Oran, a voz do Mediterrâneo

Têm início, hoje, os XIX Jogos do Mediterrâneo, uma espécie de olimpíadas para quem vive à beira deste mar, ou pelo menos não muito longe.

Doutorado em Ciências Políticas, Muhammed Taher Pasha, o presidente do Comité Olímpico do Egito, era um homem interessante com ideias interessantes. Depois dos Jogos Olímpicos de Londres, disputados em 1948, resolveu propor aos seus colegas de países banhados pelo Mediterrâneo que se avançasse para a organização de uma espécie de pequenas olimpíadas, disputadas precisamente nas margens do mar que já foi o Centro da Terra.

Com o apoio preciso do seu homólogo grego, Ioannis Ketseas, os Jogos do Mediterrâneo tiveram a sua primeira edição em 1951, no Egito, como não poderia deixar de ser. Hoje, em Oran, na Argélia, decorre a cerimónia de abertura da 19.ª edição da prova, algo que serve para comprovar que a ideia de Pasha tinha, afinal, pernas para andar.

Se a edição inaugural teve lugar no Egito (compreendendo 13 modalidades diversas e recebendo 734 atletas de 10 países), as edições seguintes foram distribuídas por 12 outros países – quatro de África: Egito (1951), Tunísia (1967, 2001), Argélia (1975) e Marrocos (1983); seis da Europa: Espanha (1955, 2005, 2018), Itália (1963, 1997, 2009), Turquia (1971, 2013), Jugoslávia (1979), Grécia (1991) e França (1993); e dois da Ásia: Líbano (1959) e Síria (1987). As primeiras 11 edições tiveram lugar sempre no ano anterior ao dos Jogos Olímpicos. A partir de 1993, optou-se por agendar os Jogos do Mediterrâneo para os anos a seguir aos Jogos Olímpicos.

Não se pense que se trata de uma competição clandestina, a despeito da pouco divulgação que vai tendo. Os Jogos do Mediterrâneo são, como dizer?, abençoados pelo Comité Olímpico Internacional que delegou no Comité Olímpico Grego a sua organização. E, assim sendo, a sede situa-se em Atenas, a despeito de quem for o presidente.

Por outro lado, têm sido muitos os países a quererem participar nos Jogos. Se a primeira edição teve 10 participantes, a última, em Tarragona, Espanha, 2018, já contou com 26, entre os quais Portugal que, a despeito de não ser banhado pelo Mediterrâneo em nenhum dos seus espaços territoriais, foi aceite sob um espírito de boa vizinhança.

A partir de hoje, em Oran

Oran, à qual os portugueses gostam de chamar Orão, é um dos locais mais turísticos da Argélia, segunda maior cidade do país, palco do célebre livro A Peste, de Albert Camus. A partir de hoje até 6 de julho, será o centro do desporto mediterrânico. 24 modalidades estarão em disputa, desde o Futebol ao Voleibol, do Ciclismo ao Judo, do Ténis ao Polo Aquático, do Atletismo à Natação e ao Basquetebol e por aí fora, e 3.390 atletas estão inscritos, o que dá bem ideia da magnitude do evento. Desses, 119 serão portugueses.

Mas não os únicos: viajaram também para a Argélia 73 oficiais e 13 árbitros/juízes, sinal que o Comité Olímpico Português leva a sério a sua participação. Vela, Tiro com Armas de Caça, Tiro com Arco, Tiro, Ténis de Mesa, Ténis, Polo Aquático (Sub-18), Petanca, Natação, Luta, Karaté, Judo, Ginástica Artística, Futebol (Sub-18), Esgrima, Ciclismo, Basquetebol (3×3, Sub-18), Badmington, Atletismo e Andebol Feminino são as provas que os portugueses vão disputar a partir de hoje. 

Até agora, e, todas as suas presenças, as delegações portuguesas orgulham-se de três medalhas de ouro conquistadas, além de oito de prata e 13 de bronze. Recorde-se, pelo caminho, que a estreia nacional na competição aconteceu apenas há quatro anos, em Tarragona, quando fomos finalmente recebido no seio do Comité dos Jogos do Mediterrâneo.

Entretanto, as medalhas ganhas foram distribuídas pelo Triatlo (2 de ouro) e Equitação (1 de ouro); Atletismo (2 de prata), Canoagem (2 duas de prata), Ciclismo, Natação, Remo e Taekwondo (1 de prata para cada); e Natação (3 de bronze), Judo (2 de bronze), Atletismo, Basquetebol 3×3, Canoagem, Ciclismo, Remo, Taekwondo, Ténis de Mesa e Tiro (1 de bronze para cada).

Sábado foi dia de cerimónias e apenas o Polo Aquático distraiu os atletas da festa de abertura. Depois, italianos (371 atletas), franceses (313), argelinos (324), turcos (322) e espanhóis (282) despertarão a maioria das atenções. Formam as delegações mais fortes e mais numerosas.