Perdidos

Extraordinário! Finalmente, Madrid reconhece que o seu destino está fatalmente ligado ao de Lisboa, Dublin ou Atenas.

facto: elena salgado, ministra das finanças espanhola, comentou: «já não se pode falar de um ou de outro país, mas da estabilidade do euro no seu conjunto». extraordinário! com um ano de atraso, finalmente madrid reconhece que o seu destino está fatalmente ligado ao de lisboa, dublin ou atenas.

facto: no mesmíssimo dia, umas horas mais tarde, durão barroso, em entrevista a fátima campos ferreira, insiste nas ladainhas de sempre – o problema português é português, como o dos gregos é grego e a união é quem está a salvar os que ‘viveram acima das suas possibilidades’. lástima e tragédia. a europa financeira abriu a semana a arder. no momento em que escrevo ainda não se conhecem os resultados dos testes de stress à banca. e o presidente da comissão europeia papagueia as ladainhas de sempre. depois de ter saído de mais uma reunião onde todos os importantes importantemente se desentenderam sobre o que fazer.

facto: ainda na mesma segunda-feira, o presidente do segundo banco alemão, o commerzbank, resumiu o ponto de vista dos banqueiros: não vale a pena insistir nos «resgates inúteis» e avance-se na reestruturação das dívidas. «a situação é tão grave que não fazer nada não é opção, também não há acordo sobre como abordar o problema e a infecção de itália e de espanha parece inevitável», acrescenta martin blessing. ele sabe do que fala. o stress sobre o comportamento dos bancos italianos começou ainda antes de serem conhecidos os resultados dos exames. eles sentenciam a semana.

facto: «todas as pistas se exploram porque compreendemos que as opções seguidas até agora não chegam», garante uma fonte de bruxelas ao le monde. e acrescenta: «a questão do incumprimento parcial continua a dividir os espíritos. certos países como a alemanha e a holanda não o receiam, outros como a frança têm dúvidas». para o ministro holandês das finanças jan kees de jager, a opção de um incumprimento «já não se encontra excluída». outros relatos das reuniões de segunda feira são mais explícitos ainda. o presidente do eurogrupo, jean claude juncker não hesita em assumir publicamente o seu conflito com jean claude trichet, o presidente ainda em exercício do banco central europeu, que continua a rejeitar qualquer reestruturação das dívidas soberanas.

conclusão: a cacofonia está ao rubro. sem rumo, há apenas navegação à vista e gritaria. semana negra, esta. a pergunta não é ‘e a economia’? muito menos há que insistir na austeridade e sua consequência, o desemprego. uma e outra são danos colaterais na operação de salvação da banca europeia a um passo do naufrágio. no meio de tudo isto, a polémica sobre a moody’s não passa de uma brincadeira de miúdos.