Ohio sai de cena e apenas três estados vão a votos

O governador do Ohio, Mike DeWine, disse na segunda-feira à noite (madrugada de terça-feira em Portugal) que o Departamento de Saúde ia ordenar as assembleias de voto a não abrirem portas esta terça-feira, visando proteger os eleitores e os trabalhadores das referidas assembleias do surto da Covid-19.

Milhões de norte-americanos tensos devido à perspetiva de propagação do novo coronavírus deslocam-se esta terça-feira às urnas para votar nas primárias democratas entre o ex-vice-presidente Joe Biden e o senador independente Bernie Sanders. O Ohio pôs-se de fora destas primárias, horas antes de o ato eleitoral ter o tiro de partida.

O governador do Ohio, Mike DeWine, disse na segunda-feira à noite (madrugada de terça-feira em Portugal) que o Departamento de Saúde ia ordenar às assembleias de voto que não abrissem portas esta terça-feira, visando proteger os eleitores e os trabalhadores das referidas assembleias do surto da covid-19.

"Nesta altura em que enfrentamos uma crise de saúde pública sem precedentes, realizar uma eleição amanhã forçaria os trabalhadores das assembleias de voto e os eleitores a colocarem-se numa situação de risco de saúde, inaceitável, de contraírem o coronavírus", disse DeWine em comunicado.

A decisão do governador do Ohio, republicano, vem em desafio a uma ordem judicial que havia rejeitado uma tentativa de última hora por parte de DeWine para adiar as primárias até dia 2 de junho.

As eleições no estado ainda não foram desmarcadas, levantando-se questões sobre se os eleitores do estado terão a oportunidade de participar nas primárias com as assembleias de voto encerradas. Respondendo a essa questão, DeWine afirmou que o secretário de estado do Ohio ia pedir aos tribunais para "alargar as opções de voto".

"Enquanto as assembleias estarão encerradas amanhã [terça-feira], o secretário de estado, Frank Larose, irá procurar uma solução através dos tribunais para alargar as opções de voto, para que cada eleitor que queira votar tenha essa oportunidade", assegurou o governador.

A ordem sem precedentes do governante – de encerrar as assembleias porque a tentativa de adiar as primárias nos tribunais falhou – está a causar alguma apreensão. "O que acho mais confuso é se o governador quer cancelar as eleições ou não", disse ao Politico Rick Hasen, professor de lei eleitoral na Universidade da Califórnia-Irvine. "Dizer que se vão encerrar as assembleias não é a mesma coisa que adiar a eleição".

A decisão de DeWine contrasta com os restantes três estados com primárias marcadas para esta terça-feira: Arizona, Florida e Illinois. Todos estes quatro estados (incluindo o Ohio) declararam o estado de emergência em resposta ao surto.
Embora exista o medo evidente de se contrair o vírus nas assembleias, o governador do Arizona, Doug Ducey, declarou que o estado e os responsáveis do Partido Democrata estavam de acordo que as primárias tinham de prosseguir o seu caminho.

"Não temos nenhuma garantia de que haverá um tempo, no futuro, mais seguro do que amanhã", notou Ducey na segunda-feira. "A democracia tem de continuar". O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que a decisão de adiar as primárias cabe a cada estado, mas acrescentou: "Acho que adiar é desnecessário".

O Ohio foi o último estado – e o maior – a adiar as primárias devido ao pânico provocado pelo novo coronavírus, que já vitimou mais de 80 pessoas nos Estados Unidos. Juntou-se à Geórgia, Luisiana e Kentucky. Nova Iorque também está a considerar adiar as eleições e o Wyoming suspendeu os caucuses e pediu aos eleitores para enviarem o seu voto por correio ou a deixá-lo nas assembleias, evitando grandes ajuntamentos.

Campanha a la coronavírus

O surto do novo coronavírus alterou drasticamente as campanhas de Bernie Sanders e Joe Biden. De comícios com milhares de pessoas a eventos online, de debates ao vivo com os tradicionais apupos ou palmas em apoio a debates sem audiência (como no domingo).

Os candidatos – Biden, de 77 anos, e Sanders, de 78, ambos incluídos nos grupos de risco – estão a tomar as devidas precauções. Lavam as mãos frequentemente, como afirmaram no último debate, e o seu staff de campanha está a trabalhar a partir de casa. Sanders, por exemplo, realizou um comício digital na segunda-feira à noite (madrugada de terça-feira em Portugal), com Neil Young, veterano músico de rock.

A cereja no topo do bolo das primárias desta terça-feira é a Florida, com 219 delegados em disputa. Mas os outros dois estados a irem a votos também têm uma parcela de delegados considerável: o Arizona conta com 67 delegados, e o Illinois com 155. Joe Biden, que aparenta ter o caminho aberto para ganhar a nomeação presidencial do Partido Democrata, está à frente nas sondagens nos três estados.

Mas Sanders ainda não parece querer deitar a toalha ao chão. Se não batalha por delegados, o senador do Vermont parece estar a tentar forçar Biden a fazer escolhas e a obrigá-lo a adotar políticas à esquerda. E conseguiu: o antigo senador do Delaware adotou parte do programa progressista de Sanders durante o debate, prometendo propinas grátis em universidades públicas para estudantes cujas famílias tenham um rendimento inferior a 125 mil dólares anuais.

"Quero que o senador [Sanders] continue na corrida", sublinhou Nina Turner, uma das diretoras nacionais da campanha de Sanders, numa entrevista na segunda-feira, traçando um paralelo com as últimas primárias, em que Hillary Clinton venceu a nomeação presidencial. "Acho que os eleitores têm direito a ter uma escolha. Isto não é uma coroação. Sabemos o que se passou na última vez: deu-nos Donald Trump".