Omicron “2” já está a circular em Portugal. Pode levar a reinfeções mas não parece mais severa

Detetada em dezembro na África do Sul, uma segunda linhagem da variante Omicron ganhou terreno nas últimas semanas e na Dinamarca representa agora metade dos novos casos no país. Em Portugal parece ter estabilizado, mas já pode representar mais de 10% dos casos. Não há sinais de que seja mais severa, mas pode prolongar vaga. 

Com a epidemia de covid-19 em fase crescente em Portugal, sinais de que uma segunda sub-linhagem da variante Omicron, detetada em dezembro na África do Sul mas que na altura não se espalhou da mesma forma, parece conseguir sobrepor-se à que se tornou dominante no final do ano passado estão agora a ser investigados.

Não há indícios de que represente maior severidade, mas uma das hipóteses colocada é se poderá causar reinfeções mesmo em quem teve covid-19 há pouco tempo com a variante BA.1 da Omicron em circulação, a que tem dominado a circulação de vírus nas últimas semanas na maioria dos países, incluindo em Portugal.

O cenário foi referido esta terça-feira pelo ministro da Saúde francês Olivier Véran, com base no que tem sido reportado na Dinamarca, onde esta variante representa agora 50% dos novos casos de covid-19 diagnosticados no país. A confirmar-se e a ser algo significativo, poderia prolongar a atual vaga de infeções.

Na Dinamarca, o Statens Serum Institute, que chamou a atenção na semana passada para o facto de esta variante representar já metade dos novos casos de covid-19 no país, explicou na altura que na realidade a BA.2 tem tantas diferenças genéticas da BA.1 como as que havia entre a variante original de covid-19 que se espalhou em março de 2020 e a Alpha, que viria a sobrepor-se em todo o globo a partir do Natal do primeiro ano da pandemia. Ainda assim, foi classificada como uma sub-linhagem da Omicron e o último país a colocá-la sob investigação foi o Reino Unido, já esta semana, depois de terem sido confirmados geneticamente cerca de 400 casos no país.

Na Dinamarca, o país que parece ir mais à frente na disseminação desta Omicron “2”, o facto de parecer ter capacidade de sobrepor à anterior e de prolongar a atual vaga de infeções que vive também no país com recordes de casos positivos diariamente não fez no entanto aumentar o alerta quanto a possível agravamento epidemiológico.

Ontem, ao final do dia, a imprensa dava conta de que o comité que faz o aconselhamento de epidemias no país terá recomendado ao Governo remover restrições a partir do final deste mês de janeiro. As autoridades de saúde dinamarquesas mudaram de resto já esta segunda-feira as regras de isolamento em caso de teste positivo, reduzindo-o para quatro dias caso a pessoa não tenham sintomas ao fim desse período. Contactos, mesmo alguém que viva com uma pessoa infetada, deixaram de ter de fazer isolamento profilático, devendo fazer um teste rápido de antigénio ao fim de três dias.

INSA monitoriza evolução No relatório semanal divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) sobre a diversidade genética do SARS-CoV-2 a circular em Portugal é explicado que a Omicron BA.1 se mantém dominante, mas desde a primeira semana de janeiro houve uma diminuição dos resultados de PCR com falha de gene S, o que indicia de que a BA.2 terá começado também a circular mais, tendo entretanto estabilizado.

Em causa estão os resultados da ferramenta que foi desenvolvida para monitorizar a Omicron em tempo real, como já tinha acontecido com a Alpha: tanto na primeira Omicron como na variante inglesa no ano passado há falha de um gene que pode ser sinalizada em alguns equipamentos que fazem testes PCR e foi a partir disso, de resultados positivos para esse sinal, que se foi calculando a progressão da Omicron no país – a sequenciação genética é feita a uma amostra semanal representativa do país mas que representa uma infíma parte dos casos de covid-19, mais diminuta quando se tem em conta que atualmente estão a ser diagnosticados mais de 300 mil casos de covid-19 em Portugal por semana.

Na BA.2, essa falha do gene S não está presente, pelo que agora a lógica é a inversa. O INSA refere uma diminuição de cerca de 12% na proporção de amostras positivas para a referida falha, que chegaram a constar em 93% dos resultados PCR analisados. Significa que a esta altura a Omicron original está a ser associada a cerca de 80% dos novos casos no país, estando a BA.2 algures no intervalo entre 10 e 20%. O INSA assinala no entanto que apesar de as análises genómicas da semana que acabou a 24 de janeiro ainda não terem sido feitos, os dados atuais “não ilustram um aumento acentuado e consistente da frequência relativa desta linhagem em Portugal, ao contrário do que se tem observado noutros países”. 

No Reino Unido, a expectativa é que a BA.2 possa tornar-se dominante, mas isso também não é dado como certo, e o país vai avançar esta semana com o alívio de restrições. Sobre o que esperar destas novas sub-linhagens, em parte ainda estão em investigação, pelo que existe sempre um grau de incerteza, mas provavelmente não serão as últimas.

Ao todo, são agora três as sub-linhagens da Omicron, além da BA.1 e BA.2 está ainda identificada a BA.3. Antes da Omicron substituir a Delta, foram identificadas cerca de 200 sub-linhagens desta variante, notou esta semana François Ballout, do Instituto de Genética do University College London.