Equador a regressar à normalidade

A operação militar para resgatar na quinta-feira à noite o presidente equatoriano Rafael Correa de um hospital cercado por polícias rebeldes fez dois mortos e 37 feridos, declarou um porta-voz da Cruz Vermelha, Fernando Gandarillas.

«dois polícias morreram após terem sido transferidos para o hospital», declarou gandarillas.

a mesma fonte acrescentou que outras 37 pessoas ficaram feridas nas trocas de tiros entre forças fiéis ao governo e os agentes rebeldes, que protestavam contra uma lei que suprimia alguns dos seus prémios.

entretanto, o presidente equatoriano rafael correa já abandonou, sob protecção do exército, o hospital onde esteve retido por polícias, no meio de uma troca de tiros entre polícias e militares, revelou o vice-ministro do interior, edwin jarrin.

«conseguimos sair, conseguimos sair», declarou por telefone o vice-ministro, cerca das 22h30 locais (4h30 de hoje em lisboa).

o vice-ministro estava ao lado de rafael correa quando o chefe de estado abandonou o hospital onde vários polícias o retiveram durante o dia.

o chefe da polícia equatoriana, o general freddy martinez, demitiu-se das suas funções após a rebelião de agentes das forças da ordem que sequestraram durante doze horas o presidente rafael correa, indicou hoje um porta-voz da polícia.

«o general martinez acabou de apresentar a sua demissão», declarou o porta-voz, que pediu o anonimato.

o antigo responsável da polícia vai apresentar os motivos da sua decisão numa conferência de imprensa prevista para as próximas horas, acrescentou.

o presidente do equador, rafael correa, assegurou que os polícias em conflito com o seu governo procuraram assassiná-lo no hospital onde esteve sequestrado na quinta-feira, sendo resgatado graças a eficácia do trabalho das forças leais.

correa agradeceu particularmente ao grupo de operações especiais (goe) da polícia «que foi muito leal e protegeu as instalações do hospital da polícia».

«sem isso, esta horda de selvagens que queria matar, que queria sangue, teria entrado no hospital para procurar o presidente e eu não estaria aqui para vos contar porque já teria passado para outro mundo», declarou o chefe do estado, desde o palácio presidencial.

depois dos incidentes, as reacções não se fizeram esperam. a oposição venezuelana mostrou-se preocupada pela situação de violência no equador, instando os equatorianos a submeter-se às regras democráticas.

«a mesa de unidade democrática (aliança e opositora) manifesta a sua preocupação pelos factos de 30 de setembro no equador e faz votos para que se restabeleça quanto antes a estabilidade política e constitucional nesta república irmã», disse o porta-voz opositor ramón josé medina.

em nome da aliança opositora, aquele responsável condenou o uso «vias de facto» como forma de solucionar os conflitos e instou a defender os princípios democráticos a todo nível.

também o presidente socialista da bolívia evo morales, aliado do equatoriano rafael correa, acusou «a direita equatoriana, apoiada pelos estados unidos», de estar por trás de uma tentativa de golpe de estado no equador.

«sabíamos antecipadamente: como sempre os adversários políticos da américa latina, aliados ao governo dos estados unidos, querem acabar prematuramente com os mandatos», declarou morales à imprensa no palácio presidencial.

«quando não conseguem por referendo, (tentam) com um golpe de estado», acrescentou, referindo-se à iniciativa realizada este ano no equador para obter uma revogação do mandato do presidente correa.

já o líder comunista cubano fidel castro considerou que «a tentativa de golpe de estado» contra o presidente socialista equatoriano rafael correa «falhou», numa carta tornada pública pelos meios de comunicação social cubanos.

«o presidente rafael correa mostra-se firme e intratável. o povo está muito melhor organizado. o golpe de estado militar, segundo a minha opinião, já falhou», escreveu o antigo presidente cubano, 84 anos, no site de internet cubadebate.cu.

castro considerou que após as vigorosas condenações manifestadas pelos líderes latino-americanos, pela organização dos estados americanos (oea), reunida de urgência em washington, «incluído» a representante dos estados unidos, «não tiveram outra escolha» senão condenar a tentativa de golpe de estado.

o presidente colombiano juan manuel santos anunciara o encerramento das fronteiras com o equador, como aconteceu antes com o peru, devido «à tentativa de golpe de estado» de uma parte da polícia e do exército equatorianos.

«desejamos condenar de forma enérgica, clara e inequívoca a tentativa de golpe de estado em curso no equador e garantir todo o nosso apoio ao presidente correa, que foi eleito presidente pelo povo equatoriano», declarou santos, antes da sua partida para uma cimeira sul-americana organizada de urgência em buenos aires.

a colômbia e o equador partilham uma fronteira com 600 km de extensão.

o secretário-geral da onu, ban ki-moon, declarou-se «muito inquieto» com a situação no equador e manifestou «o seu apoio» ao governo eleito, depois do presidente equatoriano rafael correa ter denunciado «uma tentativa de golpe de estado» no país.

«o secretário-geral está também inquieto com a situação física» do presidente correa, acrescentou um porta-voz de ban ki-moon.

ban ki-moon «apela a todos os intervenientes que intensifiquem os seus esforços para resolver a crise actual de maneira pacífica, no respeito da lei», acrescentou.

lusa / sol