Falhas a mais obrigam a contratar 340 tripulantes

Falta de tripulantes e braço de ferro entre sindicato e empresa têm trazido várias consequências. Muitos voos não têm refeições a bordo e já houve uma ligação cancelada. 

Em abril deste ano nascia a promessa de voar pela TAP com direito a refeições assinadas por seis estrelas Michelin: Henrique Sá Pessoa, José Avillez, Miguel Laffan, Rui Paula, Rui Silvestre e Vítor Sobral. Melhor, de acordo com a companhia, era indiferente a classe ou o destino. Todos passavam, a partir de setembro, a poder «provar as estrelas» que simbolizam o melhor do gastronomia nacional. No entanto, há muito mais a dizer atualmente sobre a comida a bordo. A promessa era uma experiência gourmet, mas o que os últimos meses trouxeram foi uma série de queixas relacionadas com o que tem sido servido, ou não, em vários voos da companhia. 

Recentemente foram feitas alterações na Cateringpor, empresa do grupo TAP responsável pelo fabrico das refeições servidas a bordo, sem que seja esse o motivo que leva ao facto de não serem servidas refeições em alguns dos voos. A última alteração feita foi ao nível da liderança com Abílio Martins, que foi quadro da PT durante cerca de 18 anos, a passar para CEO da empresa do grupo. No entanto, o facto de haver uma nova figura no comando da empresa parece não estar relacionada com a situação que tem valido várias críticas à companhia aérea nacional.

Fonte ligada ao grupo explica ao SOL que «a empresa de catering apenas faz as refeições. Os problemas que têm surgido estão relacionados, sobretudo, com o pessoal de cabine».

A verdade é que o pico de tráfego trouxe um velho fantasma: os serviços mínimos de segurança. Desde julho deste ano que pagar um bilhete de avião com refeição incluída não é sinónimo de que seja servida comida no voo. As queixas multiplicaram-se, com cada vez mais passageiros a viajar sem refeições. 

O que tem estado em questão é uma velha batalha que tem por base o acordo de empresa entre a TAP e os tripulantes a bordo. Por regra, sempre que o avião segue com menos tripulantes do que o previsto, cabe ao chefe de cabine decidir se é feito o habitual serviço a bordo. Na prática significa que o voo segue para o seu destino, mas podem não haver nem vendas nem refeições, independentemente do número de horas que a viagem possa durar. 

Apesar de se ter feito sentir mais nos últimos meses, esta situação não é nova e tem vindo a repetir-se nos últimos anos. No fundo, falamos de um braço de ferro entre a TAP e o sindicato nacional do pessoal de voo da aviação civil que parece não ter fim à vista. Para este sindicato, cabe à empresa assegurar o número de tripulantes necessários para que o trabalho seja feito sem comprometer o descanso previsto no calendário de viagens. 
O problema tem sido mais grave nas alturas em que há reforço de rotas porque seguem menos elementos do que seria o desejável. Basta, muitas vezes, o voo seguir com menos um elemento para que exista apenas o serviço mínimo.  

O SOL tentou entrar em contacto com o SNPVAC e, apesar de não ter tido sucesso até ao fecho desta edição, sabe que a situação vai continuar caso a empresa não consiga chegar a um acordo. A verdade  é que há quatro anos a TAP chegou mesmo a ser forçada a oferecer vouchers refeição antes dos voos. Foram ainda feitos upgrades de milhas aos clientes frequentes, assim como compensações monetárias, consoante o tipo de serviço que o passageiro provava ter direito. 

Com as queixas a acumularem-se, principalmente nos canais online, a TAP tem estado a tentar resolver a situação o mais rapidamente possível. Há poucos dias foi enviada uma carta aos tripulantes da companhia aérea nacional a dar conta que a situação tem de ser resolvida com urgência. Assinada por Fernando Pinto, a carta, a que o SOL teve acesso, começa por destacar que «o elevado número de voos que tem descolado, diariamente, com tripulação mínima não tem passado despercebido a ninguém na empresa. Tenho tido oportunidade de conversar com muitos de vós e tenho conhecimento que a maioria se sente extremamente desconfortável por não fazer o serviço, principalmente em classe executiva».

Com a certeza de que muitos clientes podem deixar de voar pela TAP por causa deste tipo de situação, o presidente da companhia admite que há urgência na resolução e promete uma data: «Quero deixar-vos a garantia pessoal que estamos a trabalhar na solução permanente deste problema e que até novembro este ficará definitivamente resolvido».
Fernando Pinto afirma, no documento, que a transportadora aérea nacional está, desde maio, em processo de contratação «acelerada» e garante que, «no curto prazo, teremos admitido um total de cerca de 340 tripulantes de cabina».

Com a possibilidade de perder clientes para outras companhias, a empresa elaborou um plano que deverá funcionar até novembro, data em que a TAP prevê ter a situação completamente resolvida. 

Do conjunto «de ações intermédias» fazem parte quatro pontos. No primeiro, a companhia estipula que, para dar opção aos tripulantes que pretendam oferecer o serviço na classe executiva, foi definido que, desde 26 deste mês, «o serviço de executiva será carregado em todos os voos com tripulação mínima». Esta classe vai ainda manter o serviço Grab&Go e «passará a ter também uma caixa diferenciada. Caso exista serviço a bordo, a caixa da executiva constituirá um complemento» para estes passageiros. 

Num segundo ponto, Fernando Pinto explica que, em económica, as caixas Grab&GO «continuarão a ser colocadas nos assentos e as refeições não serão carregadas, para minimizar os desperdícios alimentares». 
Já o terceiro ponto do documento explica que, para evitar «reações adversas dos passageiros», deixam de ser oferecidos vouchers de compensação. Para terminar, é pedido aos tripulantes que executem o serviço de bebidas completo em todas as classes, mesmo que optem por não fazer o serviço na totalidade.    

«Estou confiante que o nosso objetivo comum é garantir o continuado crescimento da nossa companhia e a fidelização dos nossos passageiros. Até que a situação seja estabilizada, estou convencido que estas medidas irão diminuir o impacto deste momento complexo que nos afeta a todos», sublinha, para terminar, Fernando Pinto.

TAP formou 200 tripulantes

No início deste mês, a TAP já tinha formado 200 novos tripulantes de cabine. De forma a responder ao aumento do número de rotas, a companhia aérea nacional admitia que estava disponível para fazer novas contratações até ao final deste ano.

Em questão não está apenas o serviço que é prestado durante o voo. Já aconteceu, no início deste mês, mais de 200 passageiros ficarem em terra por falta de tripulantes. O voo em questão, que partiria pelas 17h00 com destino a Fortaleza, no Brasil, foi cancelado. A explicação dada pela companhia aérea falava de «razões operacionais». Em causa estava a falta de tripulantes.

Num curto comunicado, a TAP fez saber apenas que «o voo em causa foi cancelado devido a razões operacionais. Os passageiros serão protegidos através de outros voos para o Brasil com ligação ao destino final, um processo que já foi desencadeado».

Insatisfação leva a greve

Em março deste ano, o pessoal de voo ameaçava com uma greve. Na carta da direção do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, que apresentava um pré-aviso de greve de 18 de março a 18 de abril, as razões apresentadas eram: «A reiterada posição, por parte da TAP, relativamente à entrada em linha dos aviões A321 retrofitados,  querer fazer do AE tábua rasa, tentar destruturar carreiras profissionais e tentar obrigar a fazer-se serviço a bordo com tripulação mínima de segurança».