Minions 2. A Ascensão de Gru. Quando os jovens querem “virar”personagens

Depois da sua estreia, no mês passado, muitos cinemas em todo o Reino Unido viram-se obrigados a proibir a compra de bilhetes para o novo filme dos “Minions” a todos aqueles que se apresentem vestidos a rigor, ou seja, de fato, tal como a personagem “Gru”. A decisão foi tomada após muitos desses fãs terem…

Em 2010, a Universal Studios e a Illumination Entertainment, lançaram um filme infantil, realizado por Pierre Coffin e Chris Renaud, que apaixonou tanto miúdos como graúdos, Gru o Maldisposto, um homem que “adora todas as coisas diabólicas”. No enredo do primeiro filme, o supervilão traça um plano para roubar a lua e, rodeado de um exército de pequenos ajudantes amarelos, trapalhões e pouco inteligentes – os Minions – e seu arsenal de armas e máquinas de guerra, prepara-se para destruir tudo aquilo que se atravessar no seu caminho. No entanto, este não esperava que o seu maior desafio fosse outro: três adoráveis órfãs que o querem ter como pai. 

Depois disso, e do fenómeno em torno dos seus pequenos ajudantes, as empresas de entretenimento decidiram dedicar-se à exploração da história dos pequenos personagens amarelos. O primeiro filme, com o nome dos pequenos ajudantes milenares, estreou em 2015 e foi um sucesso de bilheteira. Agora, com o segundo, apelidado Minions 2: A Ascensão de Gru, parece estar a acontecer a mesma coisa, já que, segundo o The Wall Street Journal, a produção teve a melhor estreia de um filme de animação desde 2019, conseguindo 202 milhões de dólares ao nível global, dos quais mais de 108 milhões só nos EUA. De acordo com a mesma publicação, nos mercados internacionais, o título gerou 93,7 milhões de dólares adicionais, “números que representam um sinal animador para os estúdios de Hollywood, numa altura ainda marcada pela incerteza relativamente à recuperação dos filmes familiares após a pandemia da covid-19”. Contudo, nem tudo é um “mar de rosas”. De acordo com o The Guardian, grupos de jovens têm causado “sérias” perturbações enquanto o filme é exibido. Os vários grupos em questão, têm-se dirigido ao cinema de fato para assistir ao filme, devido a uma nova tendência da rede social TikTok. 

No entanto, não é só o vestuário que é invulgar: de bananas na mão, os jovens acabam por causar “desordem” enquanto o filme é projetado e isso já levou alguns cinemas no Reino Unido a proibirem a sua entrada. 

 

#gentleminions Os adolescentes denominam-se “The Gentleminions” e filmam vídeos onde aparecem vestidos de fato a assistir ao filme. Não se sabe ao certo a origem desta tendência, mas nos vídeos sob a hashtag #gentleminions, os grupos “comemoram os cinco anos de espera” e aparecem a ver o filme nas salas de cinema enquanto copiam os gestos característicos da personagem principal, Gru, ou mesmo dos pequenos ajudantes amarelos, conhecidos por serem desordeiros e barulhentos. 

Alguns jovens levam também bananas para comerem durante as exibições, como referência à comida favorita dos pequenos personagens, atirando-as uns contra os outros. Noutros vídeos vemos ainda jovens a aplaudirem o filme de uma forma que se torna incomodativa durante a exibição. Por isso, explica o jornal britânico, no Reino Unido “já se começaram a impor restrições relativas à forma de vestir dos espetadores”: em Wadebridge, na Cornualha, por exemplo, um cinema independente proibiu que “qualquer criança desacompanhada assista ao filme se estiver a usar um fato”. Da mesma forma, num comunicado publicado no Twitter, o cinema The Regal escreveu: “Atualmente não permitimos que crianças desacompanhadas entrem de fato para assistir ao Minions 2: A Ascensão de Gru. Isto deve-se aos problemas que encontrámos nos últimos dias e ao comportamento associado a estes grupos”, lê-se na publicação. Por outro lado, um porta-voz dos cinemas da Odeon também fez questão de anunciar nas redes sociais que “devido a um pequeno número de incidentes nos nossos cinemas no fim de semana, a empresa teve de restringir o acesso ao filme em algumas circunstâncias”. 

Segundo a BBC, o único cinema de Guernsey, teve de “ir mais longe”, cancelando mesmo as exibições do filme e culpando precisamente “o comportamento inadmissível de alguns espetadores”, incluindo vandalismo e arremesso de objetos, nomeadamente “guerras de pipocas” nas salas, deixando-as “imundas”. O gerente do Mallard Cinema, Daniel Phillips-Smith, afirmou à agência britânica que os grupos chegaram mesmo a “abusar da equipa responsável pelo espaço” e que a decisão teve um impacto financeiro “massivo” para o cinema. “Simplesmente devido à quantidade de reembolsos que tivemos que dar, pois havia vários grupos grandes em quase todas as exibições”, explicou. Além disso, o responsável fez questão de frisar que “nunca teve de fazer isso com nenhum outro filme”. “Foi absolutamente de partir o coração, porque tivemos famílias que nem voltaram para as salas quando tentámos resolver o problema. As famílias saíram antes mesmo do filme começar e, claro, as crianças estavam em lágrimas”, adiantou ainda. No entanto, afirmou que o cinema “pode colocar o filme de volta às telas se for capaz de implementar medidas extras”.

Já a Universal Pictures, responsável pela produção do filme, acabou por incentivar a tendência #gentleminions no Twitter: “Para todos os Minions de fato: vemo-vos e amamo-vos”, escreveu a empresa de entretenimento

Uma análise necessária a estes comportamentos Segundo Bruno Reis, Sociólogo e Docente do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Autónoma de Lisboa, “o comportamento desviante adotado por alguns grupos de jovens ao assistirem no Reino Unido ao visionamento dos Minions 2, sugere uma reflexão mais profunda que a apressada condenação mediática a que assistimos”: “As manifestações juvenis verificadas devem merecer um olhar que permita perceber o sentido que desencadeou o comportamento destes jovens, que intencionalmente gravaram e o propagaram nas suas redes sociais”, explicou o especialista ao i. 

De acordo com o mesmo, os fenómenos juvenis de massas “têm vindo a apresentar desdobramentos performativos por parte dos jovens”, podendo este fenómeno ser entendido como “uma forma de dialogarem com os conteúdos e personagens pelos quais nutrem empatia”: “São manifestações expressivas que respondem a um dado sentido interpretativo, cada vez mais vinculados a configuração como constroem sentido de grupo, usando as redes sociodigitais como extensão da sua forma de estar e sentir”, afirmou. 

Para si, esta tendência parece estar fortemente relacionada com os estímulos propostos pelos recursos digitais mais populares entre os adolescentes. “Ferramentas como o TikTok, que valorizam a imagem e a representação coreográfica do estilo de vida, sugerem que as identidades juvenis se manifestem enfatizando de forma mimética as características das personagens/actores/ídolos com as quais se identificam”, sublinhou o também professor, alertando que será “interessante perceber as razões pelas quais os jovens valorizam personagens que subvertem os valores do politicamente correto, corporizadas por figuras como o Gru”. 

Segundo o sociólogo, “esta forma de expressão irreverente não traz nada de novo ao fenómeno das culturas juvenis, que por defeito incorporam sempre valores desafiante da ordem estabelecida”: “O que parece ser interessante perceber é a forma como estas manifestações típicas do quadro juvenil se configuram nos dias de hoje”, aponta, elucidando que a hipótese de trabalho que parece “mais plausível” é que “a manifestação de irreverência desta geração se formula na imediatez de se construírem como coletivo mostrando-se para os outros na arena que lhes é comum e na linguagem em que foram socializados, o digital como extensão da própria vida”. “O que parece sugerir que a construção de visibilidade de um dado sentimento juvenil que desafia as regras estabelecidas, está cada vez mais assente em processos de provocação que não incorporam dimensão crítica e sentido de reflexivo, este aspeto é o que importa estudar e perceber de forma cuidada antes de levianamente se criminalizarem os comportamentos destes adolescentes”, remata o especialista.

E parece que o fenómeno, apesar de já ter chegado a Portugal, ainda não causou problemas. Contactado pelo i, o Cinema City da Avenida de Roma admitiu que “desde a estreia do filme, que se deu a dia 30 de junho, dois grupos de jovens já apareceram vestidos de fato”. No entanto, “nenhum comportamento desviante foi observado”. “Só vieram assim vestidos. Não houve desordem, barulho, ou qualquer sinal de vandalismo. Por isso, parece-nos que não teremos de adotar as mesmas medidas que o Reino Unido”, explicou um representante. O i tentou contactar os Cinemas NOS do Colombo e Vasco da Gama e ainda o Cinema City do Campo Pequeno. Contudo, não obteve resposta. 

Minions 2: A Ascensão de Gru, conta a história da origem do vilão quando este tinha apenas 11 anos e lutava para entrar no negócio de supervilões.