Irlanda

De novo levado por deveres de ofício, escrevo hoje de Dublin. A crise tem sido grande e está na boca de todos com quem falo.

ainda nesta segunda-feira havia conversas de um novo corte de 5% nos salários da função pública. mas as pessoas estão confiantes de que o pior já passou; como alguém me disse, «as coisas começam a estar organizadas». ainda que modestamente, o produto já cresceu no ano passado e espera-se que cresça este ano.

mas o que me parece mais relevante para compreender o sentimento de esperança que detectei é o conhecimento partilhado de que as vantagens competitivas daquela que foi chamada de ‘tigre celta’ continuam intocadas e, uma vez mais, gerarão progresso. as dúvidas que existem em portugal sobre o ‘modelo de crescimento’ ou as angústias relativas ao ‘pós troika’ simplesmente não estão presentes.

a irlanda sabe que continuará a atrair investimento directo estrangeiro em sectores exportadores, e continuará a ter nela sediadas empresas globais nas áreas de saúde, da biotecnologia, do negócio digital ou dos serviços financeiros.

qual o segredo? não estou seguro! como em tudo, uma mistura de factores: o regime fiscal favorável, a língua inglesa, a educação da força de trabalho, a localização e a diáspora poderosa. mas também a certeza, há muito adquirida e partilhada, de que um país de cinco milhões não pode prosperar fechando-se, pois o mercado interno não tem dimensão para escalar operações e deste modo gerar valor que permita sustentar um nível de vida elevado.

a capacidade de sustentar exportações a uma fracção alta do pib é, pois, a referência fundamental para o sucesso das economias pequenas. não existem economias que sejam simultaneamente pequenas, fechadas e ricas! portugal é também disto um exemplo: prosperou (qual tigre ibérico) quando a seguir à guerra mundial se abriu; definhou quando na sequência da adesão à ue se fechou.