Emissão da CGD já está no lixo

A agência de notação Fitch atribuiu o rating B-, sexto nível de lixo, à emissão de dívida perpétua de 500 milhões de euros que a Caixa Geral de Depósitos vai começar a promover segunda-feira a partir do Luxemburgo, fugindo ao controlo da CMVM

A emissão de dívida perpétua de 500 milhões de euros que a Caixa Geral de Depóstitos (CGD) vai começa a promover na próxima segunda-feira, a partir do Luxemburgo, sem o controlo da CMVM, não convence a agência de notação financeira Fitch, que lhe atribuiu um rating de B-. Uma notação que está no sexto nível de lixo e três níveis abaixo do atribuído ao banco (BB-). Na base da decisão está o facto de os títulos serem fortemente subordinados, o pagamento de juros ser discricionário e o reembolso total estar condicionado ao desempenho dos rácios de capital.

A agência de notação diz que este diferencial de três níveis entre o rating dos títulos e o do banco reflete «o potencial de perdas mais elevado face à divida sénior e o risco superior de mau desempenho».

Esta emissão de 500 milhões de euros em dívida perpétua faz parte do plano de recapitalização do banco do Estado, que pressupõe uma injecção de 2,5 mil milhões de euros em fundos públicos. Ainda assim, a agência de notação diz que após esta operação o banco público ficará com um rácio de capital de CET 1 de 12% numa base consolidada, o que «representa uma almofada» para que a conversão dos títulos em ações nunca seja acionado.

O lançamento desta operação foi anunciado na quinta-feira e foi revelado que o Barclays, o Caixa – Banco de Investimento, o Citi, o Deutsche Bank e o JPMorgan foram mandatados para organizar o roadshow com investidores a 20 de março. Aliás, para promover esta emissão, a CGD vai realizar um roadshow em Paris e Londres na próxima semana que vai contar com a presença de Paulo Macedo e o CFO José Brito.

O facto de as obrigações a emitir pela Caixa se destinarem exclusivamente a investidores institucionais foi uma das razões que levou a instituição a fazer a colocação a partir do Luxemburgo, bolsa onde os títulos poderão depois ser transacionados e em que negoceiam a generalidade dos fundos de investimento, «hedge funds», fundos de pensões e seguradoras a que se destina esta emissão.

Além disso, a Caixa já recorreu ao mercado luxemburguês no âmbito do seu programa de emissão de dívida de médio prazo, tendo diversas emissões de obrigações com títulos admitidos à cotação no Luxemburgo.

Encerramentos no litoral

A instituição financeira já decidiu quais os primeiros 70 dos 180 balcões que tenciona encerrar até ao ano 2020. Até ao final do mês, deverão encerrar os primeiros 57 balcões e, até ao fim do ano, mais 13, mas estas datas poderão ainda sofrer alguns ajustes. Na região Sul fecham 19 balcões, em Lisboa são 20, no Centro 15 e no Norte 16. No caso da região Sul e Ilhas, há três casos em que a CGD ainda tem dúvidas: Lajes do Pico, Marvão e Golegã.

Face a este plano, o BE já requereu a audição urgente do ministro das Finanças no parlamento para explicar o processo de reestruturação da Caixa, nomeadamente sobre o encerramento de balcões e redução do número de trabalhadores.

Apesar de não excluir a possibilidade de uma análise e revisão da sua rede de balcões, Mariana Mortágua considera que a CGD tem obrigação de estar onde o privado não chega. Já esta semana o sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas tinha criticado o fecho das agências sem ter em conta o interesse das populações.