não menos gravosos, com tudo aquilo que tem vindo a ser revelado em sede de comissão parlamentar de inquérito.

Fernando Medina, Ana Catarina Mendes ou João Galamba, estão na ‘corda bamba’ no Executivo, perante o que já se soube do que sabiam e diziam não saber, envolvendo até ‘reuniões secretas’ preparatórias da CEO da TAP, antes desta ser ouvida pelos deputados.

Aliás, por aquilo que se foi sabendo dos bastidores das demissões de Christine Ourmières-Widener, e da ex-administradora, Alexandra Reis, com a participação ativa de governantes e, até, de um deputado-coordenador socialista, é razoável perguntar-se o que mais faltará para que o Presidente da República entenda reunidas as condições para dissolver o Parlamento. 

A balbúrdia, a promiscuidade e as intrujices são tantas que é justo perguntar até quando terá o país de suportar uma maioria socialista, que confunde governação com os interesses do partido, tentando escamotear, a todo o custo, essa realidade, como se viu neste processo TAP, onde vale tudo, incluindo as tais preliminares ‘intermediadas’ por governantes.

No meio de tanta barafunda, e do ‘jogo de empurra’ para ‘salvar a pele’, é um milagre que a TAP ainda tenha aviões a voar, mesmo com grandes atrasos e não poucos cancelamentos. 

Tornou-se óbvio que é o próprio António Costa que está a ficar numa situação insustentável, mesmo amparado por Marcelo Rebelo de Sousa.

A dissolução do Parlamento parece, assim, incontornável, por muito que o Presidente pareça defender o contrário. 

Jorge Sampaio dissolveu o Parlamento, em 2004, com um quadro parecido, embora numa conjuntura diferente. E não hesitou em ‘despedir’ Santana Lopes, com maioria, embora sem ter ido a votos.

Marcelo lembrou essa ‘nuance’, e aproveitou para se mostrar convicto de que a oposição (leia-se a direita) não está ainda ‘madura’ para ser alternativa.

Omitiu, contudo, que ele próprio dissolveu o Parlamento, em dezembro de 2021, na sequência do ‘chumbo’ do Orçamento de Estado, sem que se vislumbrasse ser o PSD capaz de vencer, após a apagada liderança de Rui Rio.

Então como hoje, o que está em causa é o regular funcionamento das instituições.

Como Sampaio aludiu, a propósito de Santana, «depois de lhe ter assegurado todas as condições necessárias para o desempenho da sua missão, o país assistiu a uma série de episódios que ensombrou decisivamente a credibilidade do Governo e a sua capacidade para enfrentar a crise que o país vive».

Ou isto: «Refiro-me a sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições, em geral».

Parece escrito agora. Marcelo só precisa de copiar. A menos que prefira assistir ao naufrágio do barco, afundando-se com ele. Depois, ver-se-á se, mesmo jurando não ser refém da oposição nem do Governo, não acabará refém de si próprio… Com o país no bolso.