PME: 50% podem fechar

Quase metade das Pequenas e Médias Empresas (PME) portuguesas dizem estar em risco de fechar portas e 82% referem que sofrem de problemas de liquidez devido ao atraso no pagamento dos seus clientes.

mais do que a falta de acesso ao crédito, o não cumprimento de prazos por parte do estado, empresas e consumidores é hoje o maior problema das pme e está provocar danos crescentes como quebra de lucros, menores vendas e aumento do malparado junto da banca. em maio, 30% das pme nacionais tinham créditos em incumprimento com a banca, um máximo histórico.

segundo um estudo da intrum justitia, empresa líder na europa na gestão de créditos e cobranças, 45% das pme em portugal dizem que o atraso no pagamento dos seus clientes está a ameaçar a sua sobrevivência. esta percentagem tem aumentado nos últimos anos. em 2012, 40% das pme referiram que estavam em risco de fechar portas e, em 2011, apenas 35%. no estudo participaram 29 países europeus, mais a rússia e turquia

o atraso ou mesmo o não pagamento por parte do estado, outras empresas e consumidores, a sua ‘rede’ de clientes, é a principal ameaça a um sector que agrega mais de 95% do tecido empresarial português, acima da falta de concessão de crédito por parte da banca.

as pme nacionais são também as segundas mais afectadas em toda a europa por problemas de tesouraria devido ao atraso dos clientes, um problema que atinge 82% das companhias. pior, só a grécia, onde 96% das pme dizem sofrer do mesmo. a recessão da economia, a falta de crédito, a quebra nas vendas está a criar uma espiral de dificuldades que ainda não dá sinais de abrandamento. de acordo com o estudo, 85% das empresas portuguesas salientam que o risco dos seus devedores vai aumentar no futuro, sendo esperados novos atrasos e falências.

estado de emergência

portugal detém hoje o terceiro risco mais elevado da europa em termos de pagamento de clientes às pme com uma pontuação de 190 pontos numa escala de 100 a 200 pontos, segundo os critérios da intrum justitia. acima de 170 pontos, o nível de risco é considerado de emergência. neste clube do risco, portugal só está melhor que a grécia e a croácia. o país fica assim atrás de estados como a bulgária, turquia ou roménia.

os números do relatório provam ainda que em portugal se continua a pagar mal e tardiamente, o que cria uma cadeia de incumprimentos ao longo de toda a economia. por exemplo, o estado demora 133 dias a pagar sendo o pior pagador entre os clientes das pme. as empresas saldam as suas dívidas em 85 dias e os consumidores em 60 dias.

estes valores contrastam com o verificado no resto da europa. se em portugal, a administração pública demora mais de quatro meses a pagar, na europa, este processo leva menos de metade do tempo (60 dias). o estado irlandês, um dos resgatados pela troika, demora 41 dias e o turco pouco mais de 70. esta tendência é semelhante no perfil de pagamento dos clientes particulares e dos empresariais. por norma, os consumidores levam metade do tempo do estado a pagar às empresas, revela o estudo.

pessimistas com a banca

as pme portuguesas estão também cada vez mais pessimistas face ao estado e à banca. 85% adiantaram que o governo não está a fazer tudo para protegê-las contra os atrasos nos pagamentos e 86% estão pessimistas quanto à mudança de atitude da banca, nomeadamente na concessão de crédito ou alívio das condições de empréstimos. hoje, o estado português deve mais de 3 mil milhões de euros às empresas.

o relatório revela ainda que quando as pme nacionais estão ‘apertadas’ de dinheiro, optam primeiro por saldar as dívidas às empresas de utilities (água, gás e electricidade) e depois à administração pública (impostos, taxas e contribuições) apesar de este último ser o seu pior cliente em termos de prazos. na escala de prioridade seguem-se o fornecedor mais antigo e depois o nacional. os últimos a receber são os fornecedores que pressionam mais e logo a seguir os estrangeiros.

luis.goncalves@sol.pt