Maçons a caminho da união

«O PAÍS precisa da sua maçonaria. Universal e una»  e,  «como grão-mestre da maçonaria regular e reconhecida portuguesa, sei que é minha responsabilidade representar todos os maçons, independentemente do seu rito, crenças ou descrenças» . Foi assim que José Moreno revelou, quarta-feira, no seu discurso como orador convidado no American Club, que está em curso…

A ouvir as palavras e o desafio de José
Moreno, que lidera a GLLP, estava o grão-mestre do GOL, Fernando Lima. No
almoço-debate, aliás, ficaram os dois na mesma mesa.

Perante a revelação, houve quem na
assistência questionasse José Moreno sobre a futura
«fusão»
das maçonarias. _Depois de confirmar a
intenção – salientando que o seu discurso
«já dizia tudo»
– o líder dos maçons
regulares aproveitou para dizer, ironizando, que ainda não desistiu de
«levar João
Soares à missa»
.
Isto, porque o socialista, do GOL, afirmou recentemente que os verdadeiros
maçons não podem ser católicos. Por isso mesmo, nota um maçon, o grão-mestre
disse querer representar todas
«as crenças e descrenças»
.

Moreno afirmou ainda que
«Portugal é o
país com mais grão-mestres
per capita»
. E lembrou:
«Nos últimos cem anos, a maçonaria em
Portugal deixou-se condicionar pelos circunstancialismos da História.
Circunstancialismos ideológicos, políticos, profanos. Que dividiram quando
deviam unir»
. O líder dos regulares
avisou ainda que os maçons têm
«agora a oportunidade de fazer o que nunca foi
feito»
.

Ideia tem opositores 
no GOL

Segundo fontes maçónicas, a ideia de fusão
está a ser discutida entre as cúpulas das duas maçonarias.
«Se nos
juntarmos,  seremos mais de quatro mil»
, explica um maçon,
defendendo que o facto de a GLLP ter mais reconhecimento internacional deve
levar a que seja esta a incluir os irregulares.
«O GOL só é reconhecido em França e na
Bélgica (e aqui são apenas cem)»
, explica um ‘irmão’. Mas no seio do GOL o assunto
não é pacífico:
«Há maçons do GOL, especialmente os socialistas mais antigos, que não
gostam nada da ideia»
.

Aliás, o próprio Moreno admitiu no seu
discurso ter a noção de que há
«alguns que preferem não o reconhecer»
como representante de
uma maçonaria única.

Para que a fusão seja concretizada tem de
ser aprovada por maioria dentro das próprias obediências. No GOL, Fernando Lima
terá de levar a questão à assembleia-geral de maçons, mas certamente só o fará
caso tenha a certeza de que ganha.
«Se a maioria aprovar a junção, deixam de existir
duas maçonarias e passa a existir uma. Os que não quiserem ficam sem maçonaria»
, explica uma fonte.
Mas no GOL há também quem considere que as duas obediências se devem fundir
agora por os irregulares (que estão a perder muitos elementos para a GLLP)
ainda terem peso e uma
«boa margem de negociação»
.

 O
SOL
tentou obter um
comentário do grão-mestre do GOL ao discurso de José Moreno, mas sem sucesso.

Entre os maçons da GLLP, por seu lado,
salienta-se que a fusão tem de ser conduzida e realizada com o máximo cuidado e
rigor.
«Se for uma coisa
muito rápida e sem base de apoio forte, corre-se o risco de, pouco tempo depois
dessa fusão, haver uma cisão»
.

Mas se até agora a junção das duas
maçonarias parecia estar a ser preparada em segredo, este mês a ideia tornou-se
pública. Quatro dias antes desta intervenção no American Club, já José Moreno,
em  comunicação aos maçons regulares, numa
sessão da Grande Loja, no dia 17 de Março, anunciara que
«as diferenças de
ritos e de práticas»
das duas maçonarias
«não excedem geralmente a essência do que nos une»
. E havia revelado que
é preciso tornar a maçonaria
«universal»
em maçonaria
«una»
.

Juntos no OSCOT

A verdade é que nos últimos tempos os dois
grão-mestres têm mostrado que a relação entre os dois é
«excelente»
– como classificou o
próprio José Moreno  na quarta-feira.

E nos bastidores têm unido forças. Isso
mesmo ficou patente na lista única candidata ao Observatório de Segurança,
Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), eleita esta semana. Grande parte
dos membros pertence às duas maçonarias, sendo a presidência alternada. Começou
por ser dirigido por Rui Pereira, do GOL, passando depois para José Manuel
Anes, da GLLP, e agora regressou ao GOL, outra vez com Rui Pereira. Mas estava
inicialmente previsto que o lugar fosse para Oliveira Pereira, também do GOL,
mas com boas ligações à GLLP.

Outro dos sinais do processo de união é a reedição da
Revista da
Maçonaria
, que tem como editor Paulo Noguês (GLLP) e como presidente do
conselho editorial Fernando Sacramento (GOL). No primeiro número, em Novembro,
foram publicados textos de José Moreno e Fernando Lima.

catarina.guerreiro@sol.pt