Marisco autorizado na Ria Formosa

Duas zonas da Ria conseguiram voltar a comercializar bivalves. Desde Novembro era proibido o comércio de marisco nesta área protegida algarvia.

Na Ria Formosa, no Algarve, voltou a poder vender-se marisco. Isto ao fim de vários meses de interdição ou fortes limitações à comercialização de bivalves em todas as zonas de produção devido à presença de toxinas.

Agora, segundo adiantou ao SOL Manuel Augusto da Palha, da Cooperativa de Viveiristas da Ria Formosa, as autoridades deram luz verde aos bivalves em duas zonas de produção da Ria, desde que seja feita a depuração (eliminação da contaminação dos moluscos).

Estas duas áreas conseguiram deixar de ter a venda interdita (classificadas pelas autoridades como zonas C), passando a poder comercializar após a depuração (zonas B). Só as zonas classificadas como A são consideradas totalmente aptas. Neste momento, na Ria, concelho de Olhão, nenhuma das cinco zonas tem esta classificação máxima.

“A zona 2, que corresponde a Barrinha/ Marim e a 5, de Regueirão/ Culatra, passaram a categoria B, o que resultou das nossas negociações e das sucessivas análises, e representa uma grande vitória”, explica o responsável.

Mas para Manuel Palha nunca fez sentido que, em Novembro, a comercialização de bivalves tivesse sido interdita nas cinco zonas, nem que a situação se mantenha na zonas 1,3 e 4: “As nossas análises, feitas desde a reclassificação, sempre deram A ou B”.

Mas para o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), as zonas 1 (Regueira da Água Quente/ Alto da Farroba), a 3 (Fortaleza/Areais) e a 4 (Ilhote Negro/Garganta) têm de manter a classificação C e a consequente interdição.

A zona do Ilhote Negro/ Garganta é a mais problemática, devido às duas ETAR de Olhão que têm estado sob polémica – com a plataforma Cidadãos por Olhão a recordar que são as grandes responsáveis pela poluição da Ria Formosa.

Para pôr fim à proibição do comércio de marisco nesta zona, é preciso resolver este assunto. Além disso, é necessário avançar com dragagens na Ria, para abertura das barras e limpeza dos canais. Uma intervenção que será realizada no âmbito do Polis Ria Formosa, que permitirá uma melhor renovação da água, o que “resolve o problema da qualidade em 50%”, garante o autarca de Olhão, António Pina.

Boas e más notícias

Mas há boas notícias para os mariscadores do Algarve, que serão oficialmente cerca de 2.500, mais 7.500 “sem papéis”, segundo Manuel Augusto da Palha.

Tanto a zona 1 como a 4, que têm a venda interdita, irão “ser bastante reduzidas”, avança Manuel da Palha, acrescentando que as zonas 2 e 5 , onde o comércio é autorizado, verão a sua área aumentar “bastante”.

Se na Ria não há áreas com classificação máxima, a região vizinha, na zona Litoral, ao largo de Olhão, conseguiu e pode vender todos os bivalves, tendo apenas de depurar a conquilha.

Já na zona algarvia perto da fronteira com Espanha, e em quase toda a costa a Norte de Lisboa a apanha de bivalves está totalmente interdita. “Devido à presença de fitoplâncton produtor de toxinas marinhas ou de níveis de toxinas ou de contaminação microbiológica acima dos valores regulamentares estão reclassificadas temporariamente e/ou interditas temporariamente a apanha e captura, com vista à comercialização e consumo, as espécies de bivalves”, informa o IPMA.

Isto porque, explica fonte oficial do organismo, responsável por realizar as análises aos moluscos e publicar os resultados semanalmente, “as biotoxinas marinhas têm consequências graves para a saúde pública e não são passíveis de serem eliminadas por nenhum tratamento”. E é difícil determinar quando terminará a interdição. O fitoplâncton tóxico, explica aquela fonte, deve-se a “causas naturais pelo que é difícil determinar o momento em que desaparecem”. Além disso, os bivalves “contaminados, dependendo da concentração, podem levar semanas ou meses a eliminar as biotoxinas”.

sonia.balasteiro@sol.pt