HNA: o gigante chinês que vai entrar na TAP

O poder de decisão do grupo HNA na TAP está a ser passado a pente fino pela Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC).  Os chineses querem investir na companhia portuguesa através de um financiamento à Azul, de David Neeleman, que garantiu em Nova Iorque, EUA, que a entrada de 120 milhões no capital da TAP…

Mas o regulador continua com dúvidas sobre quem controla efetivamente a transportadora aérea e pretende escrutinar ao detalhe o financiamento de um dos grupos chineses que mais estão a investir fora do país asiático.

No processo que tem estado a ser analisado pela ANAC, tem sido discutido o poder das decisões do acionista norte-americano David Neeleman, já que  as normas europeias impedem que um não-europeu controle companhias aéreas do espaço comunitário. Ao que tudo indica, Bruxelas pretende limitar o poder do brasileiro na TAP, e a entrada dos chineses é um novo dado na equação.

As relações da HNA são recentes. Em novembro do ano passado, o grupo tornou-se o maior acionista individual da Azul, a companhia aérea brasileira de David Neeleman. O investimento de 450 milhões de dólares na transportadora, por uma participação de 23,7%, permitiu indicar um membro ao conselho de administração.

Em comunicado, o grupo fez saber que o negócio era de extrema importância por permitir o desenvolvimento de novas rotas e ligações em code share, um acordo de cooperação pelo qual uma companhia aérea transporta passageiros cujos bilhetes tenham sido emitidos por outra companhia.

A entrada de capital chinês aconteceu logo após a compra da portuguesa TAP por parte do consórcio Atlantic Gateway, de Humberto Pedrosa e David Neeleman.

Na TAP, os chineses terão entre 10% a 13%, através da Azul. "Como nós informámos, os chineses investiram na Azul [companhia aérea] e a Azul vai fazer o investimento na TAP. As ações que eles vão ter serão através do investimento da Azul na TAP", explicou David Neeleman.

Crescimento rápido

O grupo HNA foi criado em 1993 como uma companhia regional, mas bastaram duas décadas para transformar-se num conglomerado gigante. A companhia tem hoje negócios na aviação, na indústria e no turismo, entre outros.

Existem supermercados, bancos e agências de turismo controlados por este grupo chinês, que tem mais de 110 mil funcionários espalhados um pouco por todo o mundo.

O principal negócio da empresa é a aviação, sendo que o grupo opera diversas companhias aéreas: Hainan Airlines, Tianjin Airlines, Deer Jet, Lucky Air, Capital Airlines, West Air, Fuzhou Airlines, Urumqi Air, Yangtze River Express, MyCARGO, Africa World Airlines, entre outras.

Em 2014, a empresa conseguiu somar lucros na ordem dos 206 milhões de dólares, 26% mais do que em período homólogo.

Em 2015, a Hainan Airlines já era a maior transportadora aérea privada da China e a quarta maior em dimensão, com uma frota de 561 aviões. A companhia operava, nesta altura, mais de 630 rotas nacionais e internacionais para cerca de 210 cidades em todo o mundo.

No setor do turismo, o grupo opera inúmeros serviços financeiros e de comércio digital. A NHA é responsável por transportar anualmente cerca de 30 milhões de viajantes para a América, Ásia e Europa. No total, soma mais de 89 agências turismo e opera ainda o cruzeiro de luxo Henna, com 739 camarotes e uma capacidade máxima para 1695 passageiros.

Negócios diversificados

Também a hotelaria é uma das grandes apostas do grupo chinês que pretende agora investir na TAP. Com mais de 440 hotéis espalhados por todo o mundo, o HNA Hospitality é uma das maiores cadeias chinesas.

Só no mercado de luxo, o grupo conta com mais de 20 unidades de cinco estrelas a nível internacional. Além dos hotéis, o grupo está à frente de oito aeroportos que, no seu conjunto, em 2014, tiveram um fluxo de 31 milhões de passageiros.

Esta semana, o grupo tentou comprar mais um: o London City Airport, o mais central de Londres, Inglaterra. O grupo HNA ofereceu mais de 2,5 mil milhões de euros. No entanto, o negócio acabou por não se concretizar porque a corrida foi ganha por um consórcio canadiano, que pagou mais.

Em 2013, o grupo fez saber que uma das suas maiores apostas era a expansão. Prova da expressão do grupo é facto de ter conquistado, em 2015, um lugar na lista das 500 maiores empresas do mundo da Fortune.

Entre outros negócios, o grupo tem na Bélgica três hotéis de quatro estrelas e, na Turquia, controla a myTechnic, empresa responsável pela manutenção de aviões e aeroportos. Também na Suíça foi feita recentemente uma nova aposta. A HNA adquiriu o Swissport, maior provedor de serviços de carga no solo em todo o mundo. O investimento, de 2,7 mil milhões de francos suíços, permitiu o controlo de um negócio que opera serviços de carga em 270 aeroportos, em cerca de 50 países.

Chen Feng, presidente do grupo, é um dos homens mais ricos da China. O economista e fundador do grupo garantiu que um dos seus maiores objetivos é que a Hainan Airlines esteja no top 100 das companhias aéreas em 2020.

sofia.santos@sol.pt