Hooliganismo à portuguesa

O fenómeno da violência no desporto – e em particular no futebol – tem vindo a aumentar e pode ter um final lamentável. O que se viu há umas semanas no Porto – onde 100 adeptos varreram tudo o que lhes apareceu à frente – pode ser só a ponta de um icebergue.

a polícia sabe que os casuais, assim são conhecidos os adeptos que se ‘misturam’ com as claques identificadas, também existem no fcporto, benfica e belenenses e estão dispostos a deixar a sua marca em encontros futuros.

recuando um pouco no tempo, diga-se que estes casuais, ou casuals, ‘nasceram’ no estrangeiro e, como é notório, estão a criar raízes em portugal.

na década de 80, a inglaterra debateu-se com graves problemas de hooliganismo, que provocaram a morte de dezenas de espectadores.

os estádios eram frequentados por arruaceiros que espalhavam a miséria à sua volta. com a proibição dos clubes ingleses de participarem nas competições europeias durante uns anos, os responsáveis políticos, judiciais e policiais do país decidiram abrir guerra ao fenómeno da violência nos estádios.

o trabalho foi de tal ordem, com juízes a prenderem desordeiros ou a obrigá-los a, às horas dos jogos, apresentarem-se nas esquadras da sua residência, que hoje olhamos para as bancadas dos estádios do melhor campeonato do mundo e vemos netos, pais e avós a assistirem tranquilamente aos jogos. para que isso acontecesse foi preciso morrerem muitos adeptos.

em portugal, ainda estamos longe de tais cenários, mas se o poder político não obrigar as outras partes – clubes, polícias e magistrados, neste caso através de mudança legislativa – a fazerem o seu trabalho, não tardará muito até que se lamente a morte de algum adepto.

e para evitar tragédias, nada como tornar tudo bem claro. os clubes que ‘alberguem’ simpatizantes que são conhecidos por entrarem em rixas e até já foram condenados, devem ser castigados com penas bem duras – em casos extremos até com a perda de pontos ou a realização de jogos à porta fechada.

também a inspecção geral do ministério da administração interna deve fiscalizar os agentes envolvidos na segurança dos jogos e perceber se existem conivências com alguns dos desordeiros. fala-se à boca cheia que isso acontece com muita frequência em pelo menos um dos estádios.

por fim, espera-se que os juízes que lidam com estes casos saibam ‘impor’ castigos exemplares. a bem de quem quer ir ao futebol como se fosse a outro espectáculo qualquer.

vitor.rainho@sol.pt