intitulada ‘terra do faz-de-conta’, a biblioteca onde os livros estão organizados de forma a cada tema corresponder a uma cor transformou-se, no final deste ano lectivo, «numa biblioteca para todos, através de um sistema que permite aos daltónicos encontrarem autonomamente os livros que procuram», afirmou à lusa o mentor do projecto, sílvio maltez.
a biblioteca, que dispõe de centenas de recursos em diferentes tipos de suporte (livros, cd-rom, cd-áudio, dvd, vídeos), organizava o espólio de acordo com a cdu (classificação decimal universal), com as obras agrupadas por assuntos e associando uma cor a cada tema.
«não conseguindo os daltónicos distinguir as cores, esses alunos viam reduzida a sua autonomia, precisando de ajuda para encontrar os livros que procuravam», explicou o professor bibliotecário, natural da nazaré e responsável pela biblioteca escolar há seis anos.
a dificuldade levou o professor a adoptar o sistema coloradd, criado pelo designer português miguel neiva, e que permite identificar a cor através de um código gráfico, replicando o conceito a partir das cores primárias e nos tons branco e preto.
depois de duas semanas de trabalho intensivo, prateleiras e livros, passaram a contar com «uma etiqueta com um símbolo correspondente a cada cor», através da qual «os alunos daltónicos autonomamente encontram aquilo que procuram como qualquer outro aluno», precisou.
a mudança entrou em vigor a 25 de maio, num dia dedicado «às leituras inclusivas», durante o qual os alunos foram surpreendidos com a visita de dois alunos invisuais, que fizeram a leitura de livros em braille, e a divulgação, em primeira mão, do livro digital ‘a biblioteca coloradd – uma história inclusiva’.
o conto original, da autoria de sílvio maltez e com prefácio de miguel neiva, o criador do código de identificação de cores coloradd, conta já com o apoio institucional do ministério da educação e da rede de bibliotecas escolares e deverá em breve ser editado em papel.
o exemplo da eb1 n.º2 de mem martins já suscitou o interesse de «duas outras escolas do concelho, que solicitaram a disponibilização dos símbolos para aplicarem nas suas próprias bibliotecas», afirmou silvo maltez, sublinhando a importância de alargar «este método inclusivo».
a simples colocação dos símbolos gráficos que caracterizam este sistema «permitirá a possíveis alunos daltónicos, uma mais fácil integração social na biblioteca escolar» e «a minimização do sentimento de perda gerada pela deficiência, com o consequente aumento de bem-estar e autoconfiança», reforça.
o sistema, que já estava a ser usado em instituições como o metro do porto ou a fundação champalimaud, foi igualmente aplicado pela viarco em colecções de lápis de cor ostentando os respectivos símbolos e algumas «marcas de vestuário estão igualmente a usar símbolos nas etiquetas, facilitando aos daltónicos escolher sem ajuda as suas combinações de roupa», adiantou o professor.
lusa/sol