Mortes…

Há uns bons anos acompanhei responsáveis da área da segurança de espectáculos de diversão nocturna e vi coisas que me assustaram.

Havia discotecas que tinham um autêntico arsenal de bebidas a tapar as portas de emergência – as grades das bebidas iam quase até à altura do tecto – ou, noutros casos, as referidas portas estavam trancadas por uma barra de ferro. Quando questionados sobre essa situação insólita, alguns empresários da noite responderam que não tinham outro sítio para guardar as bebidas ou que não ganhavam o suficiente para colocar um segurança nessa área para impedir alguém de sair sem pagar.

Em Portugal, que me lembre, aconteceram duas tragédias agravadas pela insuficiência de portas de emergência ou mesmo pelo bloqueio da porta principal de saída. O primeiro caso aconteceu em Amarante, em 1997, na boîte Mea culpa, e morreram 13 pessoas. Como ficou provado, o dono da boîte rival mandou regar com gasolina o Mea Culpa, tendo os mentores fechado todas as portas, provocando 13 mortes e alguns feridos graves. Os três executantes foram condenados a pena máxima e penso que dois deles acabaram por tirar um curso superior durante o período em que estiveram detidos. Em 2000, na discoteca Luanda, em Lisboa, alguém se lembrou de mandar gás mostarda para o interior da casa e acabaram por morrer sete pessoas. Creio que nunca foram encontrados os autores de tal crime.

Nos últimos dias chegou-nos a trágica notícia da cidade universitária de Santa Maria, no Estado brasileiro de Rio Grande do Sul, da morte de mais de 230 jovens que se encontravam no interior da discoteca Kiss. Tudo terá acontecido quando uns artistas habilidosos decidiram fazer um espectáculo pirotécnico no interior da discoteca que provocou um incêndio. Como o material de isolamento do espaço era altamente inflamável, o pânico instalou-se e mais de 200 jovens universitários perderam a vida. Antes de fugir, o dono da discoteca mandou destruir as câmaras de videovigilância, bem como os computadores que registavam o número de pessoas presentes. Alguns dos responsáveis já foram detidos.

Seria bom que em Portugal as autoridades aproveitassem esta trágica notícia para fazerem uma fiscalização às portas de emergência e aos materiais inflamáveis das salas de animação nocturna. A prevenção sempre foi o melhor remédio. l

vitor.rainho@sol.pt