“Felicidade”

“A questão da felicidade é tão antiga quanto a própria humanidade”

Esta imagem não é tão simples como as anteriores, por conter outros elementos que nos levam a questionar o seu significado. O primeiro destes elementos é a imagem associada à palavra, que pode ser um simples boneco, mas, na minha perspetiva, se assemelha, antes, a um ponto de reciclagem de vidro, um «vidrão». O segundo elemento é a colocação das letras de forma sequencial não linear, mas em duas linhas. O terceiro elemento é o ponto de interrogação sobre a imagem, o que, naturalmente, levanta uma interrogação. Ou seja, esta imagem, de forma distinta das anteriores, não faz uma afirmação, mas, antes, coloca aos transeuntes uma questão, leva-os a interrogarem-se.

Talvez a minha leitura seja demasiado abusiva, e, como qualquer interpretação, reveste-se de uma grande dose de subjetividade, mas, mais do que questionar-nos sobre se a felicidade é possível ou sobre o que é a felicidade, parece-me que a imagem nos questiona sobre se a felicidade, com os seus altos e baixos, é reciclável. E será?

A primeira dúvida que surge começa, pois, pelas questões anteriores – o que é a felicidade? A felicidade é possível? Ora, não serei eu a contribuir com qualquer novidade para o tema. A questão da felicidade é tão antiga quanto a própria humanidade.

Para Tales de Mileto, filósofo grego, que viveu entre os séculos 7-6 a. C., é feliz “quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”; para Zoroastro, profeta iraniano que terá vivido num período entre os séculos 17 e 14 a. C., a felicidade era ter “Um lugar ao abrigo do fogo e dos animais ferozes, mulher, filhos e rebanhos de gado”; para o filósofo indiano Mahavira, a não-violência era um elemento fundamental para atingir a felicidade.

E esta lista de perspetivas, opiniões e reflexões poderia continuar interminavelmente. E isto porque o conceito de felicidade, que é comummente definido como uma sensação de bem-estar e contentamento, é altamente subjetivo, dado que os motivos do bem-estar de uma pessoa poderão ser muito diferentes dos motivos do contentamento de outra. Além de que a felicidade de uns contribui, muitas vezes, diretamente para a infelicidade de outros.

No entanto, partindo desta base consensual de o bem-estar fazer parte do significado de felicidade, poderemos afirmar que, como as letras grafitadas na parede, a felicidade é inconstante, tem “altos e baixos”, e não é uma sensação permanente, apesar de ser muito durável para algumas pessoas. Mas será reciclável? Tudo depende do que entendermos por reciclagem. No entanto, esta será, à partida, uma reutilização; será a capacidade de recuperar algo, dando-lhe nova “vida”. Assim, talvez a felicidade possa ser reciclável, no sentido em que vamos reciclando os motivos da nossa felicidade. Aquela boneca ou aquele jogo que nos fizeram felizes num Natal longínquo, aquela viagem que desejávamos muito fazer, aquele pôr do Sol que observámos do cimo de uma colina – todos estes momentos terão contribuído para a nossa felicidade em diferentes fases das nossas vidas. Mas, reciclámos os motivos ou a própria felicidade? O que nos fez felizes foi o que nos aconteceu no passado, ou é aquilo que desejamos para o futuro?

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services